Bolsonaro “light”, Alckmin na defesa e um inusitado destaque: a opinião dos analistas sobre o debate da Band

Sem grandes novidades, o grande destaque acabou ficando para o até então ilustre desconhecido: o Cabo Daciolo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Um debate morno, sem tantas respostas sobre os principais problemas brasileiros e com poucos ataques, apontando que os candidatos ainda buscando reconhecer o terreno em que pisarão nos próximos meses. Essa foi a avaliação de alguns analistas sobre debate da TV Bandeirantes, ocorrido na última quinta-feira (9). 

Sem grandes novidades, um dos destaques acabou ficando com o até então ilustre desconhecido: Cabo Daciolo, que se apresentou ao eleitor brasileiro com discurso semelhante ao de Jair Bolsonaro. Enquanto isso, o deputado do PSL apresentou comedimento, assim como Ciro Gomes, que eram as apostas para que o debate ao menos tivesse momentos mais enérgicos. No jogo, Daciolo acabou cumprindo esse papel. 

Neste cenário, analistas políticos apresentaram discordâncias sobre quem se saiu bem ou mal no debate, enquanto o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, foi apontado como o mais visado. O candidato tucano, aliás, teve um desempenho firme e respondeu com segurança às perguntas no debate, mas a avaliação é de que será preciso mais para conquistar o leitor. 

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Confira abaixo a análise do debate da Band:

Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria

O primeiro debate, em geral, serve para entendermos as estratégias iniciais de cada candidato na busca pelo voto do eleitor. A importância é menor em relação ao conteúdo de respostas, que, quase em sua totalidade, mostram questionamentos treinamentos genéricos ou eventualmente com grau de detalhamento pouco efetivo na mobilização do leitor. 

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É mais interessante analisar à luz de como cada candidato pretende criar a narrativa da sua candidatura e entender o tipo de questionamento que eles fizeram entre si. Nesse sentido, ficou patente as estratégias dos nomes mais de centro, sobretudo Marina Silva e Ciro Gomes mirarem a candidatura Alckmin. Polarizar com o Bolsonaro ainda não foi a estratégia mais forte deste grupo. Foi um debate que em poucos momentos contou com grandes polarizações. Houve uma mudança clara de tom em relação às entrevistas individuais dos candidatos, eventualmente mais ameno do que o que vai aparecer na propaganda eleitoral gratuita.

A ausência de um nome do PT foi digna de nota, sendo uma oportunidade para que Ciro conquiste um eleitorado ao longo de agosto — ainda que, em boa medida, a figura do ex-presidente Lula tenha sido bastante citada, seja direta ou indiretamente, e com bastante repercussão nas redes sociais.

Foi um debate que não produziu muito material para ser explorado nas redes sociais nos próximos dias, que gerasse algum choque, seja positivo ou negativo, para nenhum dos nomes. Mas é parte natural do processo em um momento em que a questão eleitoral vai gerando acúmulo de evidências e material e pouco a pouco o eleitor vai se decidindo pelo seu candidato.

Já os nomes como Álvaro Dias e Henrique Meirelles devem ter muita dificuldade para superar um ponto de partida de baixa taxa de conhecimento. Nenhum deles mostra personalidade ou carisma capaz de gerar um choque e rapidamente colocá-los em um patamar de conhecimento e repercussão diante dos nomes que já têm algum histórico mais significativo nas disputas eleitorais. 

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Como esperado, foi um encontro que deu indícios das estratégias e da continuação da campanha, mas não trouxe nenhum elemento novo definidor dos rumos da eleição. O modelo, com oito candidatos, limita as interações e uma discussão mais detalhada. O zero a zero não foi ruim, porém, para quem está na frente nas pesquisas, como é o caso de Bolsonaro e Marina.

 A temida (ou esperada) explosão de Jair Bolsonaro não aconteceu em intensidade elevada que o comprometa daqui em diante. Já Geraldo Alckmin poderia ter saído maior do encontro se tivesse forçado uma comparação que o mostrasse mais preparado que o rival. Preferiu não fazer – escolheu Marina Silva para responder – e, se não saiu menor, ficou igual. 

A escolha dos candidatos, sobre qual rival vai responder à pergunta, é sintomática. Alckmin escolheu Marina duas vezes e, como dissemos, perdeu a chance de forçar a comparação direta com Bolsonaro. O deputado e Meirelles escolheram Alvaro Dias – candidato que dialoga com o público do tucano e pode ser útil para os dois rivais. O vácuo de Lula e do PT é simbólico. Exceto Guilherme Boulos no início – em uma versão Lula 1989 –, ninguém tentou explicitamente preencher essa lacuna. Indiretamente, Marina Silva é quem mais dialoga com esse eleitor.

Cabo Daciolo virou personagem – toda campanha tem seu personagem. No debate, teve como efeito exercer o papel de “Bolsonaro do Bolsonaro”, fazendo as vezes do diferente. Isso tem um efeito principal: pela comparação, leva Bolsonaro para a categoria dos candidatos “sérios”, e reduz o contraste do deputado do PSL com os demais.

