Ciro e Haddad entram em rota de colisão por herança lulista e vaga no segundo turno

Saída de Lula da corrida eleitoral gera intensa disputa na esquerda por migração de votos

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da corrida eleitoral e a aproximação do primeiro turno acirram uma disputa entre candidatos por seus expressivo contingente de apoiadores. Em um cenário de quatro candidatos se acotovelando na segunda posição, atrás do deputado Jair Bolsonaro (PSL), especialmente dois deles disputam com maior vigor o espólio lulista: o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT).

Ambos cresceram no último levantamento Datafolha, divulgado pela TV Globo na segunda-feira (10). Haddad foi de 4% para 9% das intenções de voto, crescendo especialmente entre o eleitorado feminino, menor nível de escolaridade e renda, localizados fora do Sudeste. Já Ciro evoluiu principalmente entre os mais jovens e do Nordeste. O pedetista lidera a disputa nesta região, com 20% das intenções de voto, contra 14% de Bolsonaro e 13% do substituto de Lula.

Os candidatos de esquerda sabem que a migração de votos de Lula poderá ser decisiva para uma das vagas ao segundo turno. O ex-presidente tinha 39% das intenções de voto em pesquisa Datafolha divulgada em 21 de agosto, a última que considerou sua candidatura em cenário estimulado de primeiro turno. Eram 20 pontos percentuais de gordura em relação ao segundo colocado Bolsonaro.

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Nos dados segmentados, o petista se destacava entre eleitores com menor grau de escolaridade, renda e da região Nordeste. A tabela abaixo apresenta detalhes para os candidatos da esquerda (a linha de Ciro Gomes e de brancos, nulos e indecisos contém as intenções de voto de cada faixa nos cenários com e sem Lula):

Candidato* Ensino Fundamental Até 2 salários mínimos Nordeste Total
Lula 49% 49% 59% 39%
Ciro Gomes 5%/11% 4%/10% 5%/14% 5%/10%
Fernando Haddad 2% 3% 5% 4%
Brancos, nulos e indecisos 15%/35% 15%/33% 12%/34% 14%/28%

* O levantamento testou dois cenários: um com Lula, outro com Haddad
Fonte: Datafolha (BR-04023/2018)

Em três semanas, parte dos brancos, nulos e indecisos diminuiu significativamente em segmentos de forte presença do lulismo. Tais votos impulsionaram os novos voos de Ciro Gomes, agora o segundo candidato com maior percentual de apoio na corrida presidencial, e Haddad, que já empata tecnicamente com o pedetista mesmo sem uma campanha efetiva em torno de seu nome. Com a crescente percepção de que Lula não estará no páreo em 7 de outubro, o eleitor se reposiciona. É o que mostra a tabela abaixo:

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Candidato* Ensino Fundamental Até 2 salários mínimos Nordeste Total
Ciro Gomes 12% 13% 20% 13%
Fernando Haddad 8% 10% 13% 9%
Brancos, nulos e indecisos 29% 27% 27% 22%

Fonte: Datafolha (BR-02376/2018)

Antes mesmo da saída oficial de Lula, Haddad e Ciro cresceram em faixas do eleitorado em que o lulismo é forte e indicam uma disputa pela herança do espólio do ex-presidente. Apesar de ainda aparecer numericamente atrás na corrida, Haddad pode ser considerado favorito por ser o nome apoiado pelo petista. Por outro lado, Ciro é um nome mais conhecido no Nordeste, principal reduto eleitoral do lulismo.

O PT, contudo, tem uma máquina forte e candidatos competitivos a governos estaduais na região, o que pode impulsionar o nome de Haddad. Segundo o Datafolha, 47% dos eleitores nordestinos ainda desconhecem o candidato apoiado por Lula. Entre quem estudou só até o Ensino Fundamental, este percentual chega a 61%, enquanto na faixa de renda familiar mensal de até 2 salários mínimos fica em 57%.

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Com este contexto, não será surpreendente se Ciro e Haddad trocarem farpas nos próximos dias. Nesta terça-feira, em caminhada no centro de Taboão da Serra, em São Paulo, o pedetista iniciou os trabalhos. “O Brasil está passando por um trauma muito grande e infelizmente a cúpula do PT, sabendo que o deslinde de tudo isso seria isso a que vamos assistir hoje, incitou pesadamente frações importantes do nosso bom povo que tem gratidão ao Lula, para tentar manipular esse sentimento”, afirmou.

“Lula e eu apoiamos Haddad na prefeitura para sua reeleição e tivemos uma decepção profunda porque Haddad não só perdeu para Doria, que é um grande farsante, mas perdeu para nulos e brancos. Isso não desqualifica Haddad, pessoa por quem tenho estima e respeito,mas lançado nessa circunstância ele sai muito fragilizado”, completou. A disputa também esquentou na esquerda.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.