Bolsonaro vê rejeição chegar a 61% e risco de “voto útil” contrário crescer, mostra XP/Ipespe

Apesar de liderar corrida presidencial em cenários sem o ex-presidente Lula, deputado é visto como pior presidente para o Brasil por 29% dos eleitores, maior taxa entre os candidatos

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A poucos dias do início da campanha no rádio e na televisão, onde deverá ser alvo de ataques e terá pouco espaço para se defender, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) mantém a liderança da corrida presidencial nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas também vê sua rejeição atingir o maior nível já registrado. É o que mostra pesquisa realizada pelo Ipespe entre 27 e 29 de agosto, a 15° encomendada pela XP Investimentos. O levantamento, registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-07252/2018, ouviu 1.000 pessoas e tem margem máxima de erro de 3,2 pontos para cima ou para baixo.

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Segundo a pesquisa, Bolsonaro manteve apoio de uma faixa entre 21% e 23% dos entrevistados, dependendo do cenário considerado. A maior taxa é registrada quando a candidatura de Lula não é considerada. Preso há quase cinco meses após ser condenado por unanimidade em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o petista está potencialmente inelegível em função da Lei da Ficha Limpa. Neste caso, Bolsonaro apresenta vantagem de até 10 pontos percentuais em relação ao adversário mais bem posicionado, no caso Marina Silva (Rede), com 13% das intenções de voto. A ex-senadora está tecnicamente empatada com o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), com 10%, e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), com 9%.

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O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, atual vice na chapa de Lula e cotado como o favorito para substituí-lo ao longo da disputa, aparece com 6% das intenções de voto. O patamar é o mesmo da semana passada e 1 ponto percentual abaixo da máxima registrada em meados de agosto. Nesta simulação, ele está tecnicamente empatado com o ex-senador Álvaro Dias (Podemos) e o empresário João Amoêdo (Novo), nanico considerado a grande surpresa deste momento da corrida eleitoral — só no cenário espontâneo, quando os nomes dos candidatos não são apresentados aos entrevistados, ele conta com o apoio de 3%, mesmo patamar de Alckmin, Ciro e Marina, e atrás apenas de Lula (19%) e Bolsonaro (16%).

Haddad sobe para 13% quando seu nome é acompanhado da informação de que ele seria o candidato “apoiado por Lula” na disputa, ocupando, assim, a segunda colocação na corrida — 8 p.p. atrás do líder Bolsonaro. Neste caso, o petista aparece tecnicamente empatado com Ciro Gomes (10%), Marina Silva (10%) e Geraldo Alckmin (8%). Brancos, nulos e indecisos somam 28% nesta simulação. Quando Lula aparece como candidato, a taxa cai para 15%.

De acordo com o levantamento, a transferência de votos de Lula a Hadad, nesta simulação, é de apenas 32%, a mesma taxa da semana anterior. Como no momento o PT tem adotado a estratégia da insistência na candidatura de Lula, os esforços na transferência de votos a Haddad ainda não se intensificaram, embora o ex-prefeito já tenha começado a percorrer o País para difundir as ideias da campanha petista. No partido há controvérsia sobre quando a substituição de candidatura deve ocorrer. Legalmente, o prazo para isso ocorrer é até 17 de setembro, 20 dias antes do primeiro turno.

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Apesar de liderar a corrida presidencial nos cenários mais prováveis (sem Lula), Bolsonaro enfrenta uma crescente taxa de rejeição (confira detalhes abaixo), o que pode afetar seu desempenho em eventual disputa de segundo turno. A pesquisa XP/Ipespe também perguntou aos eleitores qual dos candidatos seria o pior presidente para o Brasil. Para 29%, a resposta seria Bolsonaro, ao passo que 23% apontam para Haddad e 9% para Marina Silva. O deputado só não é o mais indicado entre os eleitores de Alckmin e Álvaro Dias. Esta pergunta ajuda a indicar caminhos de um possível “voto útil” no primeiro turno e um efeito de veto a um candidato em eventual disputa de segundo turno.

Confira os cenários de primeiro turno testados pela pesquisa:

Pesquisa espontânea: sem apresentação de nome dos candidatos

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Cenário 1: com Lula candidato

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Cenário 2: com Fernando Haddad candidato pelo PT

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Cenário 3: com Fernando Haddad, “apoiado por Lula”

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Migração de votos de Lula: Cenário 1 para Cenário 3

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Confira a série histórica das pesquisas XP/Ipespe.

Segundo turno

Foram testadas sete situações de segundo turno. Em eventual disputa entre Alckmin e Haddad, o tucano venceria por 36% a 24%, com 40% de brancos, nulos e indecisos. A diferença chegou a ser de 16 pontos percentuais a favor do candidato do PSDB em três semanas.

Em uma simulação de disputa entre Lula e Bolsonaro, o petista aparece à frente, com 45% das intenções de voto contra 34%, acima do limite máximo de margem de erro de ambos. Brancos, nulos e indecisos somam 21%. Cinco semanas atrás, a vantagem numérica de Lula era de 6 pontos, o que configurava empate técnico. No início da série histórica, o deputado aparecia 2 pontos à frente, também em situação de empate técnico, já que, pela margem de erro (3,2 p.p.), o petista poderia até superá-lo.

