Com medidas para infraestrutura, Dilma percebeu necessidade dos investidores?

Governo errou na comunicação com o mercado mas pode ter recolocado no caminho certo, se voltar a atrair investidores, avaliam analistas

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Dilma Rousseff pode estar sinalizando uma nova postura por parte do governo ao, conforme mostrou o Valor Econômico na semana passada, prometer retornos maiores para investidores em concessões de projetos de infraestrutura e rodovias. Pragmática, a presidente do País poderia estar, finalmente, se rendendo à iniciativa privada – que ainda precisa ser capturada para que o ritmo de crescimento . 

Enquanto o antigo projeto garantia uma TIR (Taxa Interna de Retorno) de 5,5%, este número pode agora ser elevado para 8% – justamente para atrair esses investidores. “O investidor precisa de atrativos, o governo sabe disso. Então ele eleva o retorno, principalmente em um momento de grande aversão, para chamar eles de volta”, avalia Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

Há uma implicação maior para a economia. Já não faz mais parte do receituário do PT (Partido dos Trabalhadores) a gestão de todos os ativos detidos pelo governo – o próprio partido já realizou diversas “privatizações” ao conceder a gestão de aeroportos, portos e rodovias para a iniciativa privada. As regras, porém, são mais duras do que foram na era do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileiro), o que faz com que usualmente governo e empresários entrem em conflitos. 

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Voltar às pazes com os investidores, portanto, era extremamente necessário para voltar a crescer, sobretudo na infraestrutura, um dos grandes gargalos do Brasil. Mas para isso, dada a pouca atratividade do segmento anterior, eram necessário maiores retornos. “São investimentos muito grandes, necessários ao País, e que dão retorno no médio e longo prazo”, avalia Agostini. 

Boa sinalização, mas isso é só o começo
Carlos Müller, analista-chefe da Geral Investimentos, concorda com a visão de Agostini de que isso era necessário, mas pede calma. “É uma sinalização bastante positiva, as concessionárias de rodovias já haviam sinalizado que estavam em conversas com o governo. Mas é muito breve para fazer uma leitura geral ainda, por enquanto ainda não dá para avaliar uma mudança por parte do governo”, alerta. 

Comunicação errada
No caso da Dilma, é possível traçar um paralelo com seu antecessor, Lula, que precisou ganhar uma roupagem nova para ser eleito presidente da república pela primeira vez, em 2002 – ganhando o apelido de “Lulinha Paz & Amor”. Não significa que Lula abandonou o que acreditava que fosse as prioridades de seu governo, apenas uma nova forma de comunicação com o eleitorado.

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Para isso, uma melhor comunicação com o mercado seria extremamente necessária – para mostrar que ainda há espaço para lucros no Brasil, mesmo com um governo intervencionista. “Dilma reconhece que errou [com outras medidas], que precisa dos investidores estrangeiros para voltar a crescer em um ritmo mais elevado, e por isso aumenta o prêmio”, avalia Agostini. 

Viagens de Mantega não são para acumular milhas
Os erros foram feitos quando o próprio governo agiu de maneira equivocada em relação à Petrobras (PETR3; PETR4) – prejudicando os minoritários, e empresas de energia elétricas. Isso, acredita o economista-chefe da Austin, faz parte do passado, e que o governo pode passar a consultar o mercado. “O governo quis mudar as regras do jogo, mas antes do final da partida, não consultando o mercado. O que a gente viu foi as ações desabarem, tanto na Petrobras quanto nas elétricas”, afirma. 

O governo poderia ter tido mais comunicação com o mercado e ter se mostrado favorável a ouvi-lo antes das medidas, aberto uma audiência pública. “Esse tem sido o grande erro do governo brasileiro, no caso das empresas de energia foi quase um chavismo”, alerta Agostini, citando a MP 579 (Medida Provisória), que derrubou as ações das principais ações de empresas elétricas brasileiras do dia para a noite. 

O governo agora se mostra um pouco mais favorável, com roadshows no exterior para conversar com investidores privados. “As viagens do Guido Mantega (ministro da Fazenda) não são para acumular milhas nas companhias aéreas. Tenho a impressão de que há um reconhecimento de que o governo agiu de forma errada, ele precisa do investidor estrangeiro”, avisa. 

Intenção nunca foi prejudicar investidores
Se Agostini vê uma comunicação errada por parte do governo, ele lembra que em nenhum momento o governo estava interessado em ser hostil ao investidor – como propagado pela mídia. Uma prova disso foi a ausência de medidas para probir o fluxo de capitais, no máximo direcioná-lo, em 2011, quando a valorização excessiva do real frente ao dólar estaria prejudicando as exportações nacionais. “Foram algumas medidas para tentar amenizar o processo de valorização do dólar. Elas foram ali colocadas para tentar travar o dólar, mas não para expulsar os investidores”, afirma.

Para ele, o governo não havia sido hostil, mas acabou expulsando os investidores externos através disso, já que o momento era de aversão ao risco ao redor do mundo. Com o dólar sob controle – oscilando muito próximo dos R$ 2,00 – o governo pode ser mais pragmático e optar por medidas de estímulo mais favoráveis ao mercado. 

Crescimento é consequência
Como consequência, essa nova sinalização pode recolocar o Brasil no caminho do crescimento econômico. “Passamos por um momento ímpar, mas precisamos que os investidores voltem a colocar dinheiro. O governo compreende isso e quer fazer a parte dele”, destaca Agostini. 

Depois do fraco desempenho da economia em 2012 – crescimento de 0,9% do PIB (Produto Interno Bruto) – manter a mesma política econômica poderia levar a um segundo ano de fracasso. Não é o desejado por ninguém no planalto. “É importante uma reaproximação para voltarmos a crescer em um ritmo mais elevado”, diz Müller. Todos os brasileiros desejam isso. 

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