As surpresas e bizarrices que movimentaram o mercado e a política no 1º semestre

Mudanças na política monetária de alguns países, algumas declarações um tanto desencontradas no campo político e o noticiário corporativo movimentaram o 1º semestre

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Os primeiros seis meses do ano foram muito movimentados, tanto em termos de decisões econômicas quanto em termos políticos. Não só aqui no Brasil como nos mercados mundiais, as decisões foram bastante surpreendentes.

Aqui no Brasil, a política deu o tom: desde as falas um tanto “confusas” da presidente Dilma Rousseff até a CPI da Petrobras (PETR3PETR4), que contou com pedidos curiosos de exumação do corpo de José Janene pelo deputado Hugo Motta. O cenário internacional também surpreendeu, com destaque para Grécia, em maior grau e Suíça, em menor grau.

Confira o que surpreendeu o mercado e os bastidores da política no primeiro semestre:

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Suíça e sua decisão surpreendente 
O ano mal tinha começado, mas o mercado já tinha que digerir decisões muito surpreendentes. Naquele dia 15 de janeiro, o pequeno país de 8 milhões de habitantes ganhou o protagonismo dos mercados, após o Banco Central da Suíça, o SNB, eliminar a taxa de câmbio mínima de 1,20 euro por franco suíço, ao mesmo tempo em que reduziu a taxa de depósitos para -0,75%, de -0,25%. A autoridade monetária do país também levou o alvo da taxa Libor de três meses para terreno ainda mais negativo, entre -1,25% e -0,25%. Antes, o intervalo era de -0,75% a 0,25%.

E esta decisão suscitou diversas reações no mercado. “Tsunami” e “bomba” foram algumas das denominações feitas por analistas com décadas de carreira. Naquele dia, o franco suíço registrou uma forte valorização, de cerca de 14% em relação ao dólar, enquanto disparou 17% frente o euro.  

Referendo grego também surpreendeu
Nos dias finais do primeiro semestre, quem surpreendeu foi a Grécia, após convocar um referendo sobre os termos do acordo com credores gregos e fechar as portas para as negociações do resgate.

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Parceiros europeus da Grécia fecharam a porta para uma extensão da linha de crédito a Atenas, deixando o país ainda mais perto do calote que pode tirá-lo da zona do euro, o que aumentou a enorme pressão sobre os bancos gregos, que depende de suporte do banco central para continuarem vivos, com longas filas se formando em frente a caixas eletrônicos já que as pessoas correram para sacar seu dinheiro enquanto os bancos ainda operam normalmente. Com isso, os bancos ficaram fechados na última segunda-feira.

Enquanto isso, no Brasil…
Não foram só as decisões de política monetária na Suíça que surpreenderam. Aqui no Brasil, o tom mais hawkish (assemelhando-se ao comportamento de um falcão), até maior do que o esperado fazem de Alexandre Tombini uma das surpresas em termos político-econômicos para o Brasil no seu quinto ano à frente do Banco Central.

Apenas neste ano, a alta foi de 2 pontos percentuais, para 13,75% e a expectativa é de alta ainda maior nas próximas reuniões, podendo chegar a 15%.

Mas estas medidas não são feitas sem contestações. Muito se contesta também sobre o impacto da alta da Selic para além da atividade, mas também sobre as contas públicas. Quando houve o último aumento de 0,5 ponto percentual na Selic, a dívida interna foi elevada em R$ 11 bilhões, o que pode levar ao aumento da dívida pública e enfraquecer as premissas para que o Brasil continue com grau de investimento.

As declarações confusas de Dilma…
Se o tom um pouco mais duro com relação ao ajuste fiscal e às mudanças de política econômica de Dilma Rousseff no segundo mandato surpreendeu, assim como no caso de Tombini, as declarações da presidente Dilma vêm surpreendendo. Dentre elas, no final de maio, , ganhou destaque na mídia a entrevista que a presidente Dilma Rousseff para o jornal de esquerda La Jornada, do México, com algumas declarações desencontradas em diálogos com o jornalista.