Caso Bolsonaro e Alckmin se enfrentassem, a situação seria de empate, com ambos registrando 35% das intenções de voto. Brancos, nulos e indecisos somam 30%. A diferença entre os candidatos chegou a ser de 7 pontos percentuais a favor do parlamentar na quarta semana de maio, acima do limite da margem de erro de ambos. Em nenhum momento até aqui o tucano esteve à frente, embora esta seja a segunda vez em que eles aparecem empatados numericamente.

Em eventual disputa entre Marina Silva e Bolsonaro, o cenário também é de empate técnico, com a ex-senadora numericamente à frente por 37% a 34%. Brancos, nulos e indecisos somam 29%. O deputado esteve numericamente à frente nos dois primeiros levantamentos da série, realizados na terceira e quarta semanas de maio, quando a diferença chegou a ser de 6 pontos percentuais, também dentro do limite da soma das margens de erro. Os dois estão tecnicamente empatados nesta simulação desde a primeira pesquisa realizada, em maio.

Empate técnico também é observado na simulação de disputa entre Alckmin e Ciro, com o tucano numericamente à frente por 34% a 29%. A diferença, dentro do limite das margens de erro, é a mesma das últimas três semanas. Brancos, nulos e indecisos agora somam 37%. Na última semana de junho, os dois apareciam com 32% das intenções de voto. Já na primeira semana daquele mês, o pedetista esteve numericamente à frente por diferença de 3 pontos, único momento em que liderou, embora dentro da margem de erro.

Se Bolsonaro e Ciro se enfrentassem em uma disputa de segundo turno, o cenário seria de empate técnico, com o pedetista numericamente à frente com 34% das intenções de voto, contra 32% do parlamentar. É a primeira vez na série histórica que Ciro pontua mais nesta simulação. Brancos, nulos e indecisos agora somam 34%. Nos dois primeiros levantamentos realizados, em maio e abril, o deputado vencia a disputa com diferença superior à soma das margens de erro dos candidatos.

A pesquisa também simulou um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Neste caso, o quadro também é de empate técnico, com o deputado numericamente à frente por placar de 37% a 34%. O grupo dos “não voto” soma 29%. Apesar da vantagem a favor do parlamentar, esta é a menor diferença já registrada entre ambos. Em abril, Bolsonaro chegou a contar com gordura de 11 pontos percentuais.

Rejeição aos candidatos

A pesquisa também perguntou aos entrevistados sobre os candidatos em que não votariam sob nenhuma hipótese. Pela primeira vez desde que o levantamento começou a ser feito, em maio, Bolsonaro atingiu a marca de 61% e passou a liderar numericamente o ranking, em condição de empate técnico com todos os candidatos testados, exceto Álvaro Dias, ainda desconhecido por 31% dos eleitores. Lula oscilou 2 pontos percentuais para baixo, chegando aos 58% de rejeição, ao passo que Marina Silva manteve-se na taxa de 60%, seu maior patamar. Alckmin e Ciro têm 59%, 3 pontos a mais que Haddad, ainda desconhecido por 24% dos entrevistados. A trajetória dos principais nomes nas últimas sete pesquisas está na tabela abaixo:

CANDIDATO DE 16 A 18/07 DE 23 A 25/07 DE 30/07 A 01/08 DE 06 A 08/08 DE 13 A 15/08 DE 20 A 22/08 DE 27 A 29/08
Lula 60% 60% 61% 60% 60% 60% 58%
Jair Bolsonaro 53% 55% 57% 57% 58% 59% 61%
Marina Silva 57% 59% 59% 59% 60% 60% 60%
Ciro Gomes 59% 58% 61% 60% 59% 59% 59%
Geraldo Alckmin 58% 58% 60% 57% 59% 60% 59%
Álvaro Dias 47% 48% 47% 46% 48% 48% 48%
Fernando Haddad 56% 59% 58% 56% 54% 54% 56%

Fonte: XP/Ipespe

Metodologia

A pesquisa XP/Ipespe foi feita por telefone, entre os dias 27 e 29 de agosto, e ouviu 1.000 entrevistados em todas as regiões do país. Os questionários foram aplicados “ao vivo” por entrevistadores (com aleatoriedade na leitura dos nomes dos candidatos nas perguntas estimuladas) e submetidos a fiscalização posterior em 20% dos casos para verificação das respostas. A amostra representa a totalidade dos eleitores brasileiros com acesso à rede telefônica fixa (na residência ou trabalho) e a telefone celular, sob critérios de estratificação por sexo, idade, nível de escolaridade, renda familiar etc.

O intervalo de confiança é de 95,45%, o que significa que, se o questionário fosse aplicado mais de uma vez no mesmo período e sob mesmas condições, esta seria a chance de o resultado se repetir dentro da margem de erro máxima, estabelecida em 3,2 pontos percentuais. O levantamento está registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo código BR-07252/2018 e teve custo de R$ 30.000,00.

O Ipespe realiza pesquisas telefônicas desde 1993 e foi o primeiro instituto no Brasil a realizar tracking telefônico em campanhas eleitorais, a partir de 1998. O instituto tem como presidente do conselho científico o sociólogo Antonio Lavareda e na diretoria executiva, Marcela Montenegro.

Em entrevista concedida ao InfoMoney em 12 de junho, Lavareda explicou as diferenças de metodologias adotadas pelos institutos de pesquisa e defendeu a validade de levantamentos feitos tanto presencialmente quanto por telefone, desde que em ambos os casos procedimentos metodológicos sejam seguidos rigorosamente, com amostras bem construídas e ponderações bem feitas. Veja as explicações do sociólogo:

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.