“Brasil é um carro de alta performance com o freio de mão puxado”, diz Flávio Rocha

Em entrevista ao InfoMoney, dono da Riachuelo diz ver divisor de águas para a política brasileira em 2019 e grande possibilidade para uma guinada liberal

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A aproximação das eleições mais imprevisíveis dos últimos tempos traz ao Brasil a possibilidade de dar tração a um novo ciclo político em curso, em que os grandes conflitos da sociedade não se dão mais sob a velha roupagem de ricos contra pobres, empregados contra empregadores. Essa é a leitura do empresário Flávio Rocha, presidente do grupo Riachuelo, ex-deputado federal e fiel defensor dos princípios liberais na economia e conservadores nos costumes na cena política nacional.

Em entrevista concedida ao InfoMoney, um dia após o lançamento de um manifesto em defesa da adoção de uma agenda pró-mercado no Brasil, o empresário do setor varejista disse acreditar que os ventos hoje são mais favoráveis à forma de pensamento que defende. “Acredito que o momento é muito propício para uma guinada liberal em termos econômicos”, observou durante a conversa. Há tempos que a roupagem do livre mercado esteve tão na moda como nos dias de hoje.

“No Brasil, houve uma deformação. O peso da carruagem estatal já é maior que sua força de tração. O carrapato ficou maior que o boi, e, quando isso acontece, os dois morrem”, afirmou o empresário. Este seria o pano de fundo para o que o empresário entende como o verdadeiro conflito central da sociedade brasileira atual, entre os que produzem (trabalhadores, empresários e investidores) e quem se aproveita às custas da máquina estatal.

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“Talvez com 60 ou 70 anos de atraso, a gente vai decidir, nessa eleição, que tipo de país nós queremos: um país cujo protagonista é o Estado ou um país cujo protagonista é o indivíduo e a família”, disse Rocha. “Gostaria de ver o Brasil de volta aos trilhos da racionalidade, calcado no binômio que é a única fórmula de prosperidade e desenvolvimento: democracia e livre mercado. Chega de experiências exóticas, é o momento de darmos um choque de capitalismo no Brasil. O Brasil é um carro de alta performance com o freio de mão puxado. Vamos projetar um Estado compatível com a demanda da sociedade. O Estado não pode mais servir a essa burocracia que se apoderou dele, ele existe para servir na ponta, o usuário. A reforma do Estado é imprescindível, mas isso passa por uma autorização expressa nas urnas, por um eleitor que amadureceu e está pronto para homologar essa virada de página na nossa história”.

Quando questionado sobre a compatibilidade de tal agenda com políticas de combate à desigualdade no Brasil, o empresário apontou ineficiências no próprio Estado como fator responsável por potencializar o problema no lugar de saná-lo. “O processo de inclusão só acontece quando há prosperidade, que aumenta a demanda por mão de obra, melhora os salários e inclui de fato. O centro [do espectro ideológico] são aqueles que admitem que o mercado é a melhor forma de gerar riqueza, mas que precisa haver um Estado para distribuí-la. Eu sou daqueles que acham que o Estado é tão ineficiente que até sua caridade é da pior qualidade. O Estado brasileiro é um exemplo de Robin Hood às avessas. Nada mais fácil que tributar um trabalhador de carteira assinada. O Estado faz caridade às avessas ao tributar o pobre para subsidiar os privilégios, seus supersalários. O Brasil é desigual, sim, mas, se você tirar o Estado, ele fica menos desigual. O mercado é a mão de Deus intercedendo sempre a favor do mais trabalhador, do mais talentoso e esforçado”, pregou.

É neste contexto que surge o movimento “Brasil 200”, em referência aos 200 anos da independência do país, a serem comemorados no último ano de mandato do próximo presidente eleito. Na avaliação de Rocha, nos últimos anos, o empresariado furtou-se de parte de seu papel social e político. “Temos conversado muito isso entre nossos colegas empresários, e acho que, simultaneamente, caiu a ficha na cabeça de muita gente da parcela de culpa que temos neste momento difícil que estamos vivendo. O empresário tem um papel indelegável de ser o grande guardião da competitividade de um país. Ele tem que fazer a interlocução entre economia e política”, reconheceu durante a entrevista. Nós ficamos restritos na zona de conforto das quatro paredes das nossas empresas — até as entidades empresariais acho que passaram a cuidar muito mais da árvore, e não da floresta –, e o ambiente de negócios, que é o ecossistema econômico, degradou-se de forma absurda, praticamente tirando o Brasil do jogo competitivo”.

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A ideia agora é reverter esse quadro, com uma posição mais engajada na política, com a disseminação de valores liberais em favor do livre mercado. “Estamos às vésperas de uma eleição que vai eleger presidente, governadores, senadores e deputados que vão construir o país, ou pelo menos os últimos quatro anos do Brasil dos 200 anos da independência. Então, 2018 é uma eleição absolutamente fundamental, em que temos de não repetir os erros do passado e fazer um país calcado na única fórmula que deu certo no mundo todo e que foi esquecida: democracia e livre mercado. É com esse intuito que resolvemos sair da moita e assumir um maior protagonismo. Acho que é hora de ficar para trás o empresário-moita e vir à tona o empresário-cidadão, participando e contribuindo nesse processo”, explicou o empresário.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.