As razões para acreditar que o governo de Michel Temer pode estar no fim

O que fará um deputado recusar a tentadora proposta de Rodrigo Maia por manter todos os acordos e agendas econômicas em um quadro de maior calmaria política?

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em uma semana, a figura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) evoluiu visivelmente como alternativa para o mundo político e o mercado com a inviabilidade de Michel Temer à frente da presidência do país. O atual presidente da Câmara dos Deputados, tem operado com parlamentares e feito sucessivos acenos ao mercado — esses foram os pilares que apoiaram o projeto do peemedebista um ano atrás com o impeachment de Dilma Rousseff.

Reforçando a imagem de cumpridor de acordos, o deputado tem contado até mesmo com a boa vontade de membros da oposição. Para a base da coalizão, a promessa é a manutenção de Henrique Meirelles no comando do Ministério da Fazenda e da agenda de reformas econômicas em curso, assim como de quadros da política que atualmente ocupam pastas na gestão peemedebista — com a exceção dos palacianos.

A escolha de Sergio Zveiter (PMDB-RJ) para a relatoria da denúncia contra Michel Temer apresentada pelo procurador-geral Rodrigo Janot é sintomática da perda de forças do governo e da ocupação dos espaços por Rodrigo Maia. No lugar de um quadro do PMDB de confiança do presidente, como parlamentares da bancada do sul, o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) optou por um nome que pode recomendar o recebimento da denúncia. E tudo indica que esse será o tom do relatório do parlamentar aliado de Maia.

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Como se tem dito em Brasília, uma derrota para Temer no colegiado seria grave para sua sustentação política. Por mais que conquistar o apoio de 343 deputados não seja tarefa simples para os adversários velados e secretos do peemedebista, os sinais de reversão no quadro preocupam. O prolongamento do desfecho do processo para depois do recesso parlamentar também pode prejudicar o presidente: 1) novos fatos podem surgir; 2) depois de um contato mais longo com as bases, os deputados deverão reverberar com maior intensidade a insatisfação popular com o governo.

O tom de caciques tucanos já é claro, sobretudo após a declaração pública do atual presidente do partido, Tasso Jereissati (CE), à revelia do enfraquecido Aécio Neves (MG). O abandono de parlamentares da base aliada é um caminho sem volta, ainda mais com o ineditismo de uma denúncia por corrupção passiva contra o presidente a pouco mais de um ano das eleições. A decisão do plenário da Câmara dos Deputados sobre o recebimento ou não da(s) peça(s) da PGR (vale lembrar que outras ainda devem estar por vir) é política. Nesta etapa do processo (e possivelmente em outras, a observar comportamentos heterodoxos por parte do Judiciário), o Direito é acessório.

Dito isso, o que fará com que um deputado recuse a tentadora proposta de Rodrigo Maia por manter todos os acordos e agendas econômicas em um quadro de maior calmaria política? Por que assumir o ônus de apoiar Michel Temer neste momento? São cada vez maiores os sinais de que a imagem da “transição tranquila” que o deputado tenta associar a seu nome poderá ser a escolha dos parlamentares.

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Os senadores não participam diretamente nesse processo, uma vez que o voto cabe apenas ao plenário da Câmara dos Deputados e posteriormente à confirmação por parte do pleno do Supremo Tribunal Federal. No entanto, observar o comportamento dos atores dessa casa legislativa ajuda no entendimento dos desfechos possíveis para o episódio. A lição que fica no momento é: animal político que é, Renan Calheiros curiosamente nunca termina do lado derrotado.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.