Com Europa de volta à tona e Ibovespa em baixa, ouro é o melhor investimento do mês

Bolsa cede a pressões externas e cai 4,19%, pior marca desde maio; inflação come ganho real de principais investimentos

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Assim como aconteceu em outubro, as incertezas sobre a recuperação voltaram a pesar nos mercados. O temor de uma crise fiscal mais profunda na Europa, de um aperto monetário na China ou de uma recuperação ainda mais lenta do que se antecipava nos EUA levou os investidores a buscar alternativas de investimento mais seguras – impulsionando assim o ouro, que foi o melhor investimento do mês.

A commodity seguiu na liderança isolada das rentabilidades em novembro, com ganhos nominais de 6,92%. Considerando os ganhos reais – ou seja, descontando o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercados), que surpreendeu e marcou alta de 1,45% no mês – somente o ouro, dentre as princiáis métricas de investimento, ficou no campo positivo no mês.   

Na ponta oposta aparece o Ibovespa, com perdas nominais de 4,19% – o pior investimento do mês. O índice sentiu a aversão ao risco desencadeada principalmente por Europa e China, além de ruídos sobre o novo governo, e teve sua maior queda mensal desde maio deste ano, quando recuou 6,64%. Cabe dizer que o índice foi o único entre as principais métricas de investimento a fechar o mês no campo negativo. 

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Variações das principais métricas de investimento em novembro:

Investimento Novembro Real* Outubro Real**
Ibovespa -4,19% -5,56%  +1,79%  +0,77%
CDI*** +0,81% -0,64%  +0,77%  -0,24%
CDB **** +0,85% -0,59%  +0,85%  -0,16%
Poupança +0,53% -0,90%  +0,55%  -0,46%
Ouro +6,92% +5,39%  +8,70%  +7,61%
Dólar Ptax +0,86% -0,58%  +0,42%  -0,58%
IGP-M +1,45%  +1,01%  –

* Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 1,45% em novembro de 2010
** Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 1,01% em outubro de 2010
*** Taxa Efetiva Andima
**** Taxa pré 30 dias

A aplicação em CDBs pré-fixados de 30 dias garantiu retorno nominal médio de 0,85% em novembro, acima do benchmark CDI (+0,81%). A caderneta de poupança, por sua vez, apresentou retorno nominal de 0,53% no mês.

dólar acompanhado pela variação da Ptax, por sua vez, registrou rentabilidade nominal de 0,86% no período – a segunda melhor entre as principais métricas de investimento. Por fim, o dólar comercial fechou novembro com ganhos de 0,65%

Cenário externo em foco com volta da crise na Europa
Lá fora, os problemas fiscais europeus voltaram a ocupar o noticiário, e se tornaram a principal referência dos mercados no final do mês. Depois de semanas de resistência, a Irlanda acabou aceitando um pacote de ajuda de € 85 bilhões com a União Europeia e com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para resolver suas finanças – montante abaixo do estimado.

Mas a Irlanda não foi o único país a atrair atenções por sua situação fiscal. A especulação agora é de que Portugal e Espanha também venham a precisar de ajuda para equilibrar suas contas, voltando a disseminar os temores de contágio entre os investidores.

Apesar do continente europeu ter concentrado as atenções no final do mês, os EUA não ficaram fora do radar dos investidores. No início de novembro, o Fed anunciou a segunda rodada de flexibilização quantitativa, apelidada de QE2. Na tentativa de impulsionar a economia norte-americana, o banco central dos EUA comprará US$ 600 bilhões em Treasuries de longo prazo.

De modo geral, os dados da maior economia do mundo se mostraram divergentes no período. A revisão do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, o Relatório de Emprego de outubro, o crédito ao consumidor e a confiança do consumidor de novembro surpreenderam positivamente. Já o Leading Indicators, a evolução dos preços ao consumidor e o número de casas em início de construção decepcionaram.

Na ata da última reunião do Fomc (Federal Open Market Committee), o Fed cortou as projeções para a economia norte-americana em 2010 e 2011, além de voltar a apontar um progresso desapontador do país, em meio a condições ruins no mercado de trabalho e imobiliário. O comitê agora espera que os EUA cresçam entre 2,4% e 2,5% este ano, abaixo dos 3% a 3,5% esperados em junho.

Ainda lá fora, a reunião do G-20 terminou sem nenhum consenso sobre medidas conjuntas para o câmbio, como já era esperado. Já a Ásia trouxe algumas surpresas, como o conflito entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, que levou tensão aos mercados por alguns dias. A China também foi fonte de volatilidade do mês: a inflação segue em alta, fazendo com que BC local elevasse novamente o compulsório e ordenasse aos bancos comerciais que reduzam o ritmo de empréstimos ao longo das próximas semanas – acendendo temores de que uma nova alta no juro pode vir por aí.

Equipe de Dilma e inflação são pauta no Brasil
Já no cenário doméstico, as questões cambiais deram espaço para a formação da equipe econômica do próximo governo, que ganhou destaque em novembro. Após muita especulação, a presidente eleita Dilma Rousseff anunciou que Guido Mantega, Miriam Belchior e Alexandre Tombini foram os escolhidos para comandar o Ministério da Fazenda, Ministério do Planejamento e Banco Central.

Em seu primeiro discurso após a indicação, Mantega pregou o controle de gastos e a consolidação fiscal. Já Tombini se apressou em garantir a autonomia operacional do BC, que foi questionada após o anúncio da saída de Henrique Meirelles da presidência do BC.

Outro tema que ficou no foco dos investidores por aqui foi o avanço da inflação, que gerou projeções de que a taxa Selic volte a ser elevada já na reunião de janeiro. Alguns analistas, como a Gradual, já apostam na alta da taxa básica de juro na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de dezembro.

Cenário corporativo
No final da temporada de resultados, Gerdau (GGBR4), Banco do Brasil (BBAS3), Itaú Unibanco (ITUB4) e AmBev (AMBV4) foram alguns dos destaques. A Petrobras (PETR3, PETR4) também revelou seus números do terceiro trimestre, com lucro líquido de R$ 8,566 bilhões – alta de 7,8% sobre o mesmo período de 2009.

A estatal também anunciou que, apesar de não ter atingindo suas desafiadoras metas de produção até o terceiro trimestre, não pretende revisar seus objetivos para este ano. A empresa negou que esteja planejando uma oferta de ações em Hong Kong, a exemplo do que a Vale (VALE3, VALE5) deve fazer em breve.

Já a BM&F Bovespa (BVMF3) foi autuada em mais de R$ 410 milhões pela Receita Federal. A bolsa é acusada de não ter recolhido R$ 410 milhões originários da amortização, para fins fiscais, do ágio gerado quando da incorporação de ações da Bovespa Holding. A BM&F Bovespa disse que irá recorrer da infração e ressalta que os advogados da empresa apontam que o risco de perda para os acionistas é remoto.

Fora do Ibovespa, o caso de fraude descoberto no banco PanAmericano (BPNM4) foi o principal assunto dos investidores no mês. O Banco Central descobriu um rombo de R$ 2,5 bilhões nas contas do banco, obrigando o acionista controlador da instituição, o Grupo Silvio Santos, a acertar um empréstimo com o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e fazer um aporte no banco.

Apesar de ser um problema isolado e de o BC garantir que a fraude fora descoberta a tempo, o caso gerou desconfiança com pequenos bancos e derrubou as ações do PanAmericano, que fecharam o mês com perdas de 42,35%, além de causar a demissão de toda a diretoria da instituição. Agora, com Maria Fernanda Coelho, da Caixa, como nova presidente do Conselho, o foco se volta para a auditoria Delloitte, acusada de maquiar o balanço do banco.

Gafisa e Pão de Açúcar nas pontas do Ibovespa
O principal destaque na ponta negativa do Ibovespa foi a Gafisa (GFSA3), que viu suas ações despencarem 15,39%, liderando o mau desempenho do setor imobiliário no índice este mês – o IMOB, que acompanha as empresas do setor, fechou o período em baixa de 4,11%.

A Gafisa reportou um lucro líquido de R$ 116,6 milhões no terceiro trimestre, 83% maior que aquele visto em igual período do ano passado. Em nota, a empresa ressaltou que o 3T10 foi um “trimestre de resultados substanciais e de expansão na Gafisa”. A companhia também ajustou seu guidance original para 2010, de R$ 4 bilhões a 5 bilhões em lançamentos, para R$ 4,2 a 4,6 bilhões.

No campo positivo, os papéis do Pão de Açúcar (PCAR5) encabeçaram os ganhos do índice, com alta de 6,61%. A varejista registrou lucro líquido de R$ 115,1 milhões no terceiro trimestre deste ano, o que representa um recuo de 30,1% sobre o mesmo período do ano anterior. A receita líquida, com R$ 7,1 bilhões, e o Ebitda (geração operacional de caixa), com R$ 493,5 milhões, avançaram em 16,6% e em 41,8%, respectivamente, na mesma base de comparação.

De acordo com a empresa, o resultado consolidado foi impactado pelas despesas financeiras líquidas do Grupo Pão de Açúcar e da Globex. “Essa é a lição de casa que temos que fazer. As despesas financeiras cresceram e cresceram muito”, informou o vice-presidente do Pão de Açúcar, Hugo Bethlem, em teleconferência de resultados.

Ademais, o Barclays elevou suas estimativas de lucro por ação para a companhia. Em relatório assinado por David Belaunde, o banco destacou que suas expectativas para o Pão de Açúcar ainda não refletem a consolidação do grupo com a Casas Bahia. “Mas, elevamos nosso preço-alvo de R$ 76,00 para R$ 80,00 a fim de abranger melhores tendências de médio prazo”, destacou Belaunde. Para este ano, o Barclays elevou sua projeção de lucro por ação para o Pão de Açúcar, que passou de R$ 2,28 para R$ 2,31. Já para 2011, o banco manteve sua projeção de um lucro que represente R$ 3,28 por ação ao grupo.

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