Ascensão de Lula não é a grande questão do Datafolha, diz Eurasia (e sim os números do PSDB)

Consultoria segue vendo tempos difíceis para o ex-presidente caso ele se candidate e explica motivos para a sua ascensão - enquanto isso, a escolha no PSDB parece mais complicada

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em relatório divulgado nesta segunda-feira (2), a consultoria de risco político Eurasia destacou a pesquisa Datafolha divulgada no último fim de semana e que mostrou que o ex-presidente obteria 35% da preferência dos entrevistados em qualquer cenário. Enquanto isso, sua rejeição recuou para 42% contra 46% na pesquisa anterior.

Apesar de ganhar forças nas pesquisas, os analistas políticos não mudam a sua avaliação sobre o petista: a posição dele nos levantamentos não muda a sua situação e ele deve enfrentar muitas dificuldades mesmo se a sua candidatura não for barrada pela Justiça (ele seria impedido de concorrer caso fosse condenado em segunda instância).

Em primeiro lugar, os analistas da consultoria apontam ser importante saber ler as pesquisas nesta fase do jogo. “Falta ainda um ano para a eleição, e os eleitores não estão sintonizados em uma campanha que nem mesmo começou. Assim, as intenções de voto são muito mais uma medida da posição relativa dos candidatos que são conhecidos e não como um bom previsor de seu potencial na campanha. A chave nesta fase do ciclo eleitoral é focar no que os eleitores desejam (suas demandas), e então tentar deduzir quais candidatos têm mais espaço para serem bem-sucedidos”. 

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Conforme explica a Eurasia, por esse critério, a melhora relativa de Lula é muito mais modesta. Seu crescimento nas pesquisas é estatisticamente significativo (movimento de mais de 3 pontos percentuais) e provavelmente  impulsionado por um ambiente de desconfiança cada vez maior contra todos os políticos.

“Lula sofreu nas pesquisas nos estágios iniciais da Operação Lava Jato. Mas, ao longo do ano, a tendência foi de um desencanto crescente com a liderança de partidos de todo o espectro político, à medida que as alegações de corrupção se espalham para o PMDB e para o PSDB.  Além disso, uma recente pesquisa de opinião pública da Ipsos mostrou que o Judiciário também está começando a sofrer um impacto em sua imagem em relação ao público”, avaliam os consultores.

Assim, em um contexto em que a rejeição de todos está aumentando, a posição de Lula provavelmente parece ‘menos ruim” para os eleitores que se beneficiaram mais dos ganhos econômicos durante o governo do PT. Essa tendência já era evidente no primeiro semestre de 2017, e provavelmente continuou a se desempenhar até certo ponto nos últimos três a quatro meses. “Mas isso é em um contexto onde o reconhecimento dos nomes dos outros candidatos é baixo”, afirma. 

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Desta forma, avalia a Eurasia, se alguém olha para o perfil de demanda do eleitor, o quadro não é bom para Lula. Primeiro, seus números de rejeição são muito maiores do que de qualquer outro candidato. Enquanto os números de rejeição de Lula caíram de 46% para 42% em relação a junho, os números de rejeição de Alckmin ficam em 31% e o de João Doria foram para 25%. Esse não é um bom sinal para o segundo turno, dado que ele é o candidato mais conhecido.

Segundo e mais importante, quando o Datafolha perguntou quais as características que os eleitores estão procurando no próximo presidente, 87% responderam: “não estar implicado em casos de corrupção”. Outras pesquisas também mostram que a corrupção será um grande problema para os eleitores em 2018. 

“Em suma, vemos o aumento relativo de Lula como função de um ambiente pré-eleitoral onde os candidatos alternativos são muito menos conhecidos (…). Mas os dados do perfil de demanda dos eleitores sugerem que Lula tem passivos muito elevados. Nada nesta última pesquisa altera a nossa visão de que, se Lula concorrer, ele chegará à segunda rodada, mas terá dificuldade em ganhar uma eleição no segundo turno”.

A grande questão sobre o Datafolha

As intenções de voto tanto tempo antes da eleição ainda são vistas com grande ceticismo pela Eurasia, mas que levam a repercussões políticas. A maior delas está dentro do PSDB que enfrenta a difícil tarefa de ter que optar entre o governador paulista Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria sobre quem será seu candidato em 2018.
A Eurasia vem argumentando que Alckmin é o candidato do establishment por excelência em uma eleição anti-establishment e, como tal, se for escolhido, ele entraria nas eleições com um forte passivo. Inclusive, ele foi apontado no final de agosto pela consultoria como a “Hillary Clinton do Brasil” (veja mais clicando aqui). Contudo, Alckmin tem maior influência dentro do partido e é um político mais experiente. Enquanto isso, João Doria ganhou as eleições para o prefeito no ano passado com uma plataforma “anti-política”, e seu perfil provavelmente é mais adequado ao tipo de descontentamento do eleitor que está se observando nas pesquisas.

“Contudo, para ser escolhido pelo PSDB, Doria deve crescer nas pesquisas nacionais o suficiente em comparação com Alckmin para ser visto dentro do partido como um candidato muito mais competitivo do que o governador. Para atingir esse objetivo, ele chegou a viajar por todo o País para aumentar a projeção do seu nome fora de São Paulo. (…) Contudo, quanto mais ele viajou e conduziu esta ‘campanha indireta’, mais críticas ele enfrentou em sua cidade natal sofrendo acusações sobre pensar mais em 2018 do que se concentrar em seu trabalho de comandar a cidade. A própria análise de redes sociais feita pelo grupo apontou para esse tipo de desgaste. Mais importante ainda, sugere que ele possa ter dificuldade em crescer nas pesquisas nos próximos meses”, avalia a consultoria. 

Isso não quer dizer que a Doria não seja mais competitivo do que Alckmin – na verdade, pelo contrário, diz a Eurasia. O prefeito de São Paulo tem um menor nível de rejeição do que o governador e seu perfil está mais alinhado com as exigências dos eleitores. “Mas esta pesquisa mostra que ele pode ter dificuldade em crescer nas intenções de voto nacional antes que o partido faça sua escolha – o que aponta para um cenário em que o PSDB escolha Alckmin e possa forçar Doria a deixar o partido e ir em busca de outra sigla para lançar sua candidatura”, conclui a consultoria. 

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.