Bolsonaro corre risco elevado de ficar inelegível para 2026, projetam analistas

Apesar dos desafios jurídicos e políticos, especialistas consultados pelo InfoMoney acreditam que Bolsonaro será a principal voz de oposição ao governo Lula

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)

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Alvo de 16 ações em andamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem um caminho difícil para se manter nos holofotes como principal liderança da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e garantir o direito de se candidatar novamente ao Palácio do Planalto em 2026.

É o que avaliam especialistas consultados na 42ª rodada do Barômetro do Poder, levantamento feito mensalmente pelo InfoMoney com consultorias e analistas independentes sobre alguns dos principais temas em discussão na política nacional. Clique aqui para acessar a íntegra.

O levantamento, realizado entre os dias 15 e 17 de fevereiro, mostra que 83% dos analistas consultados classificam como “altas” ou “muito altas” as chances de Bolsonaro ser declarado inelegível pela Justiça Eleitoral para o próximo pleito. Outros 17% atribuem probabilidade “moderada” para o evento. Nenhum dos 12 analistas que responderam esta questão vê caminho fácil para o opositor.

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Considerando uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a probabilidade média atribuída pelos analistas políticos ouvidos pelo InfoMoney para Bolsonaro ser impedido de se candidatar nos próximos anos é de 4,08.

O Barômetro do Poder também apontou uma percepção majoritária de dificuldades para Bolsonaro fazer oposição ao atual governo, apesar do placar apertado nas urnas em outubro de 2022 – Lula derrotou seu adversário por uma margem de apenas 2,14 milhões de votos, em um universo de 124,25 milhões de eleitores que foram às urnas no segundo turno.

De acordo com o levantamento, 38% dos entrevistados esperam poder baixo para Bolsonaro no exercício da oposição a Lula ao longo dos próximos quatro anos. Outros 23% enxergam o contrário, ao passo que 38% falam em capacidade moderada.

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Em uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a média das indicações ficou em 2,92. Apesar de levemente abaixo da linha do meio, o resultado já é melhor do que o observado em janeiro (2,43), quando a pergunta foi feita pela primeira vez. Naquela época, apenas 7% dos entrevistados viam Bolsonaro fortalecido para exercer oposição ao novo governo.

Mesmo diante dos desafios jurídicos e políticos colocados para Bolsonaro, a maioria dos analistas políticos consultados (46%) acredita que ele será a principal voz de enfrentamento a Lula durante o mandato do presidente.

O principal desafiante para esta condição seria Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, apontado por 31%. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vem na sequência, com 15% das indicações, acompanhado pelo ex-ministro Rogério Marinho (PL-RN), atual líder da oposição no Senado Federal, lembrado por 8% dos entrevistados.

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Esta edição do Barômetro do Poder ouviu 11 consultorias políticas: BMJ Consultores Associados; Control Risks; Dharma Political Risk & Strategy; Empower Consultoria; Eurasia Group; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Ponteio Política; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; e XP Política. E 2 analistas independentes: Carlos Melo (Insper); e Thomas Traumann.

Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e dos comentários.

Clique aqui para acessar a íntegra.

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Desde que perdeu as eleições, em 30 de outubro de 2022, Bolsonaro reduziu suas aparições e manifestações públicas. Nos últimos dias de seu mandato, deixou o país, com destino aos Estados Unidos, para não participar da cerimônia de posse de Lula com a tradicional transmissão da faixa presidencial. Seu retorno ao Brasil é aguardado para este mês.

Ao longo dos últimos anos, a legislação que trata de inelegibilidade endureceu, seja pela aplicação da Lei da Ficha Limpa, que impede candidaturas de políticos condenados por órgão colegiado por uma série de irregularidades, seja por jurisprudência gerada pela própria Justiça Eleitoral, como no caso da cassação do deputado estadual paranaense Fernando Francischini, que perdeu o mandato por disseminar informações falsas que atentavam contra o sistema eletrônico de votação.

Com 16 ações de investigação judicial eleitoral penduradas no Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro precisará de múltiplas frentes de defesa para evitar a inelegibilidade por oito anos. Dos processos, dois têm como alvo os ataques proferidos pelo ex-presidente ao processo eleitoral e à lisura das urnas eletrônicas durante a campanha. Há também ações que tratam de suposto abuso de poder, a partir de alegado uso da máquina pública em benefício próprio na disputa.

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Neste caso, são citados pelos requerentes situações como a PEC dos Auxílios, que liberou benefícios especiais a setores da população às vésperas do pleito − iniciativa que, na avaliação dos que acusam, comprometeu a paridade de armas dos candidatos na disputa. Episódios relacionados a um possível desvirtuamento de agendas oficiais, como a comemoração do bicentenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro, também são lembrados.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.