Concessões de Dilma vs Privatizações de FHC: “diferença está no nome”, diz economista

Para Ilan Goldfajn, "governo percebeu que precisa investir, mas não sabe com fazer da melhor forma"; setor de infraestrutura é um dos que mais sofre

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Muito criticada principalmente pelos partidos da esquerda brasileira, a política de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso parece ter muito em comum com a nova estratégia da gestão da presidente Dilma Rousseff no setor de infraestrutura – as concessões.

Na opinião do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, as únicas coisas que diferenciam as duas medidas são “o nome e o timing”. O que antes era repudiado veementemente pelas atuais lideranças que comandam o país hoje é visto como única alternativa para solucionar o problema crônico no segmento.

Veja também: Política de concessões de Dilma está “endireitando” o governo?

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“Quando você olha a qualidade da infraestrutura, vê que o Brasil está em um dos últimos do ranking. É claro que Angola está pior, mas não podemos estar nesta situação. É isso que está limitando [o crescimento do país]. O governo percebeu que precisa investir, mas não sabe como fazer da melhor forma”, argumentou Goldfajn.

Mudanças no modelo de crescimento
De acordo com o economista, antes era possível o País crescer empregando a população, graças às taxas de desemprego na faixa dos 15%. Hoje, com índices mais próximos do pleno emprego, são necessárias novas alternativas para puxar o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para cima.

“A capacidade de crescer só colocando gente para dentro (empregando a população) não funciona mais. Hoje em dia, o crescimento do Brasil vai depender da produtividade – de, com as mesmas pessoas, conseguir produzir mais”, apontou Goldfajn, que deu o exemplo da situação da safra da soja neste ano, que, com um dos melhores níveis de produção da história, foi prejudicada pelas dificuldades de escoamento.

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Ilan Goldfajn destaca como fatores limitantes para um desenvolvimento mais acelerado da economia brasileira os setores de infraestrutura e educação. Em relação ao primeiro deles, o Brasil já se mostra mais lúcido, mas com muita coisa a aprender no que diz respeito ao sucesso dos leilões, oferecendo condições atraentes para as empresas, aliada ao principal: o interesse nacional.

“Para isso, você precisa fazer leilão; para dar certo, precisa ser bem sucedido. O governo começou por duas rodovias que considera as melhores e mais fáceis: uma foi bem sucedida e a outra não”, explicou.

O economista-chefe do Itaú ainda opinou sobre o que, para ele, seria uma sutil diferença entre as concessões de Dilma e as privatizações de FHC: a velocidade com que as medidas foram tomadas em cada um dos governos.

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“As privatizações do FHC foram feitas logo. Já as concessões foram feitas como última opção”, destacou Goldfajn sem entrar na polêmica questão das acusações de irregularidades nas privatizações durante o governo que antecedeu a sequência petista no poder.

Do público para o privado
A transferência de um compromisso da agenda do setor público para o privado pode contribuir na eficiência e na produtividade do setor, uma vez que há empresas mais especializadas nos mais diversos segmentos em comparação com membros do governo. Além disso, o economista do Itaú destacou que os riscos de um investimento em um porto, aeroporto, rodovia ou qualquer outra obra voltada à melhoria da infraestrutura do País podem ser grandes, tendo em vista a extensão dos projetos – isso dificulta a ação do poder público, onde a burocracia pode comprometer ainda mais o andar dos investimentos no setor.

“O político só assina o projeto com 120% de certeza, mas não existe projeto de 30 anos que tenha essa probabilidade. Tem risco, é longo. Isso fez com que as concessões fossem a última coisa a ser testada. Tentou-se fazer pelo governo, o setor público não conseguiu, e fizeram-se concessões”, argumentou o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.