Corrigir os erros de Dilma não é tão fácil quanto parece, diz FT sobre Marina

Após elogios com a oficialização da candidata do PSB, a imprensa externa passa a questionar o real efeito Marina se ela for eleita; the Economist destacou que há pouco substância no discurso dela

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após a entrada de Marina Silva na pesquisa presidencial, diversas publicações ressaltaram as perspectivas para um cenário de renovação total em 2015 caso a ex-senadora seja eleita. Se antes Dilma era franca favorita, a morte de Eduardo Campos (PSB), que tinha como vice Marina, mudou completamente o cenário. 

Bem mais conhecida do que o seu antigo companheiro de chapa, Marina balançou as eleições e foi elogiada logo que a sua oficialização saiu. Contudo, “passada a euforia”, os questionamentos começam a acontecer. O Financial Times por exemplo, questiona quais as chances de reformas reais com a eleição da candidata do PSB. 

“Os investidores parecem quase tontos de emoção. O pensamento deles é de que uma vitória da oposição significaria uma menor intervenção do estado, a reformulação de políticas que eram pontuais no caso de Dilma e a adoção de medidas mais favoráveis ao mercado, com reformas pró-crescimento que tanto economistas como investidores no País têm esperado por anos. Mas quanto do que eles esperam de um governo de Marina pode ser realisticamente feito?”

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Para o FT, seria quase certamente trazer uma mudança de abordagem. Os investidores se queixam de que Dilma enfraqueceu o tripé de política que fomentava a prosperidade recente do Brasil: a taxa de câmbio flutuante, metas de inflação e redução constante da dívida nacional. Marina prometeu desfazer esse dano. Ela também iria abandonar a política industrial vertical de Dilma, que concede favores a setores escolhidos e substituí-lo por uma reforma “horizontal”.

“No entanto, corrigir erros de Dilma não é tão fácil quanto parece”, afirma o blog do jornal, Beyond Brics. É o caso da Petrobras (PETR3;PETR4), a gigante estatal de petróleo, que tem sido usada como uma ferramenta de política com a venda de gasolina a preços subsidiados para manter a inflação sob controle. Liberar os preços seria atiçar a inflação, que já flerta com o teto da meta. E combater a inflação alta significaria a diminuição dos desequilíbrios estruturais do Brasil, com um Estado que absorve cerca de 40%, em troca de serviços públicos lamentáveis. Reformas trabalhistas e tributárias são necessárias. 

A publicação ressalta que Marina prometeu uma “nova política” para atravessar o mundo turbulento, mas Dilma tem sido rápida para atacá-la neste ponto, comparando-a a Jânio Quadros e a Fernando Collor.

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“A maioria se lembra de Collor em meio ao escândalo que levou à sua deposição. Mas ele também prometeu combater a corrupção, modernizar o Brasil e fazer política sem políticos. Muito antes de sua queda, dois anos na presidência, a palavra em Brasília era que, ao se recusar a jogar pelas regras do Congresso, ele havia se condenado a não sobreviver ao seu mandato de quatro anos”, destaca o jornal. 

Porém, o jornal alfineta Dilma, dizendo que ela poderia ter mencionado o seu próprio mentor, o presidente Lula, que prometeu em 2003 não fazer negócios com o Congresso, mas cujo governo ficou marcado pelo mensalão. 

Collor, mesmo com todos os seus pecados, era um fanático por reformas de modo a abrir a economia do Brasil para o mundo, afirma o FT, mas também tentou, de forma desastrada, diminuir a inflação.”Não foi nenhuma surpresa ele caiu e queimou”.

Outro “fanático” por reforma era Fernando Henrique Cardoso, que, como ministro trouxe de metas de inflação para o Brasil em 1994, o que o levou à presidência. Em seu primeiro mandato, ele enfrentou uma crise interna e uma série de crises internacionais (México, Ásia, Rússia, entre outros) para focar a mente dos congressistas. “Ele continuou a privatizar e modernizar a economia e fez alguns progressos na reforma dos sistemas de pensões públicas falidas”, afirmou o jornal. “Mas, mesmo apoiado por operadores políticos qualificados, sua administração logo também foi influenciada pelo ‘lamaçal’ do Congresso do Brasil. Seu segundo mandato foi desperdiçado com combate a incêndios políticos. A maior parte de sua agenda de reforma permaneceu inacabada”, destaca o jornal.

Que chance de reforma há com Marina então? Ouvido pelo jornal, o analista político da Eurasia Group, João Augusto de Castro Neves, destaca que, em qualquer um dos três cenários mais prováveis (com Dilma, Marina ou Aécio), qualquer agenda de reformas será difícil de se implementar, mas principalmente com Marina. “Ela quer ter um governo de minoria na melhor das hipóteses, ou contar com a mais brilhante de todas as partes”, afirma, destacando que as opiniões podem variar muito neste quadro e dificultar mudanças. 

O fato de existirem tantos partidos no Congresso do Brasil tornam as alianças complicadas, enquanto eles possuem poucas disciplina e ideologia. E, assim, aponta o jornal, nenhum dos candidatos na eleição do próximo mês – Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves – qualifica-se como um “reformista fanático. Seus governos diferem uns dos outros para serem melhores ou piores para o Brasil. Mas não espere reforma”, conclui.

The Economist também questiona
Em matéria destacada ontem em sua edição online, a revista The Economist também fez uma matéria crítica à Marina, defendendo que Marina tem que “fazer mais para provar que merece” o Palácio do Planalto. A Economist afirmou que “há pouca substância e muita conversa sonhadora sobre a ‘nova política'” no discurso da ex-senadora. 

“Marina Silva ainda tem de dizer mais sobre como exatamente uma pessoa relativamente estranha (outsider, em inglês) iria governar o Brasil. No momento, há muito pouca substância e muita conversa sonhadora sobre ‘nova política'”, diz o editorial.

“No final, os eleitores do Brasil têm de fazer uma escolha entre ficar entre a Rousseff sem brilho, o Aécio amigável aos negócios ou apostar na emocionante, mas obscura Marina Silva”.

Para a Economist, Marina precisa superar “duas preocupações”. “A primeira é a reputação de intransigência que tornaria difícil administrar o Brasil, onde o multipartidarismo é a norma”, diz o texto, ao lembrar que a candidata deixou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva por oposição em relação a algumas políticas ambientais.

“Sua fé pentecostal faz com que ela não seja liberal em algumas áreas”, completa o texto, ao citar a questão dos direitos civis dos homossexuais. A outra preocupação da Economist é a experiência.

“Dilma Rousseff já é presidente e Aécio Neves governou bem o estado de Minas Gerais durante anos. Há pontos de interrogação sobre o fracasso de Marina Silva em registrar seu próprio partido político a tempo da campanha presidencial”, cita o editorial. “Ela sabe pouco sobre economia.” 

(Com Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.