Ausência do rali de final de ano no Ibovespa é atribuída a crise fiscal na Europa

Maioria dos leitores da InfoMoney acredita que é a retomada das preocupações com o continente que segura o índice

Tainara Machado

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SÃO PAULO – O mercado iniciou 2010 com apostas elevadas para o Ibovespa: segundo as perspectivas de então, o índice deveria terminar o ano em 80 mil pontos. Projeções mais otimistas do que a da média do mercado alcançavam patamares como o dos 85 mil pontos. No entanto, a duas semanas do fim do ano, o Ibovespa apresenta alta de apenas 0,78%, de acordo com a cotação de fechamento do pregão de segunda-feira (13), ainda abaixo dos 70 mil pontos.

Quais foram, exatamente, os motivos que seguraram o índice no ano que se aproxima de seu fim? Razões, na verdade, não faltam: entre eleições no Brasil, capitalização da Petrobras (PETR3, PETR4), crescimento fraco nos Estados Unidos e crise fiscal na Europa, os investidores tiveram muitos motivos para temores ao longo do ano. Mas a perspectiva era de que o último trimestre encerraria, enfim, esse período conturbado e permitiria que o Ibovespa trilhasse caminho mais positivo, chegando se não aos 80 mil pontos, ao menos aos 75 mil. 

Blue chips têm parcela de culpa
Os últimos indicadores nos Estados Unidos melhoraram e se não mostram uma economia vigorosa, ao menos espantam os temores de uma recessão em dupla queda. No cenário interno, as eleições passaram sem grandes surpresas. Já a capitalização da Petrobras foi encerrada, mas ainda sem retomada dos papéis que o mercado esperava. 

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Ainda no front corporativo, com as siderúrgicas enfrentando um mau momento, com pressão das margens, aumento das importações e queda das vendas no mercado doméstico, cerca de 25% dos leitores do Portal InfoMoney que responderam à enquete “Qual o principal fator que tem limitado a alta da bolsa brasileira neste fim de ano?” apontam como culpado o fraco desempenho de algumas das blue chips do Ibovespa.

No entanto, a limitação é mesmo atribuída à retomada das preocupações com a crise fiscal na Europa. Dos 2.574 leitores que responderam à pergunta acima, 1.194, ou cerca de 47%, acreditam que o recrudescimento das preocupações com a situação da dívida soberana dos países europeus está segurando o desempenho do principal benchmark da bolsa paulista neste final de ano. 

Europa segura Ibovespa
As preocupações começaram no início do ano, com o agravamento da situação fiscal da Grécia, o que culminou com um resgate financeiro ao país e a criação de um fundo europeu para estabilizar a região. Mais do que preocupação com a quebra da Grécia, uma economia até certo ponto irrelevante em termos globais, estava a posse de títulos da dívida do país por bancos europeus de outras nacionalidades, a saúde do euro como moeda comum e principalmente a possibilidade de contágio para países de maior porte, como Espanha e Itália. 

Durante certo tempo do ano, após a criação do fundo, as preocupações continuaram a pontuar o noticiário, mas de forma bem menos prominente, até que em novembro a Irlanda reacendeu os temores em torno do continente. A situação apresentava alguns pontos de diferença com a Grécia: no caso, não era a dívida soberana, mas a dívida privada, dos bancos, que estava prestes a não mais poder ser financiada. O governo assumiu o ônus pela dívida privada e terminou por receber um pacote de auxílio costurado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pela União Europeia de € 85 bilhões

Preocupação com os próximos
Os próximos, na lógica do mercado, seriam Portugal e Espanha, e por isso nos dias seguintes ao resgate houve pouca calmaria, enquanto o prêmio para os títulos soberanos desses países disparavam, atingindo recordes. Neste momento, o noticiário amainou, mas vez por outra notícias do continente,  como a reticência da Alemanha em autorizar a emissão de títulos conjuntos, o que diminuiria os custos de financiamento dos países altamente endividados, mas aumentaria o dos com razoável saúde financeira, ou mesmo expandir o fundo para dar conta de um resgate à Espanha, geram volatilidade. 

Segundo o UBS, “ainda há mais decepção pela frente” nesse front. E ainda que o mercado se sinta, no momento, um pouco menos avesso ao risco, talvez seja tarde demais para o tão aguardado rali do Ibovespa. 

  Qual o principal fator que tem limitado a alta da bolsa brasileira neste fim de ano? 
Resposta Votos Percentual
Retomada das preocupações com a crise fiscal na Europa 1194 46,39%
Demora na recuperação da economia norte-americana 412 16,01%
Fraco desempenho de algumas blue chips, como siderúrgicas e Petrobras 642 24,94%
Percepção de que, mesmo com a correção recente, as ações estão, no geral, caras 326 12,67%