Cresce no mercado aposta por mudança na meta fiscal de 2024 ainda neste ano

Levantamento da XP mostra, no entanto, que maioria ainda espera que mudança ocorra na divulgação de Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas, em março

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa (PT), e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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Três em cada quatro agentes do mercado financeiro acreditam que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alterará a meta de resultado primário de 2024 em algum momento neste ano ou durante a própria execução orçamentária no ano seguinte. É o que aponta uma sondagem feita pela XP Investimentos com 81 investidores institucionais.

O levantamento mostra que subiu de 72% em setembro para atuais 75% o grupo de entrevistados que apostam no abandono da meta de zerar o déficit primário do ano que vem − objetivo hoje apontado nas peças orçamentárias em tramitação no Congresso Nacional, mas que vêm sendo alvo de especulações por mudanças no mundo político e dentro do próprio Poder Executivo.

A percepção de que a meta será alterada é maior entre economistas (82%) e menor entre gestores e traders (70%). As respostas foram coletadas entre os dias 27 e 31 de outubro − portanto, o período de campo capturou parcialmente a afirmação de Lula de que a meta de 2024 “não precisa ser zero” e a minimização dos impactos de um possível déficit de 0,25% ou 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

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A sondagem divulgada pela XP mostrou que, entre aqueles que responderam o questionário antes do episódio, as expectativas de alteração da meta corresponderam a 68% das interações. Já considerando apenas os que participaram do levantamento após as declarações do mandatário, as apostas em mudanças no objetivo de resultado primário foram 10 pontos percentuais maiores: 78%.

Quanto ao momento em que a possível alteração de meta deverá ocorrer, na opinião de quem aposta nisso, a maioria (39%) indica março de 2024, durante a divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias. Apesar de majoritário, o grupo caiu 14 p.p. em relação ao último levantamento, divulgado em setembro.

Na direção oposta, mais do que dobrou (de 16% para 33%) o grupo de investidores institucionais que acreditam que o abandono da meta de zerar o déficit no ano que vem ocorra até o fim de 2023, antes da votação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) por parte do Congresso Nacional.

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Neste caso, a alteração poderia ser feita a partir de mensagem presidencial encaminhada antes da apreciação do parecer do relator, o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) ou em acordo com o próprio parlamentar.

O restante dos especialistas de mercado consultados que acreditam em mudança da meta (28%) esperam que o movimento ocorra no segundo bimestre do ano que vem ou ainda depois disso.

Vale destacar, ainda, que, mesmo quem acredita que o objetivo de zerar o déficit não será alcançado pode apostar na manutenção da meta, uma vez que o novo arcabouço fiscal traz regras para situações em que a meta fiscal não é atingida.

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O texto estabelece que não configura infração à Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000) o descumprimento do limite inferior da meta de resultado primário, desde que o agente público tenha adotado as medidas de limitação de empenho e pagamento, preservado o nível mínimo de despesas discricionárias necessárias ao funcionamento regular da administração pública e não tenha ordenado ou autorizado medida em desacordo com vedações previstas na legislação.

Nesta hipótese, a exigência feita é que sejam realizados contingenciamentos para garantir a perseguição do objetivo estabelecido, respeitando limites para o funcionamento da máquina pública. Pela lei complementar que instituiu o novo arcabouço fiscal, o nível mínimo de despesas discricionárias é de 75% do valor autorizado na respectiva lei orçamentária anual – o que permitiria na prática a possibilidade de cortes entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões em 2024. Em qualquer situação, tal tesourada provocaria arrepios em Brasília. Num ano de eleições municipais, o risco muda de figura, e por isso é visto como politicamente mais custoso ao governo.

Outra consequência para esse caminho seria o acionamento de gatilhos fiscais, como o impedimento à criação de cargo, emprego ou função ou alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa. Também entram na lista de impeditivos à admissão e contratação de pessoal, à realização de concurso público, criação ou majoração de auxílios, vantagens, bônus, abonos, à criação de despesa obrigatória ou até a concessão ou ampliação de benefício tributário.

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O descumprimento da margem de 0,25 p.p. da meta também provocaria a redução do fator de correção das despesas públicas de 70% acima da inflação para 50%, respeitando a banda de 0,6% a 2,5% reais.

Metodologia

O levantamento faz parte de uma sondagem pré-Copom (Comitê de Política Monetária) feita a cada 45 dias pela XP Investimentos e divulgada sempre no dia em que o Banco Central decide o novo patamar da taxa básica de juros.

Desta vez, o questionário foi aplicado a 81 investidores institucionais entre os dias 27 e 31 de outubro. Do público respondente, 42% são economistas, 35% gestores de fundos e 19% traders. A maioria atua em gestoras (68%), bancos ou instituições financeiras privadas (23%) e consultorias econômicas (2%).

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.