Aversão ao risco se intensifica nos mercados, após atentado no Paquistão

Wall Street recua, petróleo tem forte alta e preço dos Treasuries avança após assassinato da ex-premiê, Benazir Bhutto

Camila Schoti

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SÃO PAULO – O assassinato de Benazir Bhutto nesta quinta-feira (27), ex-premiê do Paquistão, acrescenta à uma das regiões politicamente mais instáveis do planeta novas fontes de tensão. Bhutto foi a primeira mulher eleita para liderar um Estado muçulmano e estava entre os líderes da oposição no Paquistão.

O já conturbado quadro geopolítico do Oriente Médio deve se intensificar com a morte de Bhutto. Eleita duas vezes para o cargo de premiê do país, ela havia retornado recentemente ao Paquistão, após exílio, para representar o partido de oposição nas eleições previstas para daqui a duas semanas.

Tensões estimulam flight to quality

A notícia, somada aos indicadores econômicos norte-americanos divulgados pela manhã, que reforçaram preocupação quanto ao desempenho econômico do país, derrubou as bolsas em Wall Street.

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Os principais índices acionários do país fecharam em forte baixa nesta quinta-feira, pressionando a bolsa brasileira, que reverteu movimento de alta registrado na abertura e ecenrrou abaixo dos 64 mil pontos. Na contramão de Wall Street, as bolsas européias fecharam em alta, sem refletir as tensões desencadeadas pelo atentado.

Impele maior cautela aos investidores a capacidade nuclear do Paquistão, que recentemente obteve sucesso em testes de míssil com capacidade nuclear. O país tem papel importante no contexto geopolítico da região e apresenta tensões étnicas e religiosas internas.

Dada a importância do Oriente Médio no mercado de petróleo, uma vez que a região é uma das principais fornecedoras da commodity no mundo, as cotações tendem a ser expressivamente afetadas pelo atentado contra Bhutto. Em Londres e Nova Iorque o barril fechou cotado em forte alta.

Em reflexo à maior aversão ao risco causada pelos temores quanto à intensificação das tensões na região, o preço dos Treasuries, títulos do Tesouro norte-americano, também encerrou os negócios em alta. Considerados ativos seguros, a demanda por estes papéis tende a se elevar quando em cenários de aversão ao risco.

Bhutto tentava recobrar cargo

Benazir Bhutto fora eleita premiê do Paquistão por duas vezes. Na primeira, em 1988, Bhutto manteve-se no cargo apenas por 20 meses; quando acusada por corrupção foi afastada. Em 1993 retornou ao cargo, mas sob acusações semelhantes, foi novamente destituída em 1996.

Após se exilar no Dubai, Bhutto havia retornado ao Paquistão para participar de um processo eleitoral elaborado pela administração de George W. Bush, presidente do EUA. Seu retorno, porém, teve de superar a relutância do general Pervez Musharraf, atual presidente do Paquistão.

O retorno de Bhutto ao país estava condicionado à retirada de todas as acusações de corrupção associadas aos seus mandatos anteriores e a um arranjo de divisão de poderes com os militares do país, através de seu retorno ao cargo de premiê.

Incertezas rondavam o último termo, já que Musharraf, que assumiu o poder através de um golpe de estado em 1999, havia colocado obstáculos ao retorno de Bhutto ao cargo.

Danos à democracia

Com o assassinato de Bhutto, especialistas acreditam que as eleições no país, agendadas para daqui duas semanas, devem ser suspensas, o que significa que o processo democrático pode fracassar, com as eleições canceladas indefinidamente.

Líderes de diversos países repudiaram a ação terrorista e o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) convocou reunião emergencial para debater o quadro de violência política no Paquistão. Líderes de Rússia e Índia temem o agravamento da instabilidade política na região.

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