As 5 declarações recentes de Bolsonaro que repercutiram mal no mercado

O desânimo pode não significar necessariamente o fim precoce da lua de mel do mercado com o presidente eleito, mas aumenta a incerteza de alguns investidores

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – O Ibovespa renovou sua máxima histórica na segunda-feira (5), aos 88.419 pontos, em uma escalada de otimismo com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), mas declarações desencontradas entre e ele e sua equipe desanimou parte dos investidores e refletiu nos ativos no dia seguinte. Isso não significa o fim precoce da lua de mel do mercado com o presidente eleito, mas aumenta a incerteza em relação a algumas das apostas dos investidores feitas durante o período eleitoral.

A principal delas – e talvez a mais urgente – é a reforma da Previdência. O mercado financeiro viu com bons olhos a intenção do então presidenciável em dar andamento ao projeto que é apontado pela maior parte dos economistas como crucial para colocar as contas públicas em ordem.

Após sua eleição, Bolsonaro deu diversas sinalizações de que encaminharia a reforma e chegou a afirmar que pelo menos uma parte do texto já em tramitação no Congresso poderia ser aprovado ainda neste ano.

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O mercado ficou em festa. No entanto, assim como já acontecia no período de campanha, membros da equipe de Bolsonaro e até seus filhos vêm dando declarações que contradizem suas declarações e têm trazido incertezas. Porém, por enquanto, os investidores seguem otimistas com as perspectivas de reformas, ainda que um passo mais lento do que o esperado. 

Este é um dos destaques, mas não foi apenas as declarações sobre esses temas que suscitaram discussões. Veja abaixo as declarações recentes de Bolsonaro e sua equipe que deixaram o investidor com o pé atrás: 

1 – Reforma da Previdência
Depois de alimentar esperanças dos investidores ao declarar que tentaria aprovar a reforma neste ano, Bolsonaro disse que não é bem assim. Bolsonaro afirmou na segunda-feira, 5, em entrevista à TV Bandeirantes, que ainda “não está batido o martelo” sobre a reforma da Previdência com o economista Paulo Guedes, seu futuro ministro da Economia.

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Ele disse ver com “desconfiança” a ideia de Guedes de substituir o modelo atual, no qual quem está trabalhando paga, com suas contribuições, o salário de quem se aposentou, por um que pressuponha uma poupança individual do trabalhador – chamado de regime de capitalização.

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“Não está batido o martelo, tenho desconfiança. Sou obrigado a desconfiar para buscar uma maneira de apresentar o projeto. Tenho responsabilidade no tocante a isso aí”, afirmou Bolsonaro. “Quem vai garantir que essa nova Previdência dará certo? Quem vai pagar? Hoje em dia, mal ou bem, tem o Tesouro, que tem responsabilidade. Você fazendo acertos de forma gradual atinge o mesmo objetivo sem levar pânico à sociedade”, acrescentou.

Apesar de mais “gradual”, Bolsonaro disse na segunda-feira achar que é possível aprovar algo da reforma ainda este ano. No entanto, seu filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse nesta terça-feira (6) que acha difícil a aprovação ainda este ano. “Acho difícil aqui pelo tempo”, afirmou.

2 – Comércio exterior
Pegou mal em alguns setores econômicos a declaração de Bolsonaro de que pretendia mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. A primeira reação veio do governo egípcio, que cancelou uma uma visita que o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, faria ao país entre os dias 8 e 11 de novembro. Cabe destacar que é incomum o cancelamento de compromissos de diplomatas em cima da hora.

Se concretizada, uma eventual retaliação dos países árabes ao Brasil teria impacto negativo nas exportações brasileiras a médio prazo, especialmente de carnes, segundo especialistas em comércio exterior ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo. O Brasil é o maior exportador de carne Halal do mundo, isto é, com os animais abatidos sem sofrimento, seguindo os preceitos da religião muçulmana.

“Não acredito em rompimento de relações diplomáticas e comerciais, mas os árabes poderão preferir outros concorrentes brasileiros, não certificar novas plantas para o abate Halal ou não renovar a certificação”, alerta Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério de Indústria e Comércio. Ele destaca que o mercado árabe paga preço adicional pelo produto Halal.

Diante da polêmica levantada, Bolsonaro buscou acalmar os ânimos, embora não tenha voltado atrás. Ele disse que não é “questão de honra” mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Ele reafirmou que existe essa vontade, mas que a questão será discutida pelo próximo chanceler brasileiro, que ainda não foi escolhido.

“Todo mundo fala que nós não devemos nos meter nas decisões de outros países. Se Israel resolveu mudar sua capital de local, não sou eu que mudei. Você tem que respeitar isso aí. Agora, para mim não é motivo de honra isso aí. É motivo de respeitar uma nação soberana. Nós pretendemos levar isso avante. Vamos conversar. Não tenho o nome do meu embaixador para me orientar nessas questões, mas como regra eu vejo que você tem que respeitar as decisões soberanas de outros países”, disse Bolsonaro.

Ao ser questionado sobre o assunto nesta terça-feira (6), Bolsonaro não quis comentar o cancelamento de visita oficial do governo brasileiro feito pelo Egito e apenas reagiu: “Não, não. Outro assunto aí. Outra pergunta”, disse a jornalistas.