Em destaque, mais perto do final do semestre, a presidente comentou sobre um boato que circulou de que havia tentado suicídio, mas que pouco tinha sido divulgado pela imprensa. Dilma se aproximou de um grupo de jornalistas e disse que havia sido informada há pouco sobre o boato de que estava internada. Depois disso, acrescentou: “Vocês acham que eu estava?“. Sem esperar qualquer resposta, a presidente mandou um beijo para as câmeras presentes e deixou o evento.

Por fim, no final de junho, em um discurso repleto de bom humor em abertura dos Jogos Indígenas. Dilma também lembrou um dos principais alimentos da culinária brasileira e indígena como exemplo do traço cultural nacional. “Nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação, e aqui nós temos uma, a mandioca. Hoje, estou saudando a mandioca, é uma das maiores conquistas deste país”, ressaltou.

Petrobras: surpresas ruins que viraram boas
O ano não começou bem para a companhia, que ainda não tinha divulgado os seus números auditados referentes ao terceiro trimestre por não ter recebido o aval da auditora PriceWaterHouseCoopers em novembro.

Meses depois – e após muita expectativa – a Petrobras divulgou os números no final de janeiro, mais precisamente dia 28, sem os números auditados com relação à corrupção. Isso frustrou e muito os analistas de mercado, que viram a divulgação dos números como uma “peça de ficção”.

Porém, o que mais influenciou a presidente Dilma a avaliar que a presidente da estatal, Graça Foster, não poderia continuar na Petrobras foi uma divergência de R$ 88,6 bilhões no balanço da estatal. O número não foi integralizado no balanço da estatal, mas foi divulgado no release de resultados da Petrobras, o que irritou – e muito – Dilma. Mas, o mais surpreendente, foi quem substituiu Graça Foster no comando da estatal.

A escolha de Dilma para Aldemir Bendine, que não estava cotado na bolsa de apostas para comandar a estatal, decepcionou e muito os mercados. Então presidente do Banco do Brasil (BBAS3), Bendine era considerado um fiel escudeiro do PT e acreditava-se que ele continuaria com práticas que são lesivas à estatal, como não aumentar os preços de combustíveis, além de deixar o plano de investimentos da Petrobras em números irreais quando relacionado à necessidade da companhia de diminuir a sua alavancagem. Porém, um alento: o Conselho da companhia ficaria com a “cara do mercado”, assim como a diretoria, que teria funcionários de carreira da empresa.

Mais uma surpresa: em 22 de abril de 2015, quando a Petrobras divulgou os números auditados em relação aos terceiro e quarto trimestres de 2014. E os números impressionaram: R$ 6,2 bilhões em perdas com corrupção na Petrobras e perda de R$ 44,63 bilhões por desvalorização de ativos (impairment). 

Porém, houve surpresas positivas, como o plano de negócios da Petrobras, com queda de 37% dos investimentos. Mesmo havendo algum ceticismo sobre como estes desinvestimentos ocorrerão, a sinalização é de que Bendine vem cumprindo promessa.

Nova tributação dos bancos
Com a mudança na política econômica de Dilma, o cerco para algumas empresas também aumentou. Dentre elas, o setor bancário, que vem registrando lucros recordes nos últimos trimestres.

Muitos boatos movimentaram os mercados sobre o que estaria por vir, dentre eles, a extinção dos juros sobre o capital próprio e a tributação de dividendos. Estas medidas não vieram, mas uma em especial surpreendeu o mercado: o aumento da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) de 15% para 20%, enquanto muitos esperavam uma alíquota de 18%. 

Lula: a revolta com Dilma e o PT e o caso do habeas corpus…
A mudança no tom das declarações críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à Dilma e ao PT surpreendeu quem acompanha os discursos do ex-presidente.

Se, em privado, como no encontro com religiosos no Instituto Lula, o ex-presidente afirmou que Dilma e ele estavam no volume morto e o PT estava abaixo do volume morto, em público, ele  afirmou que o PT “precisa, urgentemente, voltar a falar para a juventude” e destacou que o partido, atualmente, “só pensa em cargo, em emprego”, o que surpreendeu até mesmo os correligionários pelo tom das críticas.

