As 10 coisas que você achou que não iria ver (mas acabou vendo em 2015)

Senador e grandes empresários presos, processo de impeachment logo no primeiro mandato, cidade embaixo da lama em Minas e bilionários "sumidos" na China: 2015 foi um ano de grandes surpresas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O ano está nas suas horas finais. E, durante todo 2015, as surpresas foram bastante grandes, principalmente para os brasileiros. A Operação Lava Jato, que pegou boa parte de 2014, foi emblemática até os últimos dias de 2015, e bastante definidora dos rumos políticos. Político e grandes empresários foram presos enquanto que vários grandes nomes de diversos partidos políticos foram (e são) alvos de investigação.

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Além disso, uma tragédia fez com que o Brasil ficasse perplexo: o rompimento da barragem de rejeitos da Samarco, em Mariana (MG). No cenário internacional, algo bastante curioso e inesperado aconteceu na China, com o “desaparecimento” de diversos bilionários. Confira o que surpreendeu em 2015:

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1 – Senador e grandes empresários presos

Delcídio Amaral

 O final do ano reservou diversas surpresas para o noticