Bolsonaro aborda economia, pauta conservadora e abre espaço para críticas ao STF no 7 de Setembro

Presidente fez discurso de campanha e pediu votos a milhares de apoiadores, em cima de trio elétrico, após desfile militar na Esplanada dos Ministérios

Marcos Mortari

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Em seu primeiro discurso a apoiadores no Dia da Independência, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ressaltou feitos na área econômica de sua gestão, enalteceu a agenda conservadora nos costumes e voltou a usar a imagem da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para sua campanha.

O mandatário falou por cerca de 10 minutos a milhares de apoiadores em cima de um trio elétrico, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, após o fim de desfile militar pela cerimônia do Bicentenário da Independência.

Em tom de comício, a 25 dias do primeiro turno, Bolsonaro classificou a disputa eleitoral como “uma luta do bem contra o mal” e convocou apoiadores a votar e a trabalhar no convencimento “daqueles que pensam diferente de nós”.

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“Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. O mal, que perdurou por 14 anos em nosso país, que quase quebrou a nossa pátria e que agora deseja voltar à cena do crime. Não voltarão. O povo está do nosso lado, o povo está do lado do bem, o povo sabe o que quer”, disse.

“A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós. Vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil”, completou.

Bolsonaro aparece na segunda posição das principais pesquisas de intenção de voto para disputa pelo Palácio do Planalto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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Ao se dirigir à multidão de apoiadores, o mandatário disse nunca ter visto “um mar tão grande com as cores verde e amarela” e contestou os números apresentados pelos principais institutos que fazem levantamentos eleitorais.

“Aqui não tem a mentirosa Datafolha. Aqui é o nosso ‘datapovo’. Aqui a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador”, disse. Há uma expectativa de grande público também em ato em Copacabana, previsto para a tarde desta quarta-feira (7), e que contará com a presença de Bolsonaro.

“Somos todos iguais, todos nós queremos o bem da nossa pátria, o bem do nosso país. Tenho certeza que juntos, em outubro, daremos mais um grande passo para o futuro do nosso país e para as nossas famílias”, completou.

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Logo no início de sua fala, Bolsonaro exaltou aspectos da economia e da pauta conservadora abraçada por sua gestão, temas usados para um discurso de contraste com seu principal adversário nesta eleição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Vocês sabem a beira do abismo que o Brasil se encontrava há poucos anos, atolado em corrupção e desmandos. Demos uma nova vida a essa Esplanada dos Ministérios, com pessoas competentes, honradas e patriotas. Começamos a mudar o nosso Brasil. Veio uma pandemia, lamentamos as mortes, veio aquela errada política do ‘fique em casa, que a economia a gente vê depois’, enfrentamos também consequências de uma guerra lá fora. Quando parecia que tudo estava perdido para o mundo, eis que o Brasil ressurge, com uma economia pujante”, disse.

Bolsonaro disse que o Brasil hoje tem “uma das gasolinas mais baratas do mundo”, lembrando das reduções de impostos sobre os combustíveis promovidas por sua gestão. Ele também destacou o Auxílio Brasil com parcelas mensais de R$ 600,00, ao qual se referiu como um dos programas sociais mais abrangentes do mundo. E citou, ainda, a redução do desemprego e a queda recente da inflação.

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Do lado das pautas conservadoras, Bolsonaro reafirmou um de seus bordões: “Hoje vocês têm um presidente que acredita em Deus, que respeita seus policiais e seus militares. Um governo que defende a família. E um presidente que deve lealdade ao seu povo”.

“Somos uma pátria majoritariamente cristã, que não quer a liberação das drogas, que não que legalização do aborto, que não admite a ideologia de gênero. Um país que defende a vida desde a sua concepção, que respeita as crianças na sala de aula, que respeita a propriedade privada e que combate a corrupção para valer”, declarou.

Havia grande expectativa no meio político pelo discurso do presidente. Uma postura de maior moderação vem sendo aconselhada por aliados políticos, que trabalham para ampliar a base de apoio de Bolsonaro a menos de um mês das eleições e evitar agendas de confronto com outros Poderes − que poderiam afastar novos eleitores.

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Do outro lado, há quem defenda uma postura mais combativa, sobretudo após decisões recentes do Poder Judiciário. Neste caso, a ideia seria aproximar aos atos do que foram em 2021, quando Bolsonaro atacou o sistema eletrônico de votação, chamou o ministro Alexandre de Moraes, hoje presidente do TSE, de “canalha” e insinuou que poderia não cumprir decisões judiciais.

Na última segunda-feira (5), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a eficácia de portaria e trechos de decretos presidenciais que facilitavam o acesso a armas de fogo e munições no Brasil, o que gerou forte incômodo a Bolsonaro e seus aliados e estimulou a defesa de um tom mais agressivo do mandatário neste 7 de Setembro.

Bolsonaro não proferiu ataques diretos ao Supremo e seus ministros em sua primeira fala pública neste feriado, e tampouco ao sistema eletrônico de votação − um de seus alvos preferidos nos últimos meses. Mas abriu espaço para que seus apoiadores o fizessem.

“Hoje, todos sabem quem é o Poder Executivo. Hoje todos sabem o que é a Câmara dos Deputados. Todos sabem o que é o Senado Federal. E também todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal”, disse, seguindo uma pausa enquanto o público se manifestava contra a corte.

“A voz do povo é a voz de Deus. Todos nós mudamos, todos nós nos aperfeiçoamos, todos nós podemos ser melhores no futuro”, retomou o presidente.

No discurso, o presidente também disse que “é obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da Constituição” e sinalizou: “Com uma reeleição, nós traremos para dentro dessas quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora delas”.

Em outro momento, Jair Bolsonaro exaltou a figura de sua esposa, Michele Bolsonaro. A primeira-dama tem sido usada intensamente pela campanha do mandatário na tentativa de reduzir sua rejeição entre o eleitorado feminino. Em sua fala, ele sugeriu uma comparação entre Michele e a esposa de Lula, a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja.

“Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir, uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é ao meu lado, não. Muitas vezes, ela está é na minha frente. Eu tenho falado para os homens solteiros, para os solteiros que estão cansados de serem infelizes: procure uma mulher, uma princesa, se case com ela para serem mais felizes ainda (sic)“, disse.

Na sequência, beijou Michelle e entoou um coro para si: “Imbrochável! Imbrochável! Imbrochável!”.

Na outra metade da programação do Dia da Independência, Bolsonaro participa de ‘motociata’ com apoiadores no Rio de Janeiro e de ato em Copacabana, onde está previsto mais um discurso do presidente.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.