Bate-boca e quebra de sigilo: como foi a sessão da CPI que ouviu o ‘Careca do INSS’

Empresário foi ouvido pelo colegiado, sob acusação de ter operado fraudes na Previdência

Agência O Globo

Careca do INSS é ouvido na CPI — Foto: Reprodução
Careca do INSS é ouvido na CPI — Foto: Reprodução

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A sessão da CPI do INSS em que foi ouvido o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o Careca do INSS, teve bate-boca, pedido de prisão e de quebra de sigilo. Preso preventivamente no último dia 12, Antunes afirmou que não cometeu os crimes dos quais é acusado e que a sua prisão é fundamentada “em mentiras”. O empresário é apontado como um dos principais operadores das fraudes e desvios de recursos da Previdência.

De uma cela da Polícia Federal em Brasília, Antunes chegou ao Senado respaldado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o autorizava a ficar em silêncio. Assim, ele afirmou que responderia aos congressistas, mas se manteria em silêncio para perguntas feitas pelo relator do colegiado, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL).

— Em depoimentos anteriores, o relator disse que eu era um ladrão, o que mostra que é tendencioso. Por isso, não o responderei — afirmou o empresário.

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Ao tomar a fala, Gaspar subiu o tom e repetiu a acusação, o que gerou um entrevero com o advogado do empresário, Kleber Lopes. A sessão precisou ser suspensa menos de 15 minutos após ter começado.

— Estamos diante do maior ladrão dos aposentados e pensionistas desse país — disse o relator.

O advogado disse que se tratava de desrespeito e retiraria seu cliente da CPI, caso este fosse o tom adotado. Membro do colegiado, o deputado Zé Trovão (PL-SC) se levantou e disse para o defensor permanecer calado, indo em direção a ele. Nesse momento, a presidência da CPI interrompeu a sessão por cinco minutos, e Zé Trovão precisou ser contido por policiais legislativos.

O vice-presidente da CPI, deputado Duarte Junior (PSB-MA), tentou acalmar os ânimos, e o depoimento foi retomado. A presença de Antunes, que pela primeira vez falou publicamente sobre o caso, era uma das mais aguardadas pela comissão. Na última segunda-feira, o empresário já havia negado ter cometido qualquer irregularidade quando prestou depoimento à Polícia Federal.

— Desde o início, mantive uma defesa técnica, os meus endereços disponíveis e total disposição para colaborar — disse Antunes aos parlamentares. — Sou o maior interessado em esclarecer os fatos. O indivíduo com o qual mantive relações comerciais, espalhou uma série de inverdades. As premissas que fundamentaram minha prisão são equivocadas. Sou um empreendedor nato e não tenho relação com governos, seja ele municipal, estadual ou federal.

Mesmo sem ser respondido, o relator quis saber do empresário quem foi “padrinho político” que lhe abriu as portas da direção do INSS.

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— Qual foi o cacique, qual foi o padrinho político que lhe colocou aqui para discutir o futuro da Previdência brasileira — questionou, apontando para uma foto em que Antunes aparecia com dirigentes do INSS.

O relator também levou ao colegiado uma denúncia de ameaça feita por um ex-funcionário de Antunes à Polícia Civil de São Paulo. Em boletim de ocorrência feito no último dia 2 pelo 23º Distrito Policial de Perdizes, o homem afirmou que o empresário o procurou para que ele o entregasse “celulares, notebooks e um iPad” que teriam informações sigilosas. Os dois teriam brigado, e o bate-boca descambou para uma ameaça de morte. O depoimento da testemunha foi citado pela Polícia Federal para pedir a prisão de Antunes, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Os investigadores afirmaram ainda ter identificado que Antunes comprou uma casa nos Estados Unidos e viajaria para o exterior. O empresário negou as irregularidades e disse estar sendo alvo de extorsão por parte do acusador, que teria mentido à polícia.

Na quinta-feira, a CPI do INSS aprovou requerimentos para a quebra de sigilo bancário e para encaminhar ao STF um pedido de prisão preventiva do advogado Nelson Willians, que foi alvo de operação da PF por suspeita de participar das fraudes no instituto. O escritório dele prestou serviços para o empresário Maurício Camisotti, que é apontado na investigação como beneficiário das fraudes na Previdência, o que ele nega.

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Essa não é a primeira vez que a CPI do INSS aprova um pedido de prisão preventiva; já foram mais de 20 solicitações, mas apenas uma decisão judicial pode fazer valer a solicitação. Em nota, a defesa d e Willians afirmou que ele tem “reiterado sua disposição de colaborar com todas as autoridades competentes” e que acompanhará o trâmite com serenidade.