Paralisação de rodovias e protestos são maiores riscos para Lula após atos de 8 de janeiro, diz consultoria

Prospectiva reforça que instituições mantiveram unidade após invasões, mas não descarta novos episódios de menor impacto em ambiente de polarização política

Luís Filipe Pereira

Esplanada dos Ministérios (Ana Volpe/Agência Senado)

Publicidade

Após os ataques golpistas à sede dos Três Poderes, em 8 de janeiro, em Brasília, e uma resposta articulada das principais instituições, a consultoria política Prospectiva não descarta a possibilidade de episódios de menor intensidade institucional, como novos bloqueios de rodovias por caminhoneiros – como se observou após o segundo turno das eleições ou na greve de 2018 – ou protestos em centros urbanos.

A avaliação consta do relatório “Latin America 2023 Scenarios” (Cenários para a América Latina em 2023, em tradução livre), na qual os analistas políticos se debruçam sobre as perspectivas para a região.  Na seção sobre o Brasil, os especialistas dizem não acreditar que as invasões promovidas por extremistas ao Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF) propiciem algum tipo de risco econômico relevante nos próximos meses, mas destacam o clima de tensão entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apoiadores de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

“As instituições continuam unidas contra ações extremas e nenhum risco econômico de maiores proporções é esperado, mas o bloqueio de rodovias por caminhoneiros e protestos nas grandes cidades permanecem como um risco, principalmente se houver aumento na tarifa de transporte público e no preço dos combustíveis. A proximidade de Lula com sindicatos e movimentos sociais pode inibir possíveis greves”, observam.

Masterclass

O Poder da Renda Fixa Turbo

Aprenda na prática como aumentar o seu patrimônio com rentabilidade, simplicidade e segurança (e ainda ganhe 02 presentes do InfoMoney)

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Na avaliação da Prospectiva, as instituições brasileiras mantiveram a unidade após o episódio. Citando os apoios arregimentados junto a PSD, União Brasil e MDB para aprovar a PEC da Transição – definida como “medida de relaxamento fiscal” – ainda em dezembro de 2022, a consultoria entende que o ataque golpista “facilitou” a articulação de uma base de apoio a Lula no Congresso Nacional.

Ainda de acordo com o relatório, antes dos atos golpistas de 8 de janeiro, na tentativa de formar uma coalizão que pudesse garantir estabilidade pelos próximos quatro anos, o governo eleito por mais de 60 milhões de brasileiros nas eleições de outubro se valeu de um arranjo político em duas frentes.

Primeiramente, como forma de contemplar as siglas que o apoiaram nas eleições de outubro, Lula distribuiu aproximadamente metade dos ministérios a outros partidos além do PT – concessão muito superior à de 21% dos ministérios em 2003 ou de 27% em 2007, anos de início de seus dois mandatos presidenciais anteriores.

Continua depois da publicidade

Em um segundo movimento, destaca a consultoria, o novo governo também tem se articulado pela reeleição dos presidentes do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP).

Na análise do cenário político atual, a Prospectiva acredita que a atmosfera de polarização poderá ser um desafio ao novo governo e relembrou que a “frente ampla” constituída para dar sustentação à candidatura de Lula e que garantiu a vitória do petista nas urnas para um inédito terceiro mandato não assegurou ao governo eleito o apoio majoritário no Congresso Nacional.

“A formação da Frente Ampla de partidos de centro-esquerda, que garantiu a Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições brasileiras de 2022 não se traduziu em maioria legislativa. Muito pelo contrário, a maioria alcançada pela centro-direita impõe desafios significativos de governabilidade”, diz o documento.

No cenário econômico, o relatório aponta a perspectiva de uma taxa de desemprego em 8,4% e inflação de 5,36%. A previsão é que a taxa Selic sofra uma redução de 13,75% para 12% até dezembro.

América Latina

Para a América Latina, a Prospectiva projeta um crescimento econômico de 1,7%, reafirmando previsão do Fundo Monetário Internacional.

Na medida em que a percepção de preços favoráveis de commodities pode estar se dissipando – sobretudo em razão de uma conjuntura diversa à dos anos 2000 -, a análise destaca que três eventos internacionais serão preponderantes para a economia regional: a política monetária do Federal Reserve nos Estados Unidos, o desempenho da economia chinesa e a guerra entre Rússia e Ucrânia

De acordo com o relatório da Prospectiva, além do Brasil, outros três países da América Latina – Chile, Colômbia e Peru – terão um Legislativo marcado pelo alto índice de  fragmentação partidária neste ano, o que exigirá um esforço maior dos chefes de governo na interlocução com as casas legislativas para a formação de coalizões, como ocorreu no caso da PEC da Transição, no Brasil.

Em outras palavras, a tendência é que nenhuma democracia regional consiga unir altos índices de apoio no legislativo e baixa fragmentação partidária no Congresso. Deste modo, na atual conjuntura da região, quanto maior o arranjo de forças políticas para consolidar uma aliança, grandes também são as chances de unir grupos ideologicamente diversos.

A alta fragmentação partidária a nível legislativo poderá impactar diretamente na avaliação dos presidentes pelos eleitores. Segundo a Prospectiva, os líderes políticos da América Latina terão, de maneira geral, taxas de aprovação tímidas em 2023, na casa dos 38%.

O mandatário da República Dominicana, Luis Abinader, é o único presidente que chega a este ano com uma aprovação interna considera alta pela consultoria (60%), seguido pelo mexicano Lopez Obrador (59%) e o costa-riquenho Rodrigo Chaves (56%).

Na outra ponta da lista, com índices abaixo da casa dos 20% estão a peruana Dina Boluarte (13%), o equatoriano Guillermo Lasso (17%), o paraguaio Mario Abdo Benítez (17%) e o argentino Alberto Fernández (19%).

Newsletter

Infomorning

Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.