Campos Neto: “Farei tudo o que estiver ao meu alcance para aproximar o Banco Central do governo”

Indicado para o cargo por Jair Bolsonaro, presidente do BC reforça importância de se reconhecer resultado das urnas e se diz aberto a colaborar com governo

Marcos Mortari

Germano Lüders/InfoMoney

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, nesta segunda-feira (13), que está aberto a “trabalhar” e “colaborar” com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o economista, que foi indicado para o cargo por Jair Bolsonaro (PL), exaltou a necessidade de se respeitar o resultado das urnas e disse que fará de tudo para aproximar a instituição da nova administração.

“O Banco Central é uma instituição de Estado, precisa trabalhar com o governo sempre. Nós estamos sempre abertos a trabalhar com o governo, a colaborar”, afirmou.

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“O Banco Central precisa trabalhar com o governo e vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para aproximar o Banco Central do governo”, disse.

As declarações ocorrem em meio a uma escalada de críticas de Lula à atuação do BC e o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic), mantida em 13,75% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Integrantes do governo, incluindo o próprio presidente, têm manifestado reiterada preocupação com os impactos da elevada taxa de juros sobre as perspectivas de crescimento do país – e, consequentemente, sobre a execução de políticas públicas prometidas por Lula na campanha eleitoral.

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“Eu entendo que existe pressa da parte do presidente Lula. Entendo que existe uma agenda social. Nossa agenda é muito social. Se pensarmos tudo que o Banco Central fez, as grandes renovações foram todas visando o social”, afirmou Campos Neto.

O comandante da autoridade monetária usou uma “cola”, no início da entrevista, para fazer um discurso de pacificação com o novo governo e se esquivar de acusações de proximidade com Bolsonaro e aliados da antiga gestão.

Entre os episódios lembrados pelos participantes está a participação em grupo de whatsapp com ex-ministros de Bolsonaro em janeiro deste ano, quando Lula já era presidente. Tal participação foi flagrada por fotografia registrada pelo jornal Folha de S.Paulo sobre o celular do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro da Casa Civil da gestão anterior.

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O episódio ocorreu quase dois anos após a aprovação da autonomia do BC pelo Congresso Nacional e foi visto por aliados de Lula como um sinal de fidelidade de Campos Neto a Bolsonaro.

O presidente do BC ficou conhecido por ter bom trânsito com integrantes do último governo, como o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que comandou o Ministério da Infraestrutura.

“Ao longo de quatro anos, você acaba desenvolvendo relações, proximidade com algumas pessoas. Mas precisamos diferenciar a proximidade com algumas pessoas de independência de atuação”, rebateu Campos Neto.

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O comandante da autoridade monetária destacou, ainda, que, em 2022, o Brasil passou por seu ciclo mais intenso de aumento nos juros durante um ciclo eleitoral. “[Isso] Mostra que foi um ato muito independente. Se o Banco Central estivesse leniente e quisesse participar, agir politicamente, não teria subido juros, teria até feito uma política para estourar a inflação para frente”, afirmou.

Questionado se de fato votou nas últimas eleições trajando camisa verde e amarela (vestimenta utilizada por apoiadores de Bolsonaro durante a campanha), o economista, no entanto, limitou-se a dizer que “o voto é um ato privado” e não negou. Em outro momento, afirmou que nunca participou de ato político e nunca fez campanha para nenhum candidato.

Campos Neto também disse que sempre “dialogou com todo mundo” da política e indicou que reclamações sobre a atuação da autarquia são comuns – inclusive no governo anterior.

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“Em todas as atas [do Copom], temos alertado para o problema fiscal que existe, e era muito comum no passado, todas as vezes que a gente alertava de todas as PECs – começou com a PEC emergencial, a PEC kamikaze, a PEC dos Precatórios… Cada vez que o Banco Central alertava (…), o ministro Paulo Guedes ligava para mim e reclamava”, disse.

Em um aceno a Lula em meio aos ataques do governo, Campos Neto abriu a entrevista defendendo a necessidade de se reconhecer o resultado das urnas – contrariando a postura de um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro.

“É importante reconhecer a legitimidade do resultado das eleições, a eleição do presidente Lula, que foi feita de uma forma democrática. É importante manter e preservar a democracia”, disse.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.