Condições estão evoluindo para o impeachment de Bolsonaro, diz Carlos Melo

Entrevista de Moro lembrou a de Pedro Collor em 1992, disse cientista política e professor do Insper, em live realizada nesta sexta-feira

Lucas Bombana

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), em solenidade de Lançamento da Campanha do Projeto Anticrime. (Foto: Alan Santos/PR)

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SÃO PAULO – O tom adotado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro na coletiva em que anunciou sua saída do cargo, apontando possíveis interferências indevidas em investigações da Polícia Federal, lembrou a entrevista concedida por Pedro Collor, em 1992, que acabou culminando no impeachment de seu irmão, Fernando Collor. A afirmação partiu do cientista político e professor do Insper, Carlos Melo, durante live promovida pela XP Investimentos nesta sexta-feira.

“As condições estão evoluindo para isso [o impeachment]”, disse o professor. Segundo ele, será difícil para o governo adotar uma postura de simplesmente tentar desmentir tudo que foi falado pelo agora ex-ministro. “O Moro não foi na coletiva pedir a demissão; ele foi para atingir o governo do presidente Jair Bolsonaro com várias revelações”, afirmou Melo, que disse que o ex-ministro deixou a entrevista com ares de candidato à presidência.

O professor do Insper destacou também que as crises que têm atingido o governo são fabricadas na maioria dos casos internamente pelo próprio Bolsonaro. “O presidente hoje é um líder disfuncional.”

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Melo ressaltou, contudo, que, caso um processo de destituição do presidente da República venha a se confirmar, ele não se dará da noite para o dia, principalmente pela urgência que o coronavírus impõe ao momento. “Como diz a canção de Chico Buarque, não se afobe que nada é pra já”, afirmou. “Mas o presidente saiu mais fraco após a entrevista do que estava ontem à noite.”

Popularidade será crucial

Um ponto que deve ser monitorado com especial atenção a partir de agora será a divulgação das pesquisas de popularidade. Na visão de Melo, elas ajudarão a mostrar, dentro da base de apoio ao governo, quem é do time da Lava-Jato, e que pode passar a adotar um tom menos amistoso com a saída de Moro, e quem é de fato do chamado “núcleo duro” do presidente.

Ele acredita que, caso os níveis de aprovação de Bolsonaro recuem para a perigosa casa de um digito, o contexto ficará mais delicado para sua permanência: “Não tem quem segure, nem o Centrão.”

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Victor Scalet, analista político da XP e também presente na live, apresentou uma prévia de uma pesquisa que ainda está em fase de produção e será divulgada de maneira completa neste sábado (25).

A pesquisa conta com cerca de 500 participantes até agora. Questionados sobre a expectativa quanto ao restante do mandato de Bolsonaro após a saída de Moro, 21% responderam esperar por uma condução boa ou ótima, uma queda de 14 pontos percentuais em relação ao levantamento realizado no inicio desta mesma semana.

Em outro tópico, 67% dos respondentes disseram que o impacto da saída de Moro é negativa, contra 8% que entendem que é positiva, e 15% que acham que não tem impacto.

Além disso, os dados da pesquisa indicam que, da base de aproximadamente 30% da população que apoia o presidente, cerca de um terço dá notas mais altas para Sergio Moro do que para Bolsonaro.

Posto Ipiranga

Paulo Gama, analista político da XP, lembrou que as movimentações recentes do governo, com o aumento do protagonismo do ministro da Casa Civil, general Braga Netto, no front econômico, levantou a suspeita do mercado sobre como anda o relacionamento do Planalto com Paulo Guedes.

“O Bolsonaro está perdendo o esteio do combate à corrupção [com a saída de Moro]. Com isso, as demais bases de apoio também ficam prejudicadas. É mais fácil se apoiar em duas, três pernas, do que numa só”, afirmou Gama.

“A situação do Guedes vem se deteriorando aos poucos, não é uma coisa desses últimos dias”, completou o professor Melo.

Reformas travadas

O analista político Erich Decat, da XP, destacou que diante das crises, política e do coronavírus, as reformas que estavam sendo discutidas, como a tributária, dificilmente terão um avanço significativo ainda em 2020.

O segundo semestre será marcado pelas eleições municipais e pelas discussões sobre a troca na presidência das duas casas no inicio do próximo ano, limitando o espaço para debates sobre reformas estruturais, prevê Decat. “As reformas terão de ser no mínimo redesenhadas”, afirmou o analista. “Se sair alguma coisa, deve ser muito pontual e aguado em relação ao que se estava esperando anteriormente.”

E mesmo o apoio para tocar a agenda de reformas por meio do Centrão, com quem Bolsonaro tem feito gestos de aproximação, foi colocado em xeque pelos especialistas , que lembraram do fisiologismo que marca a atuação desses partidos.

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