Leia mais: 

– “50 tons de Temer” e poucos ataques: os destaques do primeiro debate eleitoral
 Quando acontecem o primeiro e o segundo turno das eleições

Iuri Pitta, diretor da Analítica Comunicação

Embora tenha sido bastante morno e de poucas surpresas, o debate indica algumas estratégias para o início da campanha oficial e da propaganda no rádio e na TV. Jair Bolsonaro começou nervoso, chegou a defender “cassação química” a estupradores, mas resistiu bem aos poucos ataques, vindos de Guilherme Boulos, e aproveitou para fazer dobradas com Álvaro Dias, Cabo Daciolo e até Ciro Gomes.

Geraldo Alckmin pode ser definido como sereno, pelos aliados, ou frio, pelos céticos. Fez propostas, muitas, que seu eleitorado já conhece, e o indeciso talvez não tenha entendido. Indica que vai assim até o fim do jogo, esperando adesão do eleitor mais por exclusão que por empolgação. A ver se a tática de Alvaro Dias tentar se vincular à Lava Jato e a Sergio Moro vai pegar – o que vira pedra no caminho do tucano.

Ciro Gomes foi aplicado em demonstrar moderação, mas talvez seja tarde para apagar a imagem de destempero. Marina foi Marina, sem nada de novo depois de quatro anos. E Henrique Meirelles precisa dar mais clareza ao que fala para convencer o eleitor – e não os presidentes – a chamá-lo para arrumar a casa. A falta de um candidato de fato prejudica o PT, que foi criticado por quase todos e só defendido uma vez por Boulos. 

Juliano Griebeler, diretor de relações governamentais da Barral M. Jorge

O primeiro debate mostrou parcialmente qual será a estratégia adotada pelos candidatos, mas sem causar grandes reviravoltas no quadro atual, algo que não era esperado. No primeiro debate os candidatos ainda estão buscando uma posição menos radical e mais conciliadora, mas à medida que mais encontros ocorrerem e chegarmos próximo à eleição, as perguntas devem ficar mais incisivas e o clima não deve ser tão ameno.

Alckmin foi o candidato mais visado pelas perguntas de seus oponentes, ainda assim, apesar de responder as perguntas de forma satisfatória, usa um linguajar que é difícil de assimilar por grande parte da população. Alckmin também direcionou suas duas perguntas para Marina Silva, evitando comparação com Bolsonaro ou com Álvaro Dias, candidatos que estão indo bem nos seus principais redutos eleitorais.

Bolsonaro foi bastante objetivo nas respostas e não se propôs a usar todo o tempo que tinha disponível, também direcionou perguntas a Álvaro Dias, acreditando poder crescer sobre o seu eleitorado. Ainda Cabo Daciolo serviu para amenizar a imagem de que Bolsonaro ao se colocar como o candidato mais fora do padrão tradicional e com perguntas mais polêmicas.

Os candidatos evitaram fazer perguntas para Ciro Gomes, ou para evitar que tenha espaço na televisão e cresça como candidato da esquerda – caso de Boulos – ou por receio das respostas e comentários que o candidato poderia fazer.

Meirelles teve um desempenho fraco, se complicando nas perguntas e respostas formuladas. E Marina Silva não conseguiu chamar a atenção com suas falas.

Carlos Eduardo Borenstein, analista político da Arko Advice

Foi um debate morno. Chamou atenção a postura mais propositiva do Alckmin. Ele partiu para o contraditório com Bolsonaro, por exemplo. O deputado, por sua vez, sentiu o peso do debate — afinal, foi seu primeiro como candidato a cargo Executivo. Não sofreu nenhum estrago, mas também não ganhou.

Meirelles mostrou conhecimento, mas tem um discurso muito técnico e de difícil entendimento. No campo da esquerda, Marina se saiu melhor que Ciro e Boulos. Ela tem um discurso não tão à esquerda como os outros dois, que buscaram o eleitor petista mais ideológico.

Álvaro Dias teve um posicionamento interessante, tentando se apresentar como uma espécie de candidato da Lava Jato.

No geral, ninguém perdeu nem ganhou nada.

Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores

O debate não representou nenhuma mudança e, sem a propaganda na TV, os candidatos não conseguem ampliar sua repercussão. Álvaro Dias e Meirelles foram os piores, enquanto Ciro e Bolsonaro foram os melhores. Alckmin teve desempenho Alckmin, morno, jogando na segurança e sem dar muita conversa a Bolsonaro. Ele vai esperar o horário eleitoral para acionar a artilharia contra Bolsonaro. Só Boulos enfrentou o deputado.

Ribamar Rambourg, economista e cientista político

O debate não trouxe grandes novidades. O destaque foi mesmo Cabo Daciolo, que se apresentou ao eleitor brasileiro com discurso semelhante ao de Jair Bolsonaro. O candidato do PSL passou quase despercebido; não foi um bom dia para o ex-capitão, que não pode falar dos temas que tem mais domínio.

Ciro Gomes adotou discurso conciliador, ao contrário do que muitos esperavam. Geraldo Alckmin foi o candidato mais questionado pelos adversários: no geral, saiu-se bem – estava bem preparado. Há poucos destaques em relação aos demais concorrentes, a exceção talvez tenha sido Guilherme Boulos, que não foi mal. É pouco provável, contudo, que o debate provoque alterações nas pesquisas de intenções de voto.

Outro detalhe: se PT demorar muito para escolher o Haddad vai complicar para o partido, que vai ficar fora das coberturas jornalísticas e debates. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.