Bolsonaro tem melhor avaliação entre investidores do que entre a população

Segundo levantamento feito pela XP Investimentos entre 25 e 27 de fevereiro, 70% de um grupo de 122 investidores institucionais avaliam o atual governo como "ótimo" ou "bom", enquanto apenas 3% o classificam como "ruim" ou "péssimo"

Marcos Mortari

(Valter Campanato/Agência Brasil)

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SÃO PAULO – Quem acompanhou o último processo eleitoral dificilmente imaginaria que o candidato Jair Bolsonaro (PSL), frequentemente associado por adversários a comportamentos corporativistas contrários aos interesses do mercado financeiro e posturas estatizantes, conquistaria a confiança dos investidores e a manteria em altos patamares no início de sua gestão.

A lua de mel com o mercado, oriunda do casamento com o liberalismo de Paulo Guedes e de acenos à ortodoxia econômica, surtiu efeito tão positivo que hoje o otimismo de investidores supera o dos próprios eleitores em relação à atual gestão.

É o que mostra um comparativo entre as últimas pesquisas de aprovação do governo e levantamento recente feito pela XP Investimentos com 122 investidores institucionais.

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Dois levantamentos de fevereiro mostram avaliações positivas sobre o governo Bolsonaro na faixa de 40% e negativas pouco abaixo de 20%. O primeiro, XP/Ipespe, realizado entre os dias 11 e 13 daquele mês. O segundo, CNT/MDA, feito entre os dias 21 e 23.

Os detalhes estão nos dois gráficos abaixo:

1) Avaliação do governo (XP/Ipespe)

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2) Avaliação do governo (CNT/MDA)

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Os números são mais baixos que os de seus antecessores eleitos, também extraídos no início dos respectivos mandatos. De acordo com levantamento feito pelo site Poder360, a aprovação de Bolsonaro é 9,3 pontos percentuais menor que a registrada por Dilma Rousseff em agosto de 2011 e 16,8 pontos percentuais abaixo da marca de Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2003.

O nível de “ótimo” e “bom” do atual presidente também é 17,2 p.p. menor que o registrado por Fernando Henrique Cardoso em fevereiro de 1995. Ainda assim, o desempenho do atual presidente junto ao eleitorado ainda é considerado favorável para a condução de suas agendas.

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Presidente pró-mercado

Entre os investidores, Bolsonaro conta com mais elevada popularidade, embora a comparação entre os resultados de janeiro e fevereiro indiquem um enfraquecimento da lua de mel em 16 p.p. (em contraste com a estabilidade observada entre a população).

Segundo levantamento feito pela XP Investimentos entre 25 e 27 de fevereiro, 70% de um grupo de 122 investidores institucionais avaliam o governo como “ótimo” ou “bom”, enquanto apenas 3% o classificam como “ruim” ou “péssimo”.

Os detalhes estão no gráfico a seguir:

3) Aprovação do governo entre os investidores (XP Investimentos)

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Na última semana, Bolsonaro agradou o mercado ao entregar ao Congresso Nacional uma proposta de reforma da Previdência considerada ampla e profunda, com impacto fiscal estimado em R$ 1,16 trilhão em dez anos.

Os investidores, contudo, têm manifestado preocupação com a capacidade de articulação política do governo e o risco de desidratação significativa da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) no parlamento, além de acenos precoces dados pelo próprio presidente sobre negociações em pontos importantes do texto.

Ontem, Bolsonaro disse a jornalistas que estaria disposto a negociar uma redução da idade mínima para mulheres, dos 62 anos propostos para 60 anos. O presidente ainda admitiu que pode haver mudanças nas regras do BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a idosos e deficientes de baixa renda. Os acenos derrubaram os mercados.

Favorito

O recuo recente fez com que Bolsonaro ficasse abaixo dos números de seu antecessor, Michel Temer – admirado pela equipe econômica montada, capitaneada por Henrique Meirelles. O emedebista vivia de forma intensa a contradição entre aprovação entre os investidores e repúdio popular.

Em dezembro, mesmo após não ter conseguido aprovar sua reforma previdenciária, a gestão Temer era considerada “ótima” ou “boa” por 78% dos agentes econômicos consultados, ante 8% de avaliações positivas entre a população.

4) Aprovação do governo Temer (XP Investimentos)

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Horizonte favorável

As expectativas com Bolsonaro, porém, continuam elevadas e indicam que o atual presidente pode voltar a superar Michel Temer em simpatia junto ao mercado.

Segundo a sondagem da XP Investimentos com investidores institucionais, 86% esperam que a gestão seja “ótima” ou “boa”, contra 2% de expectativas negativas.

5) Expectativa com governo Bolsonaro (XP Investimentos)

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.