Bolsonaro reforça bases, fabrica memes, mas se distancia de 2 grupos: 4 análises sobre entrevista ao JN

Em entrevista na TV Globo, deputado sobreviveu ao tiroteio, falou sobre agenda cara aos seus eleitores, mas escorregou sobre equidade salarial por gênero e PEC das domésticas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O deputado Jair Bolsonaro (PSL) foi o entrevistado da vez no Jornal Nacional, da TV Globo, na noite da última terça-feira (28). Ele foi o segundo presidenciável a ser sabatinado pelos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos. No quadro, que durou 27 minutos, o parlamentar reforçou seu discurso de intolerância à violência e à criminalidade, da defesa ao que classifica de “família tradicional”, contra o chamado “kit gay”, e de combate à corrupção, buscando se contrapor à polarização entre PT e PSDB.

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Como em outras oportunidades, Bolsonaro apresentou-se como uma espécie de outsider na política, apesar da longa experiência parlamentar em Brasília. O candidato também reforçou a confiança em Paulo Guedes, o economista por ele escolhido para comandar o Ministério da Fazenda em eventual governo.

A entrevista teve diversos momentos de enfrentamento entre o candidato e os entrevistadores. No principal deles, a jornalista Renata Vasconcellos lembrou de afirmações do deputado sobre equidade salarial entre mulheres e homens. Bolsonaro disse que com certeza havia diferença nos rendimentos de Renata e Bonner e defendeu que a solução para a desigualdade salarial por gênero tem que ser dada pelo Ministério Público do Trabalho e pela Justiça.

Em outro momento, o deputado foi confrontado por discurso de seu vice, o general Hamilton Mourão, sobre a possibilidade de intervenção militar em caso de impasse para a crise brasileira. Em sua resposta, ele lembrou de 1964 e o apoio dado pelo Grupo Globo ao ingresso dos militares ao poder. Ao final do telejornal, Bonner leu nota da emissora em resposta à declaração.

Para além das trocas de farpas e dos ânimos acirrados, analistas políticos consultados pelo InfoMoney avaliam que o deputado conseguiu reforçar posições em temas que lhe são caros, o que pode ajudar na solidificação de sua base de eleitores. Por outro lado, as posições em temas como equidade salarial por gênero e a PEC das domésticas têm potencial de afastá-lo de faixas que hoje não o apoiam.

“O candidato saiu-se bem no início da entrevista, quando questionado sobre o novo na política e ressaltou não ter envolvimento em grandes escândalos de corrupção. No entanto, exaltou-se quando questionado sobre igualdade de gênero, homofobia e redução de direitos trabalhistas e atacou as Organizações Globo”, pontua o cientista político Ribamar Rambourg.

“Bolsonaro seguiu com a estratégia de reforçar o voto de seus apoiadores, mas pode ter se distanciado ainda mais da conquista de novos grupos de eleitores, como mulheres e setores de renda mais baixa”, complementa.

Para a equipe de análise política da XP Investimentos, o candidato não só sobreviveu ao tiroteio, como conseguiu defender pontos de seu programa de governo, trajetória e discurso. “Bolsonaro saiu-se bem, e vai ser um adversário duríssimo nessas eleições”, aponta.

“Será interessante avaliar o efeito colateral das suas afirmações mais controversas: quando coloca uma camada de concreto na sua intenção de votos, também tem reforçado sua rejeição”, ponderam os especialistas da XP (leia análise completa aqui).

“O saldo foi positivo para Bolsonaro. Ao contrário de Ciro, ele não foi pautado pelos entrevistadores. Por outro lado, o posicionamento à direita, abraçando causas polêmicas, tem uma limitação, agrada cerca de 1/3 do eleitorado”, observa Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice.

“Bolsonaro foi perguntado sobre temas que está acostumado a responder, e deu as mesmas respostas que está acostumado a dar. Ele chegou até aqui crescendo dessa forma, enfrentando jornalistas e não se deixando pautar. Sob esse ponto de vista, ele se saiu bem. Quem gosta de Bolsonaro vibrou, quem odeia segue odiando”, avalia o cientista político Paulo Moura, especialista em comunicação política.

Para ele, o deputado não cometeu erros de grande magnitude e teve pontos altos que rapidamente viraram memes nas redes sociais, como o caso do “kit gay” e dos salários desiguais dos entrevistadores. “A vantagem de Bolsonaro é que a produção de conteúdo é descentralizada. Muita coisa é feita por seguidores independentemente do núcleo central da campanha. Ninguém tem nada parecido a seu favor”, afirma. Antes mesmo da entrevista terminar, os memes já tomavam conta das redes sociais.

O especialista acredita que o fator político central dessas eleições é o poder que cada candidato tem de mobilizar eleitores. “Só quem tem isso são Bolsonaro e o PT”, analisa. Moura e Borenstein participarão do programa Conexão Brasília da próxima quinta-feira, às 10h (horário de Brasília), na InfoMoneyTV, para analisar o início das campanhas no rádio e na televisão e o efeito das redes sociais no processo.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.