Bolsonaro se defende de acusações: “São infundadas e o golpe não aconteceu”

Ex-presidente se tornou réu no Supremo Tribunal Federal, mas continua defendendo sua inocência, alegando que não houve tentativa de golpe

Marina Verenicz

Após se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro rebateu as acusações de tentativa de golpe de Estado e continuou sua defesa sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. Em suas manifestações, o ex-presidente reiterou que as acusações são “muito graves e infundadas”.

Bolsonaro afirmou que, durante o processo de transição, pediu àqueles que estavam protestando para desmobilizarem, mas que seu pedido foi descumprido.

“Ato contínuo, começamos a transição. Alguns dias depois desse pronunciamento, Augusto Heleno começava a passar o governo. Eu fiz um pronunciamento para os acampados desmobilizassem. Descumpriram esse pedido meu”, explicou o ex-presidente.

Ele ainda frisou que suas intenções nunca foram de criar caos no país, mas sim de manter a ordem durante o processo de transição.

Voto impresso

Em relação às acusações de tentar fraudar as eleições de 2022, Bolsonaro voltou a defender a ideia do voto impresso, afirmando que desde 2012 já havia levantado a questão no Congresso.

“Eu não sou obrigado a confiar num programador, eu confio na máquina, mas não sou obrigado a confiar no programador. Na Venezuela, só foi possível apurar a fraude por conta do voto impresso”, argumentou. Ele ainda comparou o sistema eleitoral brasileiro ao da Venezuela e criticou a postura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em relação às eleições.

“Na Venezuela só foi possível detectar fraude por causa do voto impresso. Foi a primeira vez que a Venezuela adotou o voto impresso. Por que a Venezuela fez isso? Já que o sistema eleitoral dele era exatamente igual o nosso.”

As eleições na Venezuela usaram no ano passado a emissão de um recibo após cada votação, depositado em uma segunda urna para conferência posterior. A oposição, no entanto, usou os boletins de urna, que existem no Brasil, para contestar o resultado favorável ao ditador Nicolás Maduro.

Live, transição e inquérito

O ex-presidente ainda mencionou uma live que fez em 30 de dezembro de 2022, antes de viajar para os EUA, e disse que esse conteúdo não foi incluído nos inquéritos. “Infelizmente essas imagens não estão no inquérito porque o Alexandre de Moraes não quer”, afirmou.

O ex-presidente ressaltou que, após a derrota nas urnas, tomou medidas para garantir a transição de poder, incluindo nomeações dos comandantes militares indicados por Lula, como solicitado pelo presidente eleito.

Bolsonaro também se referiu a um inquérito, cujo número seria o 1361, conduzido pela Polícia Federal. O ex-presidente acusa o ministro Alexandre de Moraes de manter o procedimento em sigilo, sugerindo que os documentos ali contidos poderiam revelar uma fraude nas eleições de 2018.

“Por que não podemos tomar conhecimento desse inquérito? O que tem lá dentro? O que o ministro Alexandre de Moraes tenta esconder?”, questionou o ex-mandatário.

Dúvidas sobre lisura das eleições de 2022

Bolsonaro ainda alegou que o Tribunal Superior Eleitoral teria influenciado as eleições de 2022 a favor do candidato indicado por Lula, Fernando Haddad. “Houve interferência no TSE nas eleições de 2022? Não vamos falar de fraude aqui. 100% confiáveis as urnas? Durante as eleições, o TSE influenciou contra mim a favor do candidato Lula”, disse.

“O TSE também fez uma campanha massiva para jovens de 16 a 18 para tirar o título. Essas pessoas votam na esquerda, só isso dá diferença de 2 milhões de votos”, afirmou o ex-presidente.

“Não houve golpe”

Em relação ao golpe de Estado, Bolsonaro reiterou que não houve qualquer intenção de dar início a um golpe, afirmando que as acusações não fazem sentido. “Golpe tem conspiração com a imprensa, com o Parlamento, o Poder Judiciário, setores da economia, Forças Armadas, empresários, agricultores. Aí você começa a gestar um hipotético golpe. Nada disso houve”, disse.

Bolsonaro também criticou a atuação de Alexandre de Moraes, que, segundo ele, tem criado uma narrativa distorcida sobre o que aconteceu, afirmando que o ministro tentou justificar sua interpretação de um golpe ao associar o evento de 8 de Janeiro a uma teoria premeditada que ele começaria a gestar desde julho de 2021.

“Diz o Alexandre de Moraes que o golpe começou dia 29 de julho de 2021, um ano e meio antes de acabar 2022, e ele tinha que, para dar ênfase à ‘historinha’ dele, tinha que acabar no 8 de janeiro”, disse. “E como ele chegou nessa data? Pegou janeiro e começou a voltar. Nesse dia eu fiz uma live onde falei sobre o inquérito”.

Por fim, ele afirmou que teria deixado o Brasil, o dia 30 de dezembro de 2022, para não “passar a faixa para alguém com o histórico que o Lula tem”, citando que não configura crime “não passar a faixa presidencial”.