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(SÃO PAULO) – Desde o início da chamada Operação Lava Jato, a investigação sobre desvios e subornos na Petrobras, a gigante estatal do petróleo, os brasileiros se acostumaram a ver magnatas desonestos serem escoltados até a cadeia. Mas Marcelo Odebrecht — cuja prisão foi chamada pela revista Veja, na semana passada, de “A queda do príncipe dos empreiteiros” — foi um prêmio.
Magro, de óculos, 46 anos de idade, o presidente do Grupo Odebrecht é a terceira geração de herdeiros de uma dinastia da construção com poucos pares no mundo em desenvolvimento. O logotipo vermelho e branco da empresa está alçado no alto de andaimes em 21 países, tão onipresente na América Latina quanto a esfera vermelha e preta da Bechtel e o banner vermelho cardinal da Halliburton na Ásia e no Oriente Médio.
À medida que a investigação na Petrobras se aprofundou, laçando mais empresas de renome, os analistas ficaram maravilhados — e os investidores, entusiasmados — porque parecia que a gigante Odebrecht permaneceria imaculada.
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Agora está claro que Sérgio Moro, o juiz federal que comanda a Operação Lava Jato, estava apenas jogando xadrez, passando o tempo com jogadores menores enquanto os procuradores buscavam rastros documentados de Mônaco à Cidade do Panamá.
Se a Petrobras era a joia da coroa entre as empresas estatais brasileiras, a Odebrecht era o equivalente no setor privado: baseada no talento, enxuta e com um olhar agressivo para as oportunidades em todas as partes.
Boa parte dessa energia veio com o jovem herdeiro, um engenheiro civil que construiu plataformas de petróleo na Inglaterra e concluiu um MBA no Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Gestão, na Suíça. Sob sua supervisão, a empresa se aventurou dos grandes projetos de construção ao setor petroquímico, entre outros negócios, levando a marca para os EUA e para a Europa.
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E, diferentemente da maioria das empreiteiras brasileiras, apenas uma pequena parte da carteira da Odebrecht estava ligada a contratos do governo, o que levou alguns entusiastas a avaliarem que as consequências da agitação no mercado seriam limitadas e que a Odebrecht era grande demais para cair.
No fim das contas, a Odebrecht havia se tornado praticamente uma representação do próprio Brasil. Represas, pontes, estações de metrô e aeroportos azeitavam as engrenagens das ambições globais do Brasil. Quando não estava abrindo caminho para as autoridades em mercados emergentes, a construtora acompanhava os diplomatas de perto com tijolo e cimento.
Esse casamento das agendas pública e privada atingiu seu auge durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que passou boa parte de seus oito anos de governo a bordo de um jato, vendendo seus bonds geopolíticos “sul-sul”. A relação se tornou mais próxima depois que Lula deixou o cargo, em 2010, quando — documentos judiciais agora revelam — ele voou repetidas vezes financiado pela Odebrecht para palestras e bate-papos com governos de países clientes.
Contudo, essa proximidade – promiscuidade? — com o poder foi o que colocou a gigantesca construtora sob uma apuração maior no crescente escândalo que defenestrou o índice de aprovação da presidente Dilma Rousseff, levou milhões de manifestantes às ruas e ajudou a empurrar a maior economia da América Latina para a recessão.
Doador generoso de campanhas políticas, Odebrecht nunca escondeu sua intenção de pressionar os governos sobre suas políticas. “É legítimo e obrigatório”, disse ele à Folha de S. Paulo em uma entrevista, no ano passado. Contudo, ele negou categoricamente ter superfaturado contratos ou pago propinas e jurou que a empresa nunca havia recebido ou pedido favores oficiais.
Mas sua prisão quebra algumas certezas absolutas sobre poder e influência, tão antigas quanto o Brasil e um escudo para os ricos. A queda abrupta nos preços das ações, tanto da Odebrecht quanto de seu braço petroquímico, a Braskem, e a decisão desta semana da Moody’s Investors Services de colocar a posição de crédito da Odebrecht sob revisão devido ao “dano à reputação” sugerem que pouca gente no mercado previu a queda.
“Havia essa ideia de inocência coletiva”, me disse Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda. “Se todos estavam aceitando propinas, então ninguém era culpado. Agora esse falso senso de segurança acabou”.
Os bardos da Polícia Federal, que chamaram a operação na Odebrecht de Erga Omnes — “vale para todos” em latim, ou seja, que a lei se aplica para todos –, disseram sua palavra.
Agora a Justiça brasileira dirá a dela.
Reportagem de Marc Margolis
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