As reflexões e “puxões de orelha” que 7 conselheiros deram ao governo Temer

Economistas e empresários participaram neste segunda-feira (21) da primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (o famoso "Conselhão") sob o governo Temer

Mário Braga

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SÃO PAULO – O presidente Michel Temer recebeu 96 economistas, empresários e representantes da sociedade nesta segunda-feira (21), em Brasília, para a primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social sob seu comando. O “Conselhão”, como é conhecido, é um espaço para os participantes avaliarem como está a economia, fazerem críticas e cobranças ao governo e, claro, aconselharem o chefe do Executivo.

Selecionamos os trechos mais importantes do evento. Confira abaixo:

Henrique MeirellesHenrique Meirelles, ministro da Fazenda: contenção de despesas precisa ser uma meta permanente

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O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, destacou que o foco na redução da dívida pública como percentual do PIB (Produto Interno Bruto) é fundamental e que o governo deve otimizar a utilização dos recursos públicos para promover a retomada do crescimento no país.

O ministro afirmou que, nesse contexto, é preciso que sejam aprovadas a reforma da Previdência e a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que estabelece um limite para o crescimento das despesas públicas e defendeu um maior engajamento do setor privado como saída para o crescimento do país.

Meirelles afirmou que hoje o déficit nas contas públicas está claro e declarado e que o governo está enfrentando o problema de maneira objetiva. Segundo ele, o foco é na contenção permanente de despesas, com a redução do papel do estado, e defendeu a importância da lei de governança das estatais.


Zeina Latif, economista-chefe da XP InvestimentosZeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos: temo que a lua-de-mel do governo esteja indo embora

Para Zeina, o quadro econômico brasileiro é “extremamente frágil” e os índices de confiança já não mostram o mesmo vigor de antes. Por isso, argumenta, em vez de avançar por etapas, o governo deve ser rápido em implementar as reformas estruturantes e manter a confiança dos agentes econômicos. “Temo que a lua-de-mel do governo esteja indo embora”, pontuou.

A economista-chefe da XP defendeu que o governo precisa delimitar mais claramente a agenda microeconômica e estabelecer uma agenda para os próximos dois anos. “Não há margem muito grande para erro”, afirmou.

 Quanto às dificuldades fiscais dos Estados, Zeina afirmou que o governo federal não pode “estender a mão” sem uma contrapartida concreta dos entes da federação e criticou as manifestações contrárias às propostas do governo. “Todos temos que sentir o peso nos ombros pelo país”, disse. “Se todos nós formos defender interesses particulares, não haverá solução”, disse.


Roberto SetubalRoberto Setúbal, presidente do Itaú: as 3 reformas que o Brasil precisa fazer  

O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou que o Brasil só vai crescer acima de 2% ao ano se forem feitas três reformas: a trabalhista, a das regras de intermediação financeira e a política.

Ele defendeu uma flexibilização da jornada de trabalho para diferentes categorias e que acordos entre trabalhadores e empregadores prevaleçam sobre o que está na lei atualmente.

Na reforma das regras atuais de intermediação financeira, Setubal afirmou que é preciso tornar o direcionamento de recursos captados hoje no Brasil “mais flexível”. “Temos grande direcionamento de recursos para fins específicos”, o que reduz a eficiência da política monetária, segundo ele. Setubal defendeu ainda uma reforma política para reduzir o número de partidos para gerar um ambiente político mais estável.

Luiz Carlos Trabuco Cappi - BloombergLuiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco: crise profunda requer remédios amargos

Para o executivo, a atual crise é profunda e requer remédios amargos, disse Luiz Carlos Trabuco. Ele destacou que a queda de quase 10% do (PIB) e o avanço do desemprego nos últimos anos compromete a renda das pessoas e atrasa o crescimento da economia. Segundo ele, a retomada da atividade deve se dar apenas a partir do segundo semestre de 2017, mas o pior já ficou para trás. “O fundo do poço já passou”, disse.

Abílio DinizAbílio Diniz, presidente do Conselho de Administração da BRF: é preciso parar de reclamar do poder público e pensar no que a população pode fazer para ajudar o Brasil

O Brasil precisa destravar o projetos em infraestrutura para atrair investimento externo, segundo Abílio Diniz. Ele destacou que as empresas e as famílias estão endividadas e não há como promover o crescimento do país via consumo.

O empresário estimou ainda que o País não deve crescer em 2017 e defendeu a realização de reformas estruturantes, em especial a necessidade de destravar investimentos em infraestrutura e de unificar as alíquotas do ICMS, para por fim à guerra fiscal entre os Estados.

Para o empresário, é preciso parar de reclamar do poder público e pensar no que a população pode fazer para ajudar o governo a tirar o Brasil da crise. Ele disse que os investidores estão ávidos para investir no Brasil, mas é preciso aprovar essas reformas estruturantes.

Luiza TrajanoLuiza Trajano, presidente do grupo Magazine Luiza: simplificação de impostos tem que ser prioridade

Para a empresária, uma das prioridades a serem discutidas pelo Conselhão é a simplificação de impostos, o que reduziria as despesas das empresas entre 3% e 10%. “Isso diminuiria muito o custo de nossas empresas. Não tem condições de a gente continuar a ter 50 advogados”, afirmou. 

 Segundo ela, três coisas são importantes para o País retomar o crescimento: emprego, renda e crédito. “O País tem um mercado maravilhoso”, disse.


Paulo SkafPaulo Skaf, presidente da Fiesp

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou que o “problema número 1” do Brasil é o desemprego e que sua expectativa é ver a real retomada econômica do País apenas no início do ano que vem, quando as reformas estruturantes propostas pelo governo forem aprovadas.

Skaf ponderou que houve uma recuperação da confiança da sociedade no governo e um aumento do interesse de investidores nacionais e estrangeiros, após o início do governo Temer.

No campo político, Skaf afirmou que Temer já demonstrou ter apoio do Congresso Nacional e, por isso, o cenário seria mais equilibrado do que em meses atrás: “Estamos ainda em meio a uma tempestade, mas conseguimos ver o céu aberto lá adiante”.

(com Agência Estado, Bloomberg e Reuters)