Bolsonaro ainda pode corrigir os rumos, mas janela é curta

Confrontado com a contradição entre o discurso de campanha de repulsa à política e a realidade do Congresso, Bolsonaro dá sinais em direção ao pragmatismo, mas em seguida retoma mote contra a política que embalou seu palanque e dá o tom de seu governo

Equipe InfoMoney

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Uma casa para frente, duas para trás

por XP Política

Nas semanas que marcaram o auge da crise política – em que tivemos desde a prisão do ex-presidente Michel Temer até a ausência de Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara –, mantivemos em Brasília conversas com integrantes da Presidência, do Parlamento e da equipe econômica para projetar os próximos passos.

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É possível resumir o sentimento no Legislativo em relação à articulação política do governo: Jair Bolsonaro até avança uma casa, mas volta outras duas ou três na sequência. E a dificuldade cresce a cada vez que precisa inverter a direção para dar um novo passo à frente, porque se torna necessário recuperar a credibilidade perdida com o passo na direção errada.

Confrontado com a contradição entre o discurso de campanha de repulsa à política e a realidade do Congresso, o presidente dá sinais em direção ao pragmatismo, mas em seguida retoma o mote contra a política que embalou seu palanque e dá o tom de seu governo. Reúne-se com Rodrigo Maia, mas diz que está sendo pressionado pela velha política. Abre nomeações para indicações políticas, mas só depois de ter editado decreto com critérios – que não valiam para as outras indicações.

Onyx Lorenzoni se reúne com líderes e faz (mais uma) promessa de diálogo com partidos – para o presidente, em seguida, voltar à carga contra Maia em entrevista à Bandeirantes. No final do capítulo mais recente, tivemos os dois lados pedindo paz. Maia faz um apelo para que os dois trabalhem pelo país. Bolsonaro diz que a briga é página virada. 

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O problema é que o histórico agora joga contra Bolsonaro na relação com os deputados.

Parte do impasse, na visão dos congressistas com quem conversamos, vem do fato de que não há o que colocar de novo na relação entre governo e Legislativo – a política ainda precisará ser feita repartindo espaço e orçamento. E, para o Congresso, os partidos políticos precisam ser os intermediários dessa relação. Mesmo antes do auge da crise, as reclamações já seguiam na linha de que ministros e presidentes de bancos e estatais não costumam abrir agenda e, quando abrem, “demonizam” a política.

Com os ânimos acirrados e Bolsonaro dobrando a aposta no seu discurso, o salão verde da Câmara voltou a viver dias de 2015, em que a atividade favorita dos deputados era imaginar pautas que poderiam constranger o governo – ao menos desta vez Rodrigo Maia assegura que não colocará em votação nada com impacto fiscal. O calendário para a votação da reforma da Previdência na CCJ foi sendo colocado em xeque e revisto seguidas vezes.

E não é por acaso que a crise eclode neste momento, considerado o mais propício a barganhas pelos parlamentares. Como escrevemos ainda em janeiro, sabendo que a reforma da Previdência é o projeto prioritário do governo, deputados cobram o que podem agora. Valerão menos depois que a Previdência tiver sido aprovada. “Se precisando da gente ele trata assim, imagina depois. Vai tratorar todo mundo”, diz o presidente de um partido com quem falamos ontem. A redução de apoio popular capturado por nossa pesquisa e pelo Ibope e a indisposição de Rodrigo Maia com parte do governo não contribuem para a melhora do clima.

Os bombeiros de sempre entram em campo para tentar implementar ajustes na relação. Por mais que soe contraditório com o discurso do presidente, há, sim, parte de seus aliados que percebe a diferença entre uma relação saudável do Executivo com o Legislativo e o “toma lá dá cá” contra o qual Bolsonaro investe.

Ainda há tempo para Bolsonaro corrigir os rumos, se é que pretende mesmo fazê-lo – o que já desperta dúvidas de uma série de deputados. Mas a janela para isso é curta. E, conforme se deteriora a relação, o preço a ser pago nessa reconstrução é cada vez mais alto.

Caso se agarre a oportunidade que parece ter surgido, consegue tentar retomar a caminhada. Do contrário, o Congresso continuará trabalhando para dar sinais de que Bolsonaro não consegue governar sozinho.

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