Barclays eleva projeção de crescimento do PIB brasileiro para 5,7% em 2010

Segundo o banco, recuperação sólida, déficit de conta corrente e inflação em alta dão o tom do "novo normal" no Brasil

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Uma recuperação econômica sólida, um déficit de conta corrente em expansão e inflação acima do esperado. Segundo o Barclays, essas são as principais características do primeiro trimestre de 2010 no Brasil, que darão ao tom ao “novo normal” no País.

O segundo trimestre do ano deve trazer ainda a retirada de medidas de estímulo implementadas durante a crise. De acordo com o banco, com a maior parte dos incentivos já desfeitos, devemos esperar novidades no âmbito monetário. “É hora de elevar a Selic para níveis mais normais”, afirmam os analistas, que, contudo, apontam que os mercados estão exagerando as projeções para o ciclo de alta da taxa básica de juro brasileira.

Selic, PIB e inflação
Para o banco britânico, a Selic deve ser elevada em 50 pontos-base somente em abril, “dando mais tempo para o Copom digerir o ritmo da deflação e moderação de crescimento”. Com isso, o Copom dará início a um ciclo de alta que deve terminar com a taxa em 11,25% ao ano no final de 2010 – o que levaria a inflação para 4,8% em 2011. “Se a alta for de 400 pontos-base, a inflação ficará abaixo do centro da meta (4,4%), pressionando o crescimento real do PIB (Produto Interno Bruto) em 30 pontos-base em 2010. Acreditamos que isso é um custo muito alto”, explicam os analistas.

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A demanda doméstica foi e deve continuar a ser o principal driver da recuperação. Combinados, consumo e investimento representam mais de 80% do PIB, e contribuíram com os maiores crescimentos. “O avanço mudou de consumo para investimentos, e esperamos que esse seja o caminho em 2010”, destaca o Barclays, que elevou sua projeção para o crescimento do PIB brasileiro para 5,7%.

Mas a maior surpresa do início de 2010 foi a inflação – que veio com muito mais intensidade do que o mercado previa. “Revisamos nossas projeções, e agora esperamos que o IPCA atinja 5,2% até o final do ano”, apontam os analistas. Apesar da alta nas projeções, eles afirmam que o pior já passou, e que as expectativas devem se estabilizar em março.

Compulsório traz alto custo para economia
A recuperação do País, combinada com uma alta da inflação, levou a uma aceleração no processo de retirada dos estímulos. “Esperávamos que o Banco Central agisse primeiro na liquidez e depois em aspectos relacionados a taxa de juros, mas ficamos frustrados que a medida do juro compulsório não implementou sistemas mais dinâmicos de provisão de capital, que limitariam a oferta de crédito conforme a expansão”, afirma o Barclays.

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“O compulsório se mostrou útil durante a crise, mas a economia brasileira pagou – e continuará pagando – um grande custo de distorção, com altos spreads e alocação menos eficiente de capital”, completa o banco, que ressalta que espera que a medida tenha efeitos na política monetária, já que está retirando quase R$ 70 bilhões do mercado doméstico.

Deterioração da conta corrente
A consolidação do crescimento brasileiro trouxe outra questão importante: com os emergentes tendo melhor desempenho do que os mercados desenvolvidos, uma tendência de alta dos déficits de conta corrente está se estabelecendo. “É exatamente o que está acontecendo no Brasil”, afirma o Barclays.

 “A recuperação das importações está ajudando a diminuir o superávit comercial – que, ao lado das diminuições de lucros e dividendos, é o principal driver de deterioração da conta corrente”, explica o banco.

Entretanto, a deterioração nao deve seguir no mesmo ritmo acelerado visto entre 2009 e 2010. Os analistas projetam entre -2,5% e -3% do PIB em 2010 e 2011, considerando que uma nova tendência surge entre as exportações, com o surgimento da China como principal parceiro comercial, e o avanço dos produtos básicos para 41% em 2010.

Ainda em relação às exportações, o Barclays espera que as boas perspectivas de crescimento para os emergentes, além de uma saudável recuperação global, beneficiem as exportações brasileiras, enquanto a desaceleração do crescimento do PIB deve arrefecer as importações. “Não esperamos problemas de financiamento no médio e longo prazo, especialmente com o apetite global por investimentos em infraestrutura em alta”.

Câmbio e política
O Barclays espera um leve excesso de dólares norte-americanos no mercado em 2010 e 2011, o que deve ajudar o Banco Central a elevar suas reservas internacionais para US$ 268 bilhões até o final do próximo ano. “Com um déficit em conta corrente financiável, de 3% do PIB em 2011, não esperamos muitas pressões sobre o real no médio e longo prazo”, apontam os analistas.

Entretanto, o cenário é diferente no curto prazo. Expectativas de fortes fluxos de capital e uma possível apreciação do yuan levariam a uma alta do real – que deve ser limitada pelo intervencionismo do ministro da Fazenda.

As eleições e as plataformas “mercantilistas” dos candidatos também devem pressionar a divisa brasileira. “A solvência não nos preocupa no momento – em relação à política fiscal -, mas como financiar investimentos futuros de infraestrutura”, aponta o Barclays.

Mas antes mesmo de lidar com esse problema, o banco apresenta uma questão ainda mais urgente para o real: as incertezas que rodam o BC, com a possível saída do presidente da autoridade, Henrique Meirelles. As incertezas em relação às eleições presidenciais no País também devem trazer volatilidade ao câmbio.

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