Ciro, Alckmin e Marina disputam o “centro” e Haddad fala com o lulismo: as estratégias no debate da TV Record

Penúltimo debate entre os presidenciáveis antes do primeiro turno é marcado por ataques à polarização entre Bolsonaro e Haddad

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O penúltimo debate entre presidenciáveis antes do primeiro turno, transmitido pela TV Record no domingo (30), foi marcado por ataques aos dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Jair Bolsonaro (PSL), ainda em recuperação, não participou do encontro. Já Fernando Haddad (PT) evitou bolas divididas e aproveitou a oportunidade para reforçar as conexões com o eleitorado lulista.

No segundo pelotão, Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) acotovelaram-se em busca de espaço entre o eleitorado de centro, como alternativas ao quadro de polarização instaurado. Correndo atrás, Álvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB) também tentaram entrar nessa onda. Eis o que se pôde observar das estratégias dos candidatos no encontro:

Fernando Haddad (PT)

Apesar de alvo de ataques de adversários, o petista foi pouco ameaçado em pontos de interesse do eleitorado lulista. Dada sua posição nas pesquisas, este fato por si já seria motivo para otimismo na campanha. Haddad procurou dialogar com os eleitores mais alinhados com seu campo político e projeto. Como outros candidatos buscaram sinalizar ao eleitorado de centro, o petista não teve rivais em sua empreitada.

Quando atacou adversários, Haddad seguiu a mesma lógica de reafirmação ao seu próprio eleitorado. Seu principal alvo foi o governo de Michel Temer (e os candidatos mais expostos neste sentido), tendo em vista seu elevado índice de rejeição. Haddad criticou medidas como a emenda constitucional do teto de gastos e a reforma trabalhista. O petista também avançou pontualmente sobre Bolsonaro, vinculando sua agenda à do ex-presidente.

Uma das tentativas de desconstrução que teve que enfrentar veio de pergunta de Guilherme Boulos (PSOL), sobre alianças firmadas pelo PT com lideranças que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff há dois anos (casos de Eunício Oliveira, no Ceará, e Renan Calheiros, em Alagoas). O tema também foi lembrado por Ciro Gomes.

Ciro Gomes (PDT)

O candidato buscou construir a imagem de alternativa viável à polarização criada entre Bolsonaro e Haddad para eventual segundo turno. Em diversos momentos lembrou indicações das pesquisas de que ele derrotaria os dois candidatos no segundo turno e é o nome mais apontado como segunda opção de voto pelos eleitores. Vendendo-se como “nem petista, nem antipetista”, disse ser capaz de reunificar o país.

O pedetista marcou posições entre eleitores de esquerda ao fazer enfrentamento de ideias com Haddad, mas também acenou para eleitores do centro, ao comparar a proposta de nova constituinte do petista à ideia ventilada pelo vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão.

Assim como em debates anteriores, Ciro buscou ser respeitoso com os adversários presentes, imagem importante para contrapor à fama de candidato agressivo e também para não repelir faixas do eleitorado, na esquerda e na centro-direita, que poderiam migrar ao seu projeto. Por outro lado, centrou ataques a Bolsonaro. Ao criticar a ausência do parlamentar, que ainda se recupera de ataque a facada sofrido, atingiu o adversário abaixo da linha da cintura.

Marina Silva (Rede)

A candidata reforçou sua posição ao centro, promovendo críticas a Bolsonaro e ao PT, projetos que qualificou como “autoritários”. De um lado, alertou para um saudosismo da ditadura sem respeitar a Constituição. Do outro, falou em fraude à eleição em 2014 pelo uso da corrupção. “O Brasil não precisa ficar entre a espada da corrupção e a cruz do autoritarismo”, afirmou no primeiro bloco do debate.

Marina sustentou que Bolsonaro e PT são cabos eleitorais um do outro. Contudo, ela teve muitos rivais nesta disputa pela imagem de terceira via em meio à polarização instaurada. Por ter um eleitorado mais volúvel, que se diz disposto a mudar o voto, a ex-senadora corre riscos de perder votos até o dia decisivo, movimento que já se observou nas últimas pesquisas de intenção de voto. Dificilmente a candidata terminará beneficiada por um “voto útil” ao centro.

Geraldo Alckmin (PSDB)

O tucano foi outro pretendente a ocupar o espaço de candidato do centro, como alternativa à polarização entre Bolsonaro e Haddad. Em alguns momentos do debate, focou em promover críticas à ineficiência no setor público, além de ataques ao PT, em uma tentativa de mostrar-se como antilulista – faixa atualmente ocupada principalmente pelo deputado.

Alckmin chamou atenção para o fato de os dois candidatos que lideram as pesquisas também ocuparem posições de destaque no ranking de rejeição entre os presidenciáveis. O ex-governador paulista argumentou que a vitória de um dos polos poderia acarretar em prejuízos até mesmo econômicos ao país. Em um momento, chegou a comparar a postura adotada por Bolsonaro como deputado e da bancada do PT no Legislativo.

No campo das propostas, o candidato voltou a acenar para uma agenda de responsabilidade fiscal que crie condições para a retomada de investimentos e do crescimento econômico. O tucano também se comprometeu a aumentar o salário mínimo acima da inflação.

Outros candidatos
O senador Álvaro Dias (Podemos) e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) também buscaram acenar ao eleitor de centro, em uma tentativa de viabilização como terceira via. O parlamentar focou sobretudo na agenda de combate à corrupção, ao passo que o emedebista chamou atenção para propostas na seara econômica, com ênfase na geração de emprego e renda.

Já Guilherme Boulos (PSOL) buscou firmar-se em um eleitorado de esquerda, em uma tentativa de jogar contra o chamado ‘voto útil’ que pode migrar a outros candidatos deste espectro político. Suas pautas foram mais vinculadas a direitos sociais, combinadas a críticas ao governo Temer.

O deputado Cabo Daciolo (Patriotas), por sua vez, apresentou-se como um outsider, o único candidato de fora do sistema político. Ignorou perguntas e lançou mão de combinações de senso comum em temas polêmicos, discurso religioso e teorias conspiratórias.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.