Confuso com as eleições? Confira o guia para operar com base no noticiário político

Como saber quando sairão as próximas pesquisas, quais os efeitos de cada uma delas e como a economia e a Copa pode afetar o resultado das eleições? Confira

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A Copa do Mundo acabou e, agora, o foco não mais só do mercado mas também de grande parte da população será um só: as eleições de 2014. Dentre os principais candidatos, estão a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. 

A disputa eleitoral está quente desde março, quando foram divulgadas as primeiras pesquisas eleitorais que guiaram o mercado, em meio à tendência de queda da popularidade e intenção de voto da presidente Dilma Rousseff. Desde então, os candidatos tiveram altos e baixos nestes quatro meses. Mas o que realmente significa uma alta ou uma queda da popularidade de Dilma? No que ficar de olho e como estar atento aos dados que serão divulgados e que podem sinalizar os novos acontecimentos na disputa eleitoral?

Para responder a essas perguntas, o InfoMoney montou com base no noticiário e em relatórios de bancos e corretoras um guia para operar com base no noticiário político. Confira no que se atentar:

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1. Como funcionam as pesquisas eleitorais?
Os institutos devem fazer o registro das pesquisas presidenciais no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até cinco dias antes de sua divulgação. O registro deve informar quem contratou a pesquisa, a metodologia utilizada e o período de realização, entre outros dados.

No caso do Datafolha, o instituto faz pesquisas eleitorais apenas para veículos de comunicação, e não para partidos, candidatos ou outras organizações. Já o Ibope, além de fazer levantamentos para o jornal O Estado de S. Paulo e as Organizações Globo, também realizou levantamento contratado pela UVESP (União dos Vereadores do Estado de São Paulo), por exemplo. 

A lei permite registrar uma pesquisa para divulgação depois de realizado o campo e conhecido o resultado. Conforme destaca a XP Investimentos, o procedimento pode abrir, eventualmente, a possibilidade de uso estratégico das pesquisas eleitorais como instrumentos de marketing político. No caso da Datafolha, esse procedimento não é utilizado.

Quanto à metodologia, os principais institutos aplicam os questionários nas casas dos entrevistados. Os principais institutos brasileiros não aceitam pesquisas por telefone. Já o Datafolha faz a abordagem nas ruas. A metodologia do Datafolha pratica a checagem simultânea dos questionários no momento das entrevistas e, posteriormente, por telefone. O método mais rápido, mas pode requerer um número maior de entrevistas.

A ordem das perguntas também distingue a forma como os entrevistados são abordados. Os principais institutos de pesquisa fazem perguntas introdutórias antes de perguntar a intenção de voto. É comum entre institutos fazer perguntas referentes ao grau de conhecimento sobre os candidatos citados nos formulários ou a aprovação no governo. 

2.  Onde é possível encontrar as datas para divulgação das pesquisas eleitorais?

Registro de Pesquisas: http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2014/pesquisas-eleitorais-eleicoes-2014

Divulgação dos resultados de todas as Pesquisas: http://www.eleicoes2014.com.br/pesquisas-eleitorais/

3. Quais serão as datas mais relevantes para as eleições? 

As datas mais relevantes podem ser encontradas  na íntegra através do calendário eleitoral 2014: http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2014/calendario-eleitoral#2_6_2014. Confira alguns dos principais eventos que podem ser determinantes para as eleições, segundo o HSBC:

29 de agosto: Divulgação dos dados sobre o crescimento do PIB no segundo trimestre de 2014. A equipe econômica do HSBC revisou recentemente para baixo sua projeção de crescimento para o PIB em 2014, passando de 1,7% para 1,1%, e manteve sua projeção para 2015 inalterada em 1,2%.

“Temos recomendado aos investidores que avaliem o risco de recessão no Brasil, ao acompanhar dois indicadores de alta frequência: confiança dos empresários e dados do estoque. Ambos apresentaram recentemente surpresas negativas”, avaliam os analistas. 

05 de outubro: Primeiro turno da corrida presidencial. A última pesquisa Datafolha sinalizou que a presidente tem 38% da preferência do eleitorado, ante 34% registrados na leitura de junho. Os candidatos da oposição também avançaram, porém em menor margem. O senador Aécio Neves, do PSDB, variou de 19% para 20%, enquanto o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, oscilou de 7% para 9%.   

26 de outubro: Segundo turno da corrida presidencial. De acordo com o Datafolha, a vantagem de Dilma contra Aécio voltou a cair: 7% em julho (46% a 39%), contra 8% em junho e 11% em maio. Frente a Eduardo Campos, Dilma tem um diferencial de 13 pontos percentuais, contra 15 pontos em junho e 17 pontos em maio.

4. Quanto tempo a candidata Dilma Rousseff tem na TV? 

Segue os tempos estimados de propaganda eleitoral gratuita para cada partido na TV, no primeiro turno. A presidente Dilma Rousseff não pode reclamar quando o assunto é tempo de exposição nas televisões e rádios durante o período de propaganda eleitoral, pois possui muito mais tempo do que os outros candidatos. 

Números preliminares do Tribunal Superior Eleitoral mostram que a petista tem pouco menos do que a soma de exposição de todos os seus 10 oponentes nas urnas. Enquanto a candidata à reeleição terá 11 minutos e 48 segundos, os seus 10 rivais, incluindo Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), terão 13 minutos e 7 segundos. 

Confira os partidos que apoiam cada um onze candidatos:

DILMA ROUSSEFF (PT)

PT (Partido dos Trabalhadores); PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro); PDT (Partido Democrático Trabalhista); PCdoB (Partido Comunista do Brasil); PP (Partido Popular); PR (Partido da República); PSD (Partido Social Democrático); PROS (Partido Republicano da Ordem Social) e PRB (Partido Republicano Brasileiro).