A XP Investimentos informou, por meio de nota, que “ainda que nada tenha sido confirmado, a mesa de Commodities chama a atenção para os possíveis impactos futuros desta medida ao agronegócio brasileiro, seja por parte do Egito ou por parte de algum dos outros países envolvidos no conflito Palestina/Israel”. O Egito foi o terceiro maior comprador da carne bovina brasileira, 146,95 mil toneladas e participação de 12,1%.

3 – Dívida pública
Bolsonaro disse em entrevista à Band que a dívida interna brasileira não é impagável, mas precisa ser renegociada. “Quem nos botou nesta dívida monstruosa foi, lá atrás, FHC, quando na metade do seu governo de oito anos, botou a taxa Selic na casa dos 60%. Nós nos endividamos barbaramente”, disse Bolsonaro. “O próprio Lula, quando assumiu em 2003, nossa dívida interna era R$ 600 bilhões, pouca coisa. Hoje são R$ 3,7 trilhões. Não vou dizer que é impagável, para você pagar isso daí se você tiver um bom ministro da Economia, como temos o Paulo Guedes, para conduzir essas renegociações de forma bastante responsável e mostrar para todos no Brasil que estamos, sim, no mesmo barco.”

Sua declaração foi refutada por Guedes menos de 24 horas depois. “Durante a campanha, falei que tínhamos uma despesa de juros demasiada. Não é razoável o Brasil gastar US$ 100 bilhões em juros ao ano. Isso é reconstruir uma Europa por ano. Então falei tantas vezes que juros são excessivos que o presidente talvez tenha falado ‘ah, então vamos renegociar’. Mas isso está fora de questão. Não se pensa nisso, isso não existe. Não é um problema. Isso não existe. O que existe é uma preocupação com a dívida”, afirmou.

4 – IVA
Marcos Cintra, assessor de Paulo Guedes, criticou a adoção do IVA (Imposto sobre Valor Agregado) e defendeu a aplicação de uma alíquota reduzida sobre toda transação nas contas bancárias, como o modelo da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).

Em resposta, Bolsonaro disse que não vai tolerar críticas públicas de pessoas que fazem parte ou que assessoram a equipe do futuro governo. “A decisão que eu tomei, quem criticar qualquer um de nós publicamente [eu] corto a cabeça”, disse ele.

“Esse cara já foi deputado e está lá na equipe de transição. Já conversei com ele para não falar aquilo que não tiver acertado com o Guedes e comigo. Parece que tem certas pessoas que, se é a verdade a informação, não pode ver uma lâmpada que se comporta como mariposa”, disse Bolsonaro em entrevista à Band. Apesar da declaração não ter tido um impacto direto no mercado, mostra que há conflitos entre a equipe econômica e Bolsonaro. 

5 – CPMF, de novo
Relacionada ao item anterior, a declaração depois reiteradamente negada de seu guru econômico, Paulo Guedes, sobre a possibilidade de recriação da CPMF para ajustar as contas públicas ainda reverbera negativamente. Na segunda Bolsonaro negou, mais uma vez e com veemência, a possibilidade de recriação de um imposto nos moldes da CPMF.

“Não existe recriação de CPMF. Muito menos uma hipótese absurda dessas, uma CPMF de 0,9%. Porque no meu entender toda a cadeia produtiva é onerada mais de uma vez. Vai virar um inferno aqui o Brasil. Nós não queremos salvar o Estado quebrando o cidadão brasileiro”, afirmou Bolsonaro em longa entrevista, ao vivo, concedida nesta segunda-feira (5) ao jornalista José Luiz Datena, da Band TV.

“Às vezes algum colega pensa apenas em números. Como um jogou aí ‘vamos criar uma CPMF de 0,45%, paga quem recebe e quem também saca’. Eu falei ‘negativo’. Isso tudo está sendo muito bem organizado, conduzido, pelo Paulo Guedes e a gente sempre puxa a orelha de um ou outro assessor para não ir além daquilo que lhe compete”, acrescentou Bolsonaro.

Vale lembrar que a parceria entre Bolsonaro e seu guru econômico liberal ajudou a carimbar o passaporte do presidente eleito durante a eleição e uma eventual crise nessa relação causaria forte impacto negativo no mercado financeiro. É preciso acompanhar com atenção se a dupla, e o restante da equipe de transição, irá afinar o discurso nos próximos dias. 

Bônus – IBGE, Bolsonaro e desemprego 
Esse episódio não gerou mal-estar propriamente no mercado financeiro, mas sim dentro do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Bolsonaro chamou de “farsa” os números de desemprego no País e divulgados mensalmente pelo órgão, vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e fundado em 1934.

Os servidores interpretaram que Bolsonaro demonstrou, com suas declarações, completo desconhecimento do conceito de emprego, e também da metodologia utilizada pelo corpo técnico, que segue padrões internacionais.

Em entrevista à Band, Bolsonaro disse que pretende mudar a forma como se calcula oficialmente o número de desempregados. “Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil. O que está aí é uma farsa”, afirmou, sem citar especificamente o IBGE, mas respondendo a uma pergunta sobre os últimos dados do instituto referentes à contínua queda do desemprego. Veja mais sobre o assunto clicando aqui. 

(Com Agência Brasil e Agência Estado)

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