CPI das Apostas pede acesso a inquérito sobre contrato entre Corinthians e Vai de Bet

Segundo a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI, os documentos são "imprescindíveis para análise do caso que tem suspeitas de lavagem de dinheiro e desvios"

Fábio Matos

Vai de Bet foi patrocinadora do Corinthians (Foto: Hugo Rodrigues/Corinthians)
Vai de Bet foi patrocinadora do Corinthians (Foto: Hugo Rodrigues/Corinthians)

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As suspeitas de lavagem de dinheiro no contrato entre o Corinthians e a Vai de Bet, sua antiga patrocinadora, devem se tornar tema no Senado Federal. A CPI das Apostas pediu acesso às cópias do inquérito da Polícia Civil do Estado de São Paulo, que apura eventuais irregularidades. 

A solicitação foi apresentada pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI. 

O ofício foi expedido à Polícia Civil paulista na última sexta-feira (6). A CPI solicitou acesso aos relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e da própria investigação, além da cópia do inquérito, que tramita em segredo de Justiça.

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Segundo Thronicke, os documentos são “imprescindíveis para análise do caso que tem suspeitas de lavagem de dinheiro e desvios”. 

O pedido da CPI das Apostas foi encaminhado ao delegado Tiago Fernando Correia, da 3ª Delegacia do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) de São Paulo, que é o responsável pelas investigações. 

“A cópia integral do inquérito realizado pela Polícia Civil sobre transações ilícitas relacionadas a casas de apostas permitirá à CPI esclarecer os métodos utilizados para mascarar os recursos financeiros e identificar vínculos com outros agentes do mercado”, diz o ofício encaminhado pela CPI à polícia. 

“O relatório referente à investigação do contrato de patrocínio entre o Corinthians e a empresa Vai de Bet é indispensável para aprofundar a análise de um caso emblemático, que envolve suspeitas de lavagem de dinheiro e desvios, destacando as práticas fraudulentas no mercado de apostas e seus impactos no esporte”, afirma a comissão. 

Duas frentes de investigação

O inquérito sobre o contrato entre Corinthians e Vai de Bet tem duas frentes de investigação. A primeira está relacionada ao próprio vínculo firmado entre as partes, alvo de suspeitas de supostos desvios em nome de “laranjas”. 

A Polícia Civil investiga um repasse de R$ 1 milhão de uma intermediária do contrato para a Neoway, empresa que está em nome de uma moradora do município de Peruíbe (SP). 

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A outra linha de investigação tem como base relatórios elaborados pelo Coaf sobre transações envolvendo o empresário Fernando de Oliveira Lima, o “Fernandin OIG”. Ele já prestou depoimento à CPI e negou qualquer irregularidade.

Ao ser ouvido pelos senadores, o empresário negou ser o dono do chamado “Jogo do Tigrinho”, um dos que mais se popularizaram no país e cuja legalidade é questionada. Sua empresa, a OIG, é suspeita de facilitar operações de apostas on-line, o que estaria relacionado a possíveis práticas ilícitas e lavagem de dinheiro.  

Segundo as investigações, a empresa de Fernandin teria feito um depósito de R$ 1,7 milhão para a ACJ Plataform Comércio e Serviços, possível empresa de fachada. Esta companhia movimentado R$ 10,7 milhões entre novembro de 2023 e fevereiro de 2024. A ACJ fez um depósito de R$ 600 mil para a Neoway.

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De acordo com informações do portal Metrópoles, o delegado Tiago Fernando Correia pediu à Justiça autorização para compartilhar o inquérito. O aval depende de um parecer favorável do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

O que diz a OIG

À reportagem do InfoMoney, a assessoria jurídica do empresário Fernando Oliveira de Lima, CEO da OIG, afirmou que “não há qualquer tipo de relação societária ou de parceria da empresa e seu proprietário com o ‘Fortune Tiger’.

“A disponibilização do jogo em questão se dá por meio de relação estritamente comercial com a plataforma BetConstruct, empresa agregadora de centenas de jogos e que atende às exigências da atual legislação brasileira para operar esse e diversos outros jogos no país, além de possuir dezenas de licenças e certificados de operação em países europeus”, diz a nota.

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“Com relação a uma transação apontada em relatório do Coaf, que é meramente informativo e não faz juízo de ilegalidade, já foram apresentadas às autoridades todas as explicações solicitadas, inclusive a nota fiscal emitida pela prestadora ACJ Plataform referente ao serviço de suporte e aceleração de tráfego em plataformas e serviços de tecnologia da informação”, prossegue o texto.

“A prestação de serviço lícito, a emissão de nota fiscal e o pagamento realizado entre instituições financeiras autorizadas no Brasil, por si só afasta qualquer ilação de irregularidade, o que é corroborado pelo fato de que a OIG não é investigada ou foi indiciada nesta apuração”, diz o comunicado.

“A empresa de Fernadin OIG, dona das plataformas 7games.bet, R7.bet e betao.com, foi uma das primeiras a passar pelo rigoroso processo de análise do Ministério da Fazenda e ter a aprovação para o pagamento da outorga, no valor de R$ 30 milhões, realizado no dia 25 de novembro. A companhia tem atendido com exatidão todas as exigências do governo brasileiro para seguir operando no país, sob o novo marco regulatório, a partir de 1º de janeiro, ao tempo em que colabora ativamente no combate do jogo pirata e ilegal.”

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”