Com Levy enfraquecido, FT aponta: “Fazenda pode se tornar novamente para-raio político”

O jornal ainda destaca a análise de economistas acusando Joaquim Levy e sua equipe econômica de terem "jogado a toalha" do ajuste fiscal

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O jornal britânico Financial Times destacou a luta do Brasil para consertar a crise fiscal que o País vive atualmente, tendo como pano de fundo o envio para o Congresso do Orçamento para 2016 com déficit pela primeira vez na história. Aliás, a situação do ministro da Fazenda Joaquim Levy, que está sendo contestado por todos os lados, e não está conseguindo impor os cortes que acha necessário e que o fizeram ficar conhecido como “Levy mãos de tesoura”. 

E avalia: “de 1995 até o final do ano passado, o Brasil teve apenas três ministros da Fazenda enquanto a hiperinflação deu lugar a um período prolongado de estabilidade. Dilma Rousseff, que enfrenta ameaças de impeachment, continua a apoiar Levy. É uma medida de que a corrente crise pode levar o Ministério da Fazenda a se tornar novamente um para-raio político”, afirma, ou seja, o grande alvo das críticas. 

O FT faz uma retrospectiva de Levy à frente da Fazenda, destacando que, desde que a presidente o trouxe de volta à Brasília em janeiro, o ministro emitiu um aviso contundente: ou o Brasil ajeitava a casa ou o era relegado ao status de “junk”. Porém, oito meses depois, Levy luta para progredir em meio à crise política e ao declínio da economia tem destruído a capacidade de se fazer qualquer coisa no Congresso.

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E a própria escala do buraco fiscal ficou evidente com o anúncio do Orçamento na última segunda-feira pelo governo. “Ao invés de propor novos cortes de gastos ou aumento de impostos, também pediu ao Congresso para fazer o trabalho duro de encontrar formas de tapar o buraco fiscal”, ressalta o jornal. Aliás, esse pedido foi recusado pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, dizendo que não é papel do Legislativo indicar onde e como o Executivo deve cortar gastos e elevar receitas. 

O jornal ainda destaca a análise de economistas acusando Joaquim Levy e sua equipe econômica de terem “jogado a toalha” do ajuste fiscal. Enquanto isso, as agências Standard & Poor’s e Moody’s colocam no radar por o Brasil para abaixo do grau de investimento. Por enquanto, elas aguardam a atuação de Levy. Em meio ao cenário de elevação da relação entre a dívida bruta e o PIB, alguns economistas esperam um downgrade nos próximos meses.

“Desde os anos 1990, os governos brasileiros têm utilizado o conceito de um superávit primário – que exclui o pagamento de juros – para medir o seu desempenho fiscal. Mesmo que eles nem sempre tenham sido bem sucedidos, os líderes brasileiros têm, pelo menos, definido o alvo a cada ano para alcançar um excedente primário”. Porém, isso, mudou com o anúncio de segunda-feira.

“A dura realidade política é que Levy tem pouco espaço de manobra. O Estado já elevou os tributos acentuadamente ao longo dos últimos vinte anos com a economia em recessão, conforme destacou o vice-presidente Michel Temer nesta semana”, afirmou. Porém, é um cenário complicado, já que as despesas são engessadas. 

“Todo mundo é a favor do ajuste fiscal, enquanto alguém paga a conta”, afirmou o pesquisador do Ipea, Mansueto Almeida. “Se não conseguirmos fazer o ajuste fiscal, então aa economia está em risco.”

O jornal aponta que a incapacidade de Levy de tentar impedir o déficit é um reflexo da fraqueza mais ampla do governo e que a inépcia política aumenta ainda mais os problemas, além do governo ter se retraído em meio a pressões do Congresso e da sociedade. 

“O ministro da Fazenda tem evitado grande parte da culpa por esses erros, mas isso não impediu que a especulação renovada sobre Levy vai ficar no cargo por muito mais tempo. Desde que entrou no governo em janeiro,  foi duramente criticado pelo PT por seus apelos de austeridade. Ele também já está sendo atacado pela ‘direita’, caso do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, chamando-o de ‘ministro do desemprego'”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.