AÉCIO NEVES (PSDB)

PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira); DEM (Democratas); PTB (Partido Trabalhista Brasileiro); SD (Solidariedade); PMN (Partido da Mobilização Nacional); PTC (Partido Trabalhista Cristão); PTdoB (Partido Trabalhista do Brasil); PTN (Partido Trabalhista Nacional) e PEN (Partido Ecológico Nacional).

EDUARDO CAMPOS (PSB)

PSB (Partido Socialista Brasileiro); PPS (Partido Popular Socialista); PRP (Partido Republicano Progressista); PSL (Partido Social Liberal); PPL (Partido Pátria Livre) e PHS (Partido Humanista da Solidariedade).

PASTOR EVERALDO (PSC)

PSC (Partido Social Cristão)

EDUARDO JORGE (PV)

PV (Partido Verde)

LUCIANA GENRO (PSOL)

PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)

ZÉ MARIA (PSTU)

PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado)

MAURO IASI (PCB)

PCB (Partido Comunista Brasileiro)

LEVY FIDELIX (PRTB)

PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro)

JOSÉ MARIA EYMAEL (PSDC)

PSDC (Partido Social Democrata Cristão)

RUI COSTA PIMENTA (PCO)

PCO (Partido da Causa Operária)

5. Como a economia influencia o quadro eleitoral? 
Apesar de as pesquisas de aprovação do governo estarem indicando que os principais fatores de desaprovação do governo Dilma são saúde e educação, os modelos elaborados pela equipe de análise da XP Investimentos sinalizam que os fatores econômicos têm grande influência no comportamento da aprovação do governo, o que acaba batendo nas intenções de voto. 
“Pelos nossos modelos, o mercado de trabalho é a variável chave para explicar a aprovação do presidente. O nível de ocupação no mercado de trabalho e o comportamento do rendimento dos indivíduos descontada a taxa de inflação são as variáveis mais relevantes”.

Já a inflação acaba afetando a aprovação do presidente pelo seu efeito sobre o rendimento real, que é corroído com os altos preços. Tendo em vista a desaceleração do mercado de trabalho, com movimento ainda em curso pela avaliação da XP, com queda da taxa de ocupação (pessoas ocupadas em relação à população em idade ativa) e com o crescimento mais moderado do rendimento real, deveremos ter um pleito bastante competitivo, com eleição em dois turnos. 

6. A Copa do Mundo pode influenciar o resultado das eleições? 
A influência da recém-encerrada Copa do Mundo é um dos pontos principais para esse início de campanha dos candidatos à presidência. 

A XP ressalta que, tomando como referência os mundiais anteriores, não há uma correlação clara entre o desempenho da seleção brasileira na Copa e o quadro eleitoral. Aparentemente, os eleitores não misturam futebol e política. Sem contar que a distância temporal entre o fim dos jogos e o primeiro turno das eleições é razoável. Dois meses é meio é bastante no tempo da política. 

E o fato da Copa do Mundo ter ocorrido no Brasil também não altera a análise, ressalta a XP. Conforme ressaltou o sociólogo Alberto Almeida em sua coluna no Valor Econômico no dia 10 de junho: “em 1950, a Copa do Mundo na qual o Brasil foi derrotado em casa pelo Uruguai terminou em julho e a eleição ocorrida em três de outubro daquele ano levou Getúlio Vargas de volta à presidência em um resultado que favoreceu ao governo. O presidente que antecedeu Vargas foi Dutra, que foi apoiado por Vargas na eleição de 1945. A seleção foi derrotada em casa, mas o governo venceu as eleições. O único precedente, portanto, mostra que não houve conexão entre resultado no campo de futebol e resultado eleitoral.” 

Por outro lado, houve o efeito da goleada da Alemanha no Brasil por 7 a 1, que tem expectativa de ser repercutido nas próximas pesquisas eleitorais, caso do Datafolha, instituto Sensus e Ibope. Logo após a derrota brasileira, o Ibovespa subiu quase 2%; a expectativa é que a popularidade e as intenções de voto em Dilma Rousseff, que subiram no último Datafolha com a Copa sendo bem sucedida e os protestos se arrefecendo, voltem a cair. 

Porém, há algumas controvérsias sobre o assunto. “Como nossa ‘miséria’ na Copa afetaria o cenário eleitoral? Não está claro. Imaginava-se que alguma confusão pudesse prejudicar Dilma – mas a Copa correu sem tropeços. Também se esperava que um fracasso da seleção atingisse o humor do eleitor: não está claro ainda em que direção. Vejamos o que dirão as pesquisas eleitorais”, avalia a Guide Investimentos.

Para o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, o resultado do Brasil na Copa e o ambiente político podem ser relacionados, mas não diretamente e nem são determinantes para o cenário eleitoral. “Há algum tempo, o mercado vem sinalizando a queda de Dilma nas pesquisas, que levam à alta da Bolsa, e vice-versa. Com a alta do Ibovespa sendo determinada nos últimos meses pelos levantamentos eleitorais, o mercado manda um recado claro para a presidente que está insatisfeito com a condução da economia”, aponta.

Segundo Agostini, ninguém faz uma relação direta entre a derrota do Brasil na Copa e a presidente e, por isso, não há nenhuma comprovação empírica sobre se haverá realmente um efeito. Porém, os brasileiros devem voltar a recuperar o mau humor que havia no cenário antes da Copa, o que pode resgatar as reclamações sobre os altos gastos do evento em detrimento a investimentos em saúde e educação. “O mercado, obviamente, aproveita a oportunidade para relacionar os fatos”, avalia o economista. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.