Bolsonaro demonstra força e desafia favoritismo de Lula em segundo turno indefinido

Dia começa com especulações sobre vitória de Lula em primeiro turno e termina com sabor amargo para campanha petista, apesar de vantagem

Marcos Mortari

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Apesar de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) largar na frente na disputa pelo Palácio do Planalto, o primeiro turno das eleições, concluído neste domingo (2), mostra que o presidente Jair Bolsonaro (PL) está muito mais forte do que as principais pesquisas de intenção de voto mostraram às vésperas do pleito.

Com 99,99% das urnas apuradas, Lula caminha para encerrar a primeira etapa da corrida presidencial com pouco mais do que 48% dos votos válidos (o equivalente a 57,3 milhões de votos), enquanto Bolsonaro aparece levemente acima de 43% (algo próximo a 51,1 milhões).

Analistas políticos ouvidos pelo InfoMoney mantêm avaliação de que Lula é favorito na disputa, embora um favoritismo muito mais modesto e que pode mudar com quatro semanas para campanha em paridade de armas no rádio e na televisão. Para eles, o cenário é muito mais equilibrado do que o previsto, e a noite traz um sabor amargo para a campanha petista.

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“Lula é um pouco favorito, mas o cenário é muito incerto. Aquela avaliação de que a eleição estava decidida não é mais correta”, avalia o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores.

“Bolsonaro mostrou muito mais força do que se imaginava. Os candidatos bolsonaristas, quase sem exceção, tiveram desempenho melhor do que o esperado. A maior parte das pesquisas não captou um voto bolsonarista que estava escondido ou se formou de última hora”, complementa.

Basta lembrar que o dia começou com avaliações de uma vantagem entre 8 e 14 pontos percentuais e especulações sobre a possibilidade de Lula liquidar a fatura ainda no primeiro turno. E termina com desempenho surpreendente de Bolsonaro, resultados contundentes de aliados do presidente nos estados e a formação de uma sólida bancada no Congresso Nacional.

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“Quando associamos a eleição presidencial aos demais pleitos – para governador, deputado e senador –, conseguimos identificar a presença de destaque de nomes associados ao bolsonarismo na perna não econômica. Parece que o tema moral, o tema político no sentido mais amplo, teve maior peso nesse desempenho”, avalia o analista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria Integrada.

O PL, sigla que abriga Bolsonaro no sonho da reeleição, conseguiu o feito de construir a maior bancada tanto na Câmara dos Deputados, com cerca de 100 representantes, quanto no Senado Federal, com 15 possíveis representantes na próxima legislatura.

Isso indica que, mesmo se o candidato à reeleição não for capaz de reverter cenário adverso inédito de desvantagem em um segundo turno na corrida presidencial, o bolsonarismo seguirá como força expressiva na política brasileira, e o perfil do conservador poderá impor sérias dificuldades a Lula em um eventual terceiro mandato como presidente.

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“O cenário é bem menos favorável para Lula do que indicavam as projeções da campanha petista. E uma derrota para a estratégia traçada há meses de fazer composições estaduais que pudessem favorecer a construção de uma bancada aliada robusta no Senado, onde Bolsonaro enfrentou as maiores dificuldades durante seu mandato”, observa a equipe de análise política da XP Investimentos.

“Nomes do bolsonarismo ideológico como Magno Malta (PL-ES), Damares Alves (Republicanos-DF), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), Tereza Cristina (PP-MS), Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Cleitinho (PSC-MG) passarão a integrar o Senado a partir de 2023. Um terreno que poderá indicar vida mais fácil para Bolsonaro, caso seja reeleito, ou adversidades para o avanço de matérias, se Lula sair vitorioso”, complementa.

Para os especialistas, Lula segue favorito, já que eles avaliam haver pouco mais de 8 pontos percentuais em disputa, e a necessidade de Bolsonaro conquistar pelo menos 79% para ser vitorioso, considerando um cenário de migração de votos mais favorável ao petista. Mas a possibilidade de apoio de Romeu Zema (Novo), reeleito governador em Minas Gerais, e o forte desempenho de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo podem ajudá-lo na reta final.

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Rafael Cortez concorda com um leve favoritismo a Lula, mas acredita que a economia pode ser a “variável chave para uma virada”, já que o cenário é muito distinto do padrão observado em outras disputas de segundo turno, em que mudanças pareciam improváveis.

“Esse segundo turno, diferentemente dos demais, pode trazer o fato inédito de o segundo colocado ultrapassar o primeiro, sobretudo diante do poder da caneta e desta dupla força da candidatura bolsonarista: uma na moral e outra no quadro econômico, no fato de usar recursos do governo”, conclui.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.