Bolsonaro e o mercado: apenas uma pequena crise no “namoro” ou acabou o amor?

Sessão é de forte queda para o Ibovespa, com destaque para as estatais, que caem forte em meio às declarações de Bolsonaro que decepcionaram os investidores

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Se a última segunda-feira (10) foi de euforia para o mercado brasileiro, com o Ibovespa registrando disparada de 4,57% na esteira do forte desempenho de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno, o cenário é bastante diferente nesta quarta-feira (10). 

A sessão é de queda de mais de 2% para o Ibovespa, com destaque justamente para a baixa das estatais, caso da Eletrobras (ELET3;ELET6), em derrocada que chegou a mais de 15% e Petrobras (PETR3;PETR4), em queda superior a 4%.

O motivo para tamanha queda? Bolsonaro.

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Mais precisamente, falas dele à imprensa sobre a previdência e estatais que desagradaram – e muito – o mercado, que ultimamente disparou com a ideia de que seria o melhor nome para a realização de reformas estruturantes, além de realizar uma agenda de privatizações.

Essa visão acontece principalmente por conta da visão econômica do “posto Ipiranga” de Bolsonaro, Paulo Guedes. Nos últimos meses, o futuro “superministro da economia” caso o candidato do PSL seja eleito já afirmou que o Brasil tem “cerca de 1 trilhão de ativos a ser privatizados”, além de defender com veemência a necessidade de uma reforma da previdência. 

Porém, em entrevistas a alguns veículos de comunicação, Bolsonaro destacou (e em alguns casos até repetiu) suas ideias econômicas, o que não agradou o mercado. Ele apontou que a  “reforma da Previdência de Temer não passa”,  sepultando a esperança – ainda que mínima – da medida avançar ainda este ano. O candidato do PSL ainda apontou a manutenção de alguns privilégios e sinalizou que a reforma tem que ser feita de forma gradual, confirmando que as polícias e as forças armadas terão um tratamento previdenciário diferenciado. 

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Além disso, ele afirmou que não mexeria na parte de geração da Eletrobras, que está em processo de privatização, sinalizando ser contra a desestatização da elétrica, e que não “mexerá” no setor de exploração da Petrobras, além de deixar dúvida sobre a política de preços para a companhia.  

Tais declarações, nada positivas para o mercado, levam à pergunta: o “namoro” entre os investidores e o candidato do PSL entrou só em uma pequena crise ou o amor acabou?

Para o mercado, estas declarações foram um abalo – mas nada que comprometesse fatalmente o possível “casamento” com o candidato do PSL, ainda mais levando em conta o forte rali da bolsa desde que o mercado passou a precificar maior chance de Bolsonaro ser o próximo presidente. Apenas em outubro, o Ibovespa já saltou 6%.

 “As chances de haver a aprovação da reforma caracterizada como a ‘reforma de Temer’ eram baixíssimas, o novo governo provavelmente fará uma reforma com a sua cara, ainda que seja parecida, dada a forte impopularidade do governo atual”, avalia Bruno Marques, gestor de fundos multimercados da XP Gestão. De acordo com ele, já seria esperado que, às vésperas do segundo turno, não houvesse declarações no sentido de maior austeridade e com pautas consideradas sensíveis pelo eleitorado. Contudo, houve repercussão no mercado dado o rali recente, reforçado ainda mais hoje pelo cenário externo mais negativo. 

Na mesma linha, o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, destaca ser preferível propor o que é factível de aprovação no Congresso do que propor uma “agenda fora da realidade”, algo que Bolsonaro ressaltou em suas declarações. Assim, afirma Faria, será necessária não apenas uma reforma da Previdência, mas várias reformas. 

“Paulo Guedes ou outro economista liberal não vai conseguir aprovar a agenda do mercado porque, politicamente, é inviável. O importante é o sinal de reformas e de ajuste do Estado. Isto não mudou”, avalia Faria Júnior. 

Eletrobras e Petrobras sofrem na Bolsa

Em meio à queda generalizada do mercado, a ação que mais sofre nesta sessão é a Eletrobras, justamente pelas declarações de Bolsonaro indo em direção contrária à privatização da companhia. “De jeito nenhum”, declarou o candidato do PSL ao falar sobre a venda de ativos de geração, em um movimento que se opõe aos planos do governo atual, de emitir ações e diluir a participação da União na estatal de energia. 

Porém, ressalta Gabriel Fonseca, da XP Research, a opinião de Bolsonaro não mudou tanto de uns meses para cá. O que aconteceu é que houve um forte movimento de euforia exagerada nas últimas sessões (especialmente na segunda, quando a estatal saltou 18%), em parte revertida nessa sessão.

Já sobre a Petrobras, Bolsonaro afirmou que pretende que o “miolo” dela seja preservado e ainda levantou dúvidas no mercado sobre como será a política de preços de fato da empresa no seu governo.

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De acordo com Fonseca, um ponto negativo das falas do candidato foi a visão de Bolsonaro de que a margem de lucro obtida pela Petrobras na revenda de combustível é alta, o que não é verdade, uma vez que os preços são compatíveis com a variação do dólar e dos preços de petróleo. O presidenciável ainda afirmou que “o País não pode ter uma política predatória no preço do combustível para salvar a Petrobras e matar a economia brasileira”.

Porém, também houve pontos positivos sobre a petroleira, aponta Fonseca, como a sinalização de redução de impostos sobre combustíveis, além de fazer desinvestimentos na área de refino. 

“Após a euforia, o mercado está ponderando, ainda há muitas incertezas no radar”, avalia o analista.

Aliás, esta é uma avaliação corroborada pelo próprio Bolsonaro quando o assunto é Petrobras. Ele falou que “faltam dados para uma melhor análise”, ponderando que “uma vez sendo presidente, a gente vai ter os dados”. 

Com tantas incertezas, o mercado reavalia algumas posições que tinha sobre o que Bolsonaro pensa para a economia. Mas, diferentemente do que poderia se pensar, os investidores estão longe de acabar o “namoro” com o candidato do PSL. Ainda mais porque a outra opção, o petista Fernando Haddad, é visto com um grande temor pelo mercado pela certeza de que ele será mais anti-mercado. 

“É só uma briga de casal, nada mais do que isto. Nem é motivo para ‘dormir fora de casa'”, afirmou um operador ao InfoMoney. A relação entre o mercado e Bolsonaro sofreu um abalo mas, por enquanto, segue forte. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.