Bolsonaro perde apoio entre os mais pobres, e aprovação chega ao menor patamar em 7 meses, diz XP/Ipespe

Deterioração coincide com fim do pagamento do auxílio emergencial; 70% apoiam novo socorro, mas 49% acham que governo não o fará

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro em videoconferência (Fotos: Marcos Corrêa/PR)
O presidente Jair Bolsonaro em videoconferência (Fotos: Marcos Corrêa/PR)

SÃO PAULO – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a experimentar uma piora em seus níveis de aprovação junto ao eleitorado em fevereiro, movimento percebido sobretudo entre as faixas de menor renda da população. É o que mostra nova rodada da pesquisa XP/Ipespe, divulgada nesta segunda-feira (8).

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De acordo com o levantamento, o grupo de eleitores que consideram a atual administração ótima ou boa soma 30% – mesmo patamar registrado em julho de 2020. Em dois meses, as avaliações positivas do governo recuaram 8 pontos percentuais. São 10 p.p. a menos que o maior nível, registrado nos dois primeiros meses de mandato.

Já as avaliações negativas chegaram ao quarto mês seguido de oscilação ascendente, saltando de 31% para 42% no período. É também o maior patamar desde julho. Outros 25% consideram o governo regular, enquanto 3% não responderam.

A piora do cenário para Bolsonaro é impulsionada principalmente entre os eleitores mais pobres. No grupo com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos, as avaliações negativas do presidente foram de 31% em outubro para 45% em fevereiro.

O movimento também coincide com o fim do pagamento do auxílio emergencial, que beneficiou mais de 70 milhões de desempregados, trabalhadores informais e contemplados por outros programas sociais durante a pandemia. A última parcela do benefício foi paga em janeiro, mas há discussões no meio político sobre uma possível prorrogação, em meio à piora da crise sanitária no país.

Para 70% dos entrevistados, o governo deveria criar outro benefício semelhante ao auxílio emergencial por mais alguns meses ou ampliar o Bolsa Família. Outros 24% são contra a ideia. Mas a maioria (49%) não acredita que o governo adotará nenhum dos dois caminhos.

A rejeição ao governo Bolsonaro também cresceu de forma expressiva, entre janeiro e fevereiro, nas regiões Norte e Centro-oeste (de 32% para 40%) e Nordeste (de 43% para 48%), sobretudo nas periferias (de 46% para 56%). Em contraste, a aprovação do presidente cresceu na região Sul (de 31% para 35%).

A pesquisa XP/Ipespe foi realizada no período de 2 a 4 de fevereiro e ouviu 1.000 eleitores de todas as regiões do Brasil por meio de entrevistas telefônicas conduzidas por operadores. A margem máxima de erro é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

O levantamento também mostra que piorou a expectativa dos eleitores com relação aos próximos meses do governo. Para 42%, o restante do mandato de Bolsonaro deverá ser ruim ou péssimo – um salto de 9 p.p. em dois meses. Já os que esperam um restante de gestão positivo foram de 40% em dezembro para 34% em fevereiro.

Também cresceu entre os eleitores a percepção de piora no horizonte para o combate à corrupção. Na avaliação de 48%, os crimes de colarinho branco terão aumentado nos próximos seis meses. É o maior patamar registrado durante o atual governo. Quatro meses atrás, o grupo somava 40%. No primeiro mês de mandato, eram 17%.

Do ponto de vista econômico, 30% dos entrevistados acreditam que o Brasil está no caminho certo – queda de 9 p.p. em dois meses. Já os que veem o país no caminho errado foi de 50% para 57%, voltando ao maior patamar já registrado. Segundo o levantamento, 31% acreditam que suas dívidas irão aumentar nos próximos 180 dias, mas 60% veem altas chances de manter o emprego no período.

Combate à pandemia

O levantamento mostra que houve piora residual na avaliação da atuação de Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus. Oscilou de 52% para 53% o grupo dos que a veem como ruim ou péssima – percentual que cresce desde outubro (47%).

A avaliação positiva de Bolsonaro no combate à pandemia (22%) é pior que a de governadores (39%) e que a de prefeitos (41%).

Em relação ao momento da pandemia, há uma percepção mais otimista da população. De janeiro para cá, aumentou de 36% para 44% o grupo dos que dizem que o pior já passou. Segundo o levantamento, 47% ainda acham que o pior está por vir.

Também caiu o percentual dos que dizem estar com muito medo da doença. O grupo, que saiu de 28% em outubro para 42% em janeiro, agora reúne 39% dos entrevistados. Outros 36% dizem estar com um pouco de medo, ao passo que 24% não manifestaram preocupação.

Sobre a imunização, passou de 69% para 77% o grupo dos que dizem que com certeza irão se vacinar. Deles, apenas 25% acreditam que serão vacinados no primeiro semestre. Outros 40% acreditam que isso só ocorrerá na segunda metade do ano, enquanto 29%, apenas no ano que vem.

O Congresso pós-eleições

A imagem do Congresso Nacional junto aos eleitores segue arranhada. De acordo com o levantamento, 44% avaliam o parlamento como ruim ou péssimo, contra apenas 11% que o consideram ótimo ou bom.

A pesquisa, realizada poucos dias após a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o comando do Senado Federal, também mostra um crescimento tanto nas expectativas positivas quanto negativas quanto ao desempenho do Poder Legislativo nos próximos meses: 30% e 23%, respectivamente.

Para 44%, a relação dos novos comandantes das duas casas legislativas – formalmente apoiados pelo Palácio do Planalto nas eleições – e o presidente Jair Bolsonaro será positiva. Apenas 12% esperam um clima negativo entre as partes.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.