Mas o que surpreendeu mesmo foi um suposto pedido de habeas corpus preventivo pelo ex-presidente, o que depois foi desmentido pelo Instituto Lula logo depois: “fomos informados pela imprensa da existência do habeas corpus” e não sabemos no momento se esse ato foi feito por algum provocador para gerar um factóide”, disse. Quem teria ajuizado o pedido foi Maurício Ramos Thomaz, que vive em Campinas. E o perfil dele também é surpreendente: ele já ingressou com 145 habeas corpus no STF (Superior Tribunal Federal), normalmente à revelia – ou seja, sem que os “beneficiados” pelas peças tenham feito qualquer pedido.

…no PSDB, também há críticas
Se no PT, há divergências, o principal partido de oposição também enfrenta as suas questões existenciais, que ficaram latentes no fim de maio e início de junho, em meio às votações do ajuste fiscal. Em carta enviada à cúpula nacional do PSDB, o vice-presidente do partido Alberto Goldman (SP) afirmou que o partido não tem um projeto de País e a legenda não é capaz de dizer o que faria se tivesse vencido as eleições do ano passado.  

Enquanto isso, Arnaldo Madeira, fundador do PSDB disse que, ao votar contra ideias como o fator previdenciário e a reeleição, o PSDB renega suas bandeiras com o único objetivo de ampliar o desgaste político do governo. “Está difícil entender o partido. Em vez de defender conceitos, estamos fazendo uma oposição igual à que o PT fazia contra nós. Agora só falta o PSDB votar contra a Lei de Responsabilidade Fiscal”, ironiza.

A lei vale para todos
O dia 19 de junho vai ficar marcado como o dia em que a “lei valeu para todos”. Pelo menos foi assim que se tratou a 14ª fase da Operação Lava Jato, a Erga Omnes, que culminou com as prisões dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo.

As investigações que resultaram na 14ª fase da Operação Lava Jato revelam que as empreiteiras Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez lideravam o cartel de empreiteiras que superfaturavam contratos da Petrobras. De acordo com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, as duas empreiteiras, no entanto, diferentemente das demais investigadas, usavam um esquema “mais sofisticado” de pagamento de propina a agentes públicos e políticos por meio de contas no exterior, o que exigiu maior aprofundamento das investigações, antes do pedido de prisão dos diretores das empresas.

E as polêmicas não pararam por aí: a Polícia Federal informou na semana passada à Justiça ter apreendido um bilhete manuscrito de Marcelo Odebrecht, que seria enviado a seus advogados, contendo a expressão “destruir e-mail sondas”. E, segundo informações da petição entregue pelos advogados da Odebrecht ao juiz Moro, a expressão “destruir e-mail sondas” não significa a intenção de Odebrecht em eliminar provas e que significava “rebater” a interpretação equivocada sobre o conteúdo do e-mail. 

O que surpreendeu também, mas desta vez no campo futebolístico, no final de maio, o Ministério da Justiça e a polícia da Suíça confirmaram a detenção de dirigentes da Federação Internacional de Futebol (Fifa), em Zurique. Dentre eles, o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin. Neste caso, a lei também valeu para todos.

Exumação na CPI?
Algo absurdo movimentou a CPI da Petrobras no final de maio. O presidente da CPI da Petrobras (PETR3;PETR4), Hugo Motta (PMDB-PB), informou, no final de maio, que poderia pedir a exumação do corpo do ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010.

Segundo informações do colunista Lauro Jardim, da Veja, na época ao conversarem com Stael Fernanda Janene, viúva de José Janene, sobre sua convocação para depor na CPI da Petrobras, deputados do PMDB foram surpreendidos pelo o que ouviram. A viúva revelou a eles suspeitar de que não seja viúva e de que José Janene esteja vivo. Segundo ela, Janene teria apenas fugido para escapar do mensalão e de outros escândalos.

Contudo, no mesmo dia, a viúva de Janene contestou o pedido. A viúva rechaçou a hipótese de Janene estar vivo, reclamou de desrespeito com a família e negou ter conversado com os parlamentares da CPI. Em meio à confusão, Motta desistiu de apresentar requerimento para exumação do corpo do ex-deputado. Ele disse que não iria apresentar o requerimento a pedido da família de Janene, que se comprometeu a enviar à CPI documentos comprobatórios de que o ex-deputado realmente morreu.

