Brasil e China reforçam perguntas sobre chegada de nova ordem mundial

Visita de comitiva presidencial e comentários sobre comércio bilateral levam RGE a discutir câmbio e política internacional

Thiago Gomes Amorim

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SÃO PAULO – A viagem do presidente Lula à China chegou ao fim e, entre discursos sobre a crise e promessas de investimentos, um ponto aparece quase como consenso na opinião dos analistas: a relação entre os dois países tem ficado mais próxima e já há quem defenda que uma nova ordem na mundial pode estar prestes a aparecer.

Entre uma e outra reunião, Lula reiterou o interesse de utilizar o yuan e o real nas relações comerciais, deixando de adotar a moeda norte-americana como referência internacional. “Por que duas importantes economias como China e Brasil não podem usar suas próprias moedas? Nós já fazemos isso com a Argentina, poderíamos adotar com os chineses” sugeriu o presidente, enquanto deixava Pequim.

A equipe de analistas do RGE observou com atenção a declaração e, ponderando dados sobre os dois países, enxergou de forma quantitativa o aumento da proximidade. “A China superou os EUA e se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. O país latino-americano é um dos poucos a ter superávit com os chineses, que importaram US$ 11 bilhões a mais do que exportaram em 2008”, comentou o núcleo de pesquisa em relatório divulgado na última terça-feira (19).

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Atenção às moedas

Na opinião do RGE, o uso do yuan no comércio com o Brasil pode ser um importante passo para popularizar a divisa chinesa, impacto semelhante ao proposto nas diversas operações de swaps firmadas entre a China e diversos emergentes. “Esses acordos são uma forma de oferecer suporte para parceiros estratégicos. O swap com a Argentina deve ajudar a financiar o comércio com o país, por exemplo”, explicaram os analistas.

Entretanto, os especialistas ressaltaram que quanto mais a moeda chinesa circular no exterior, menor controle sobre ela terão as políticas formuladas pelo Banco Central. “Com isso, nós acreditamos que é possível que as metas de curto prazo, voltadas para a estabilidade da economia, possam entrar em conflito com as de horizontes mais distantes, que no geral visam um padrão mais sustentável de crescimento econômico”.

Além da possibilidade de conflito, os impactos do uso de moedas locais no comércio bilateral podem ser significantes pelo maior uso das duas como reserva de valor. “Isso poderia ter um efeito expressivo no mercado de câmbio e torna-se importante quando enxergamos que muitos países estão claramente tentando diversificar suas reservas, hoje em dólares”, avaliou o RGE.

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Atenção às semelhanças

Segundo o núcleo de pesquisa liderado por Nouriel Roubini, apesar da China continuar comprando títulos do governo dos EUA, ela tem mostrado que está procurando formas de diversificar suas aplicações, aumentando, por exemplo, suas reservas em ouro. “No Brasil, a história não é tão diferente e o país já reduziu suas posições em papéis norte-americanos tanto de curto, como de longo prazo”.

Nos campo das instituições, os dois têm demonstrado interesses parecidos em diversas organizações internacionais, indo em busca de maior representatividade no âmbito das relações exteriores. Partiu do Brasil o interesse em levar os emergentes a participar de debates sobre a estabilidade do sistema financeiro mundial e, agora, ambos fazem parte do G-20, que é o principal órgão envolvido em como solucionar a crise.

As particularidades de cada um, aliadas às dificuldades em campos mais amplos, com a política, acabam pesando, porém, contra os sinais de que as coisas estão diferentes. A conclusão do RGE acaba não sendo a mais radical de todas: “mesmo com tantas mudanças, ainda vai levar muito tempo até tudo ser diferente”.

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