Bolsonaro inicia 7 de Setembro em tom de campanha, com convocação de apoiadores e recados a adversários: “o que está em jogo é a nossa liberdade”

Em entrevista logo cedo, presidente disse que o "patriotismo ressurgiu" no país em sua gestão e elencou feitos do governo na área da economia

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro discursa em Brasília (Foto: Alan Santos/PR)

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O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, iniciou seus compromissos nesta quarta-feira (7), dia do Bicentenário da Independência do Brasil, com discursos em tom de campanha, repetindo a defesa da liberdade e recados a adversários políticos, além de uma convocação à população para ir às ruas.

Em entrevista concedida logo cedo à TV Brasil, Bolsonaro disse que o “patriotismo ressurgiu” no país durante sua gestão, elencou feitos do governo na área da economia e chamou apoiadores a marcarem presença nos atos do 7 de Setembro.

“Temos hoje já uma das gasolinas mais baratas do mundo. Temos o maior projeto social do mundo: os R$ 600 do Auxílio Brasil. Levamos água para o Nordeste. Hoje, incluímos aqueles até pouco tempo excluídos, obviamente, no mercado, com o PIX. Mais de 100 milhões de pessoas têm o PIX. Um governo que também deu uma carta de alforria a mais de 1 milhão de jovens que tinham dívidas com o Fies, perdoando 99% de suas dívidas. Um governo que acalmou o campo, titulando os assentados”, disse.

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“O povo brasileiro que hoje está indo às ruas para festejar 200 de independência e uma eternidade de liberdade, o que está em jogo é a nossa liberdade, é o nosso futuro. A população sabe que ela é aquela que nos dá o norte para as nossas decisões. Então, a todos no Brasil: compareçam às ruas, dá tempo ainda, de verde e amarelo, as cores da nossa bandeira, para festejar e comemorar a terra onde vivemos. (…) Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, disse repetindo o slogan de sua campanha em 2018.

Uma postura de maior moderação tem sido aconselhada por aliados políticos, que tentam ampliar a base de apoio do mandatário a menos de um mês das eleições e evitar agendas de confronto com outros Poderes − que poderiam afastar novos eleitores.

Do outro lado, há quem defenda uma postura mais combativa, sobretudo após decisões recentes do Poder Judiciário. Neste caso, a ideia seria aproximar aos atos do que foram em 2021, quando Bolsonaro atacou o sistema eletrônico de votação, chamou o ministro Alexandre de Moraes, hoje presidente do TSE, de “canalha” e insinuou que poderia não cumprir decisões judiciais.

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Na última segunda-feira (5), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a eficácia de portaria e trechos de decretos presidenciais que facilitavam o acesso a armas de fogo e munições no Brasil, o que gerou forte incômodo a Bolsonaro e seus aliados e estimulou a defesa de um tom mais agressivo do mandatário neste 7 de Setembro.

Antes do início da cerimônia do Bicentenário da Independência, nesta quarta-feira, em café da manhã com ministros e aliados no Paládio da Alvorada, Bolsonaro citou diversos momentos de tensão ou ruptura democrática, como o próprio golpe de 1964, e disse que a “história pode se repetir”.

“Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 65, 64, 16, 18 e, agora, 22. A história pode repetir. O bem sempre venceu o mal”, disse.

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“Estamos aqui porque acreditamos no nosso povo, e o nosso povo acredita em Deus. Tenho certeza de que, com perseverança, fazendo aquilo tudo que pudermos fazer (…), continuaremos nos orgulhando do futuro que deixaremos para essa criançada que está aí”, completou.

Início da solenidade

Antes do início do desfile na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro desfilou em carro aberto saindo do Palácio da Alvorada e depois caminhou até a arquibancada onde iria acompanhar a cerimônia perto dos populares, acenando aos presentes.

Em um dado momento, quebrou o protocolo de segurança e foi cumprimentar as pessoas que estavam no gradil de proteção − cenas registradas pela equipe de campanha à reeleição dele para possível uso em peças publicitárias.

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Na plateia, houve gritos de “Lula, ladrão” e a “nossa bandeira jamais será vermelha”, essa última fala chegou a ser entoada pela primeira-dama Michelle Bolsonaro discretamente.

O presidente posou para fotos ao lado do vice-presidente, general da reserva Hamilton Mourão (Republicanos), do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e do candidato a vice na sua chapa à reeleição, o também general da reserva Walter Braga Netto (PL).

O Ministério Público Federal abriu inquérito para cobrar do governo que adote medidas para evitar que os atos oficiais e o desfile cívico-militar por ocasião do 7 de Setembro não sejam confundidos com atos político-partidários.

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Bolsonaro acompanhou o início da cerimônia ao lado da mulher, do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa e de outras autoridades. Ele também teve a seu lado o empresário bolsonarista Luciano Hang, que foi convidado pelo chefe do Executivo para participar do ato após ter sido alvo, semanas atrás, de uma operação de busca e apreensão autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, desafeto do presidente.

Os presidentes do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) – aliado do mandatário −, e do Supremo, Luiz Fux, não participaram da solenidade.

Durante o desfile, em um dia de céu nublado após dias de intenso calor e ar seco, ocorreu um sobrevoo da esquadrilha da fumaça. Houve também um incomum desfile de 28 caminhões, setor que tem dado forte apoio ao governo.

A expectativa é que Bolsonaro faça um discurso ao final da celebração do Dia da Independência em Brasília, ao final da manhã. Depois, ele irá ao Rio de Janeiro, onde participará de ato em Copacabana, onde também é esperada uma fala a apoiadores.

Atritos institucionais

Apesar das sugestões de aliados políticos, Bolsonaro começou a avançar sobre o Poder Judiciário na véspera ao ordenar a entrada de caminhões na Esplanada dos Ministérios, contrariando acordo que havia sido selado com o Supremo Tribunal Federal (STF).

Os magistrados temiam a repetição de episódios registrados no 7 de Setembro do ano passado, quando caminhões e ônibus furaram duas barreiras montadas pela Polícia Militar e invadiram área restrita. Aquela data marcou também um acirramento das relações entre Bolsonaro e o tribunal.

A decisão de Bolsoanro de autorizar a entrada dos caminhões na celebração deste ano também provocou embate com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que disse ao jornal Folha de S.Paulo que iria proibir o ingresso dos veículos.

Com a ordem de Bolsonaro, o Exército, que era responsável pela organização da comemoração, cadastrou cerca de 60 caminhões para entrarem na Esplanada dos Ministérios e ficarem posicionados do lado oposto à via usada no desfile.

(com Reuters)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.