Doença = demissão?
Uma gripe do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no final de maio se transformou em uma grande preocupação para investidores de que ele estaria prestes a pedir demissão por insatisfação com o governo.

Isso ocorreu quando Joaquim Levy, que foi apontado como o grande nome forte do governo Dilma para arrumar as contas públicas, não compareceu ao evento que anunciou um congelamento de R$ 69,9 bilhões (US$ 22,1 bilhões) em gastos públicos. Levy teria defendido uma cifra maior e especulou-se que sua ausência era um sinal de discordância dentro do governo.

Em um país que está tentando preservar sua nota de crédito a todo custo, qualquer indicativo de atrito com o governo é suficiente para mexer com o humor de investidores. Mesmo depois de Levy ter dito que se ausentou apenas por causa de uma gripe, ainda restaram dúvidas sobre se ele contava com os meios necessários para convencer os membros da frágil base aliada no Congresso a cortar gastos e elevar impostos na medida necessária. E, no dia em que ele negou problemas com o corte, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa – com quem ele teria discordado por conta da quantia do contingenciamento – alegou dores nas costas…

Gurus apocalípticos e uma Terceira Guerra à vista
Em maio, duas declarações de gurus de mercado chamaram e muito a atenção. O  gestor Jim Chanos, fundador da Kynikos Associates, disse que a China poderá se tornar a nova Grécia e os seus problemas de dívida podem até serem maiores do que o do país europeu nos próximos anos. “Eu brinco com meus amigos chineses, mas um pouco sério, que em mais três ou quatro anos eles vão ser como a minha pátria Grécia”, disse Chanos para a Fox. Já o investidor bilionário George Soros descreveu um cenário ainda mais apocalíptico e também o relacionou à economia chinesa.

Se os esforços da China de mudar de uma economia exportadora para uma economia sustentada pelo consumo interno fracassar, segundo Soros, existe a probabilidade de que os governantes chineses fomentarem um conflito externo para manter o país unido e manter-se no poder. “Se houver um conflito entre a China e um aliado dos EUA, como por exemplo o Japão, então estaremos no limiar de uma Terceira Guerra Mundial”, disse Soros, que destacou que os gastos militares têm aumentado entre a Rússia e a China.

Sobre este último cenário, um jornal estatal chinês comprovou esta tese. O Global Times divulgou um editorial dizendo que uma guerra entre China e Estados Unidos pode ser inevitável. Este artigo foi publicado uma semana depois da Marinha chinesa ameaçar um avião americano que operava voos de reconhecimento em águas internacionais, em um momento de aumento da tensão entre os dois países no Mar da China Meridional, localizado no sul da China, parte do Oceano Pacífico.

Enfraquecimento logo após a eleição
Em meio aos números também surpreendentemente negativos da economia e à crise política, muitos estão favoráveis ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, poucos meses depois da presidente ter sido reeleita por uma margem estreita de votos. Vale destacar que, no dia 8 de março, enquanto havia um pronunciamento de Dilma em rede nacional em comemoração ao Dia da Mulher, houve um “panelaço” em diversas cidades do Brasil e, no dia 15 de março, houve uma passeata anti-Dilma de grandes proporções. 

As manifestações pedindo o impeachment da presidente diminuíram. Contudo, conforme aponta a última pesquisa Datafolha de 17 e 18 de junho, a presidente Dilma tem 65% de rejeição, tecnicamente empatada com os números negativos do governo Fernando Collor, às vésperas de seu impeachment. Outra notícia negativa para a presidente é de que a aprovação de Dilma oscilou três pontos, para apenas 10%.

Mesmo com muitos já prevendo um cenário de dificuldades para a presidente no segundo mandato, muitos se surpreenderam com o cenário de dificuldades para a presidente, ainda mais com a ascensão de outros dois elementos surpresa: o líder da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o presidente do Senado (PMDB-AL), Renan Calheiros, que passaram a ditar o ritmo de votações no Congresso e aumentar as derrotas para a presidente Dilma logo após a sua reeleição. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.