CPMI das Fake News identifica 2 milhões de anúncios do governo em canais de “conteúdo inadequado” em 38 dias

Em nota, a Secom disse não patrocinar qualquer site ou blog e que verbas publicitárias são direcionadas por algoritmo de inteligência artificial do Google

Equipe InfoMoney

Jair Bolsonaro (Antonio CruzAgencia Brasil)

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SÃO PAULO – Um relatório produzido pela CPMI das Fake News identificou 2,065 milhões de anúncios pagos com verba da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) em sites, aplicativos de telefone celular e canais de YouTube que veiculam conteúdo considerado inadequado. As informações foram publicadas pelo site do jornal O Globo.

Segundo a reportagem, entre os veículos estão sites que divulgam notícias falsas, oferecem investimentos ilegais e até aplicativos com conteúdo pornográfico. O documento foi elaborado por consultores legislativos e divulgado na última terça-feira (2) e diz que, embora tenha solicitado por meio da Lei de Acesso à Informação informações do período entre janeiro e novembro de 2019, a Secom só forneceu dados entre 6 de junho e 13 de julho daquele ano.

Mesmo com as limitações, o relatório informa que foi possível identificar que parte dos anúncios pagos pela Secom foi parar em canais com conteúdo inadequado. Os consultores identificaram 843 canais considerados inapropriados.

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A verba utilizada no período foi direcionada para a campanha pela reforma da Previdência e se refere a recursos distribuídos por meio da plataforma Adwords e Adsense do Google, que direciona a publicidade de forma automática aos sites – embora seja possível bloquear tanto sites específicos como categorias de assuntos.

A classificação de sites que divulgam notícias falsas foi feita pelos próprios consultores legislativos. No topo da lista das páginas que mais receberam verba pública para divulgar a publicidade oficial no período informado está o site “Resultados Jogo do Bicho”, com 319.082 impressões.

Há também publicidade oficial em páginas de apoiadores de Bolsonaro. O relatório cita o canal “Bolsonaro TV” no YouTube – o que poderia gerar questionamentos jurídicos quanto ao princípio constitucional da impessoalidade. O site “Terça Livre”, do blogueiro Allan dos Santos também aparece. O relatório afirma que, durante oitiva na CPMI, o blogueiro afirmou que não recebia dinheiro público.

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“Como pudemos observar, houve descontrole do target (alvo) das ações publicitárias, o que redundou em desperdício de recursos públicos. Adicionalmente, o dinheiro da publicidade oficial terminou por ser empregado em diversos canais com conteúdo inadequado, fazendo com que a imagem do Governo Federal fosse veiculada em canais de baixa qualidade e associada a conteúdos falsos, criminosos, de cunho sexual ou referentes a promoção pessoal do presidente da República”, diz um trecho do documento.

Em nota, a Secom disse “repudiar” o que chamou de “matéria tendenciosa” publicada pelo jornal O Globo e afirmou não patrocinar qualquer site ou blog. A secretaria argumenta que “as verbas publicitárias são direcionadas pelo Google Adsense, que utiliza inteligência artificial e critérios próprios para distribuição de anúncios”.

“Ou seja, cabe à plataforma as explicações pertinentes sobre a ocorrência. Os veículos que constam na lista citada pela matéria foram selecionados pelo desempenho aferido pelo algoritmo do Google, e não pela Secom”, diz a nota.

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Já o Google afirmou, em nota enviada ao InfoMoney, que tem ajudado parceiros do setor privado e do setor público a usar a publicidade digital para levar suas mensagens a milhões de brasileiros de modo eficiente, com escala e alcance.

“Temos políticas contra conteúdo enganoso em nossas plataformas e trabalhamos para destacar conteúdo de fontes confiáveis. Agimos rapidamente quando identificamos ou recebemos denúncia de que um site ou vídeo viola nossas políticas”, disse.

“Entendemos que os anunciantes podem não desejar seus anúncios atrelados a determinados conteúdos, mesmo quando eles não violam nossas políticas, e nossas plataformas oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos”, completou.

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A empresa disse estar ciente do dinamismo do ecossistema digital e que, por isso, também trabalha no aperfeiçoamento de suas plataformas para oferecer os melhores resultados possíveis para seus parceiros. Segundo o Google, “preservar a confiança no ambiente de publicidade digital é uma prioridade”.

“Agimos diariamente para minimizar conteúdos que violam nossas políticas e impedir a ação de pessoas mal-intencionadas em nossa rede. Somente em 2019, conforme nosso mais recente relatório de transparência, encerramos mais de 1,2 milhão de contas de publishers e retiramos anúncios de mais de 21 milhões de páginas, que faziam parte de nossa rede, por violação de políticas”, concluiu a nota.