Quarenta dias após a derrota nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou, na tarde desta sexta-feira (9), a apoiadores que defendiam sua permanência no comando do país, em tom dúbio.
Na fala que durou cerca de 15 minutos, Bolsonaro voltou a dizer que seu governo “despertou o patriotismo no Brasil”, colocou-se na posição de adversário do “sistema”, buscou dar explicações pelo longo (e muitas vezes criticado) silêncio e disse novamente que o país “uma encruzilhada”.
“Eu falei que viria aqui para ouvi-los e, se estou aqui, é porque, primeiro, acredito em Deus. Em segundo lugar, que devo lealdade ao povo brasileiro. Nós despertamos o patriotismo no Brasil. O povo voltou a admirar sua bandeira. O povo voltou a acreditar que o Brasil tem jeito”, disse. O discurso foi proferido uma hora após a eliminação da seleção brasileira de futebol da Copa do Mundo.
“Não é fácil você enfrentar todo um sistema. A missão de cada um de nós não é criticar, é unir. Muitas vezes, vocês têm informações que não procedem. Pelo cansaço, pela angústia e pelo momento, passam a criticar. Tenho certeza, entre as minhas funções garantidas na Constituição, é ser o chefe supremo das Forças Armadas”, afirmou.
Muitos dos presentes entoaram gritos golpistas, como “eu autorizo”, em referência a uma interpretação equivocada do artigo 142 da Constituição Federal, que trata do funcionamento das Forças Armadas − mas que é frequentemente emulado por bolsonaristas como amparo para uma possível intervenção militar no país. Em outro momento, houve um coro de “fica, Bolsonaro”.
“As Forças Armadas são essenciais em qualquer país no mundo. Sempre disse, ao longo desses quatro anos, que as Forças Armadas são o último obstáculo para o socialismo. As Forças Armadas, tenho certeza, estão unidas. As Forças Armadas devem, assim como eu, lealdade ao nosso povo, respeito à Constituição e são um dos grandes responsáveis pela nossa liberdade”, disse o presidente.
“As decisões, quando são exclusivamente nossas, são menos difíceis e menos dolorosas. Mas, quando elas passam por outros setores da sociedade, elas são mais difíceis e devem ser trabalhadas. Se algo der errado, é porque eu perdi a minha liderança. Eu me responsabilizo pelos meus erros, mas peço a vocês: não critiquem sem ter certeza absoluta do que está acontecendo”, prosseguiu.
Criticado até por alguns aliados por se manter em silêncio enquanto apoiadores se manifestavam em frente a quarteis e bloqueavam estradas, Bolsonaro também procurou dar uma resposta e disse que o período sem se manifestar “dói na alma”.
“Alguns falam do meu silêncio. Há poucas semanas, se eu saísse aqui e desse ‘bom dia’, tudo seria deturpado, tudo seria distorcido. Todos nós sabemos o que aconteceu ao longo desses 4 anos, ao longo do período eleitoral e o que foi anunciado pelo TSE”, afirmou.
“Nós estamos lutando pela liberdade até daqueles que nos criticam. O Brasil não precisa de mais lei, o Brasil precisa que suas leis sejam efetivamente cumpridas. Nós temos assistido, dia após dia, absurdos acontecerem aqui em nossa pátria”, prosseguiu sem entrar em detalhes.
Em sua fala, Bolsonaro também repetiu que “é fácil impor uma ditadura no Brasil” e disse que “estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada, um destino que o povo tem que tomar”.
“Quem decide o meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vai as Forças Armadas (sic) são vocês. Quem decide para onde vai a Câmara e o Senado são vocês também”, afirmou.
“Nunca é tarde para acordarmos e sabermos da verdade. Logicamente, quando você acorda, mais difícil é a missão. Não é ‘eu autorizo’, não. É ‘o que eu posso fazer pela minha pátria?’. Não é jogar a responsabilidade para uma pessoa. Eu sou exatamente igual a cada um de vocês que está aqui”, disse.
Primeiro presidente na Nova República a tentar a reeleição e ser derrotado, Bolsonaro disse, no entanto, que “nada está perdido”. “Vamos acreditar, vamos nos unir. Criticar só quando tiver certeza absoluta. Buscar alternativas e cada um ver o que pode de fato fazer pela sua pátria”, afirmou.
“Vamos vencer”, disse. “Se Deus quiser, tudo dará certo no momento oportuno”, concluiu.