Cappelli diz que Torres foi avisado sobre risco de invasões na Praça dos Três Poderes

Interventor apresentou informações sobre relatório produzido após atos golpistas no Distrito Federal

Luís Filipe Pereira

Ricardo Cappelli, interventor federal na segurança do DF, em coletiva (Reprodução)

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O interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, disse, na tarde desta sexta-feira (27), que o ex-secretário Anderson Torres foi alertado sobre o risco de invasões a prédios públicos em Brasília, no dia 8 de janeiro.

Em entrevista coletiva para apresentar o relatório da intervenção, Cappelli disse que o gabinete de Torres recebeu um relatório de inteligência, que não foi levado em consideração para conter os vândalos golpistas.

Segundo Cappelli, “o que houve foi um repasse burocrático do ofício”, ou seja, um plano de ação integrada foi aprovado previamente pelo secretário, com diretrizes que deveriam levar a planos operacionais que não foram colocados em prática.

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“Está escrito textualmente em um documento entregue no gabinete do Secretário de Segurança Pública. Tinha ameaças de invasão a prédios públicos, e estava descrito, com tudo que poderia acontecer. Está documentado. Não faltou informação”, disse.

Cappelli acrescentou, ainda, que Anderson Torres, ao contrário do que alegou, não estava oficialmente de férias em 8 de janeiro. O período iniciaria no dia seguinte. Na data dos atos, o então secretário de segurança pública do DF já estava nos Estados Unidos – e acabou exonerado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), que também foi afastado do cargo por 90 dias, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nesta semana, foi divulgado um depoimento de Anderson Torres em audiência de custódia realizada em 14 de janeiro, em que o ex-secretário de Segurança afirma que “jamais daria condições” para a invasão e depredação das áreas internas do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto. Torres permanece preso no 4º Batalhão da Polícia Militar (BPM) do Distrito Federal, no Guará.

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O interventor Ricardo Cappelli disse que, na tarde do dia 8, havia menos de 150 homens das forças policiais na Esplanada dos Ministérios, efetivo que não era condizente com a gravidade da situação. Cappelli ainda enumerou falhas cometidas pela Segurança Pública do DF, como a utilização de gradis simples para formar as barreiras e a utilização de alunos do curso de formação da Polícia Militar na linha de defesa, com pouca experiência neste tipo de ação para conter os vândalos.

Segundo Cappelli, o comandante da PM do DF, Fábio Augusto Vieira atuou na contenção dos vândalos golpistas, “mas perdeu a capacidade de comando das tropas ao longo do dia 8”. Vieira está preso desde o dia 11, após determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes.

O interventor criticou a politização das forças de segurança e citou que comandantes da Polícia Militar tiraram férias concomitantes, o que também pode ter pesado para a segurança da capital no dia dos atos golpistas.

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“Quando a gente tem na polícia militar, que é uma estrutura com cultura da hierarquia e disciplina, cada político indicando um comandante ou chefe de batalhão, nós temos muita dificuldade em manter a hierarquia. O poder público não pode politizar indicações nas forças de segurança”, argumentou Cappelli. “Conspiração não passa recibo. Não é fácil você provar”, completou.

Foram exonerados seis coronéis que estavam em posição de comando no dia dos atos golpistas. Seis inquéritos policiais foram abertos, ente eles uma investigação para apurar a arrecadação de dinheiro feita por policiais militares para custear a segurança dos bolsonaristas radicais que estavam no acampamento em frente ao QG do Exército.

Ricardo Cappelli também trouxe a informação de que, em dois meses, foram registradas 73 ocorrências policiais no acampamento. Segundo ele, entre os dias 6 e 7 (véspera dos atos golpistas), aumentou a concentração de pessoas no local.

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“Todos os atos de vandalismo que ocorreram na capital federal tiveram seu ponto de apoio no acampamento que virou um centro de construção de planos contra a democracia brasileira. É um ambiente onde circularam criminosos”, disse.

A intervenção federal na Segurança Pública do Distrito Federal seguirá até dia 31 de janeiro. Nesta semana, o delegado da Polícia Federal Sandro Avelar foi anunciado como novo secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, que deverá assumir a pasta ao fim deste período.