Corrupção? Quando se trata de políticos, todos são iguais neste quesito no Brasil, diz FT

Jornal britânico ressalta que, em meio aos escândalos de corrupção na Petrobras, a candidatura de Dilma foi pouco atingida

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Os eleitores brasileiros se importam se seus políticos são corruptos? Mais especificamente, eles se preocupam com escândalo político na Petrobras (PETR3;PETR4), que é um “tesouro nacional”, um símbolo do potencial e do talento brasileiro?

O jornal britânico Financial Times destaca que, se você acredita que as últimas pesquisas de opinião para as eleições mostrariam um reflexo disso, é melhor olhar de novo – e com bastante cuidado.

As histórias dos partidos políticos atuando em esquemas de corrupção para eleger empresas vencedoras de contratos da companhia estatal acontecem faz meses, afirma o jornal. As suspeitas, negadas até muito recentemente pelos envolvidos, são de que diretores da Petrobras estavam recebendo pagamentos e envolveriam o PT, entre outros partidos da base aliada como PP e PMDB. 

Muitos esperavam que as acusações causariam sérios danos à campanha de reeleição do petista Dilma Rousseff, presidente do Brasil e ex-presidente do conselho da Petrobras. Contudo, no período de pré-eleição em 5 de outubro, o escândalo apareceu e fez pouca diferença. Dilma manteve a maioria dos votos, embora não o suficiente para evitar um segundo turno em 26 de outubro contra Aécio Neves, do PSDB“, afirma o jornal. 

Na semana passada, no entanto, as alegações foram concretizadas, quando duas figuras acusadas de envolvimento no escândalo deram depoimento em audiência pública. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da estatal descreveu o esquema com detalhes: inclusive, que rotineiramente recebia 3% do valor dos grandes contratos de obras tais como refinarias e plataformas de petróleo. E qual seria o efeito político disso?

A primeira pesquisa de opinião após as audiências tinha sinalizado que houve um efeito político das escutas. A pesquisa feita pelo Sensus encomendada pela revista IstoÉ e publicada na noite de sábado colocou Aécio com 58,8% dos votos válidos e Dilma, com 41,2% – uma vantagem de mais de 17 pontos percentuais, sugerindo uma vitória esmagadora para Aécio. Mas uma pesquisa feita pelo Vox Populi publicada na segunda-feira colocou Dilma com 45%, enquanto Aécio tinha 44% – um empate técnico e uma pequena vantagem numérica para Dilma. 

O que dizer destes números? O Financial Times destaca que os institutos de pesquisa no Brasil são frequentemente acusados de parcialidade e, inocente ou não, as duas pesquisas desde as últimas revelações não são os seguidos mais de perto. Para isso, teremos de esperar o Datafolha e o Ibope, a serem lançados na quarta-feira à noite, afirma o jornal

“Mas, mesmo [os institutos Datafolha e Ibope] lutando para recuperar a credibilidade depois de terem falhado completamente para capturar a onda de apoio a Aécio na votação em 5 de outubro, a liderança sugerida pelo Sensus mostrou ressalvas”, afirma o jornal.

O FT destaca que isso os faz supor alguns pontos. “A conclusão mais provável é que os eleitores podem muito bem se importar com as denúncias – mas eles acham que isso não faz muita diferença. Afinal, arranjos políticos na Petrobras e em outros lugares, afinal, não foram inventados pelo PT. Os eleitores podem ter concluído que, quando se trata de políticos, eles são todos iguais neste quesito”. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.