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Inelegível desde junho de 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda impacta diretamente o rumo das eleições de 2026 — mas sua prisão na Superintendência da Polícia Federal, decretada em 22 de novembro deste ano, acelerou a movimentação do xadrez eleitoral e a busca por alianças.
Para especialistas, a bifurcação no campo conservador é uma realidade posta. A direita bolsonarista continuará disputando uma parcela do eleitorado com a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência, enquanto partidos mais alinhados ao centro podem buscar um postulante “moderado” que agrade mais os investidores, mas que não provoque instabilidade econômica com decisões acaloradas.

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Para o cientista político e professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB, Roberto Goulart, a questão central é entender se a centro-direita tem espaço para viabilizar um postulante após ter investido por anos na presença do sobrenome Bolsonaro em diferentes disputas eleitorais.
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“Jair Bolsonaro está conseguindo transferir votos para o seu filho. E isso se dá a um elemento importante: o sobrenome fincado. Nós vemos que a base social do bolsonarismo continua mobilizada”, afirma. “As primeiras pesquisas eleitorais mostram que o indicado para concorrer no lugar de Bolsonaro já desponta com mais de 30 pontos na pesquisa, muito melhor que, por exemplo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas”.
Os dados mais recentes da pesquisa Genial/Quaest, divulgados na terça-feira (16), mostram um cenário ambíguo para o nome de Tarcísio. O governador é o postulante da direita menos rejeitado pelo eleitor (47%), mas, ao questionar sobre a viabilização da sua candidatura, apenas 10% consideram votar no nome do Republicanos.
Flávio Bolsonaro, em contrapartida, tem 28% de potencial de voto, mas enfrenta rejeição significativamente maior (60%).
A comparação com outros nomes do campo conservador ajuda a dimensionar o ativo político do governador paulista, que desaponta em relação à expectativa do campo conservador.
Prisão esvazia discurso conservador
Se o sobrenome Bolsonaro influencia as urnas em 2026, o histórico atrelado à figura de seu patriarca, Jair Bolsonaro, certamente terá peso. Na visão de Goulart, a prisão do ex-presidente coloca em questão uma das principais bandeiras defendidas pela família: o combate à corrupção.
“Jair Bolsonaro não é um preso político, mas é claro que parte da sua base e os meios de comunicação alinhados ao seu projeto tentam cravar essa narrativa”, afirma. “Mas Bolsonaro não foi o único condenado, temos até generais presos. Fora isso, temos comportamentos muito atípicos, como deputados fugindo do país [Alexandre Ramagem e Carla Zambelli]. Todo esse fator encurta a chance de questionar a legalidade dessas prisões”, diz o cientista político.
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Goulart defende que atitudes de aliados e ex-aliados de Bolsonaro diante das condenações do STF enfraquecem o discurso de vítima do sistema e criam uma oportunidade para que outro postulante da direita dispute o voto bolsonarista.
Tarcísio, por exemplo, criticou a prisão do ex-presidente do ponto de vista humanitário, levantando questionamentos sobre a saúde de Jair e a idade avançada, 70 anos, para enfrentar o cárcere privado — mas não questionou a legalidade da pena imposta.
“Esse voto está em risco, mas é cedo para cravarmos uma migração. Temos que aguardar as pesquisas de março e abril, que já trazem uma definição de candidatos, para entender se Flávio terá opositores no campo conservador e quem serão eles”, afirma.
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Candidatura é refém do histórico familiar
A tentativa de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, em busca de sanções para pressionar o governo e o Judiciário brasileiro em nome de Jair Bolsonaro, piora o cenário político para o senador.
Flávio entra na disputa refém da pressão imposta por seu irmão, enquanto carrega o histórico da prisão do pai, com a promessa de tentar se vender como moderado. O questionamento, no entanto, é sobre qual eleitorado lhe resta.
Neste ano, Flávio chegou a comemorar nas redes sociais, e depois em entrevistas, as sanções impostas ao Brasil pelos Estados Unidos. Com o desgaste das tratativas nos EUA e o recuo de Trump tanto nas tarifas quanto na aplicação da Lei Magnitsky, o senador optou pelo silêncio.
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“Se o Flávio Bolsonaro tenta se descolar do seu irmão, mas ao mesmo tempo não demonstra nenhuma desautorização em relação às atitudes de Eduardo, não vejo muito espaço para que ele tente colar essa postura de moderado”, diz. “Essa atitude pode soar como uma negativa. O eleitor sabe que de moderado ele não tem nada. Soa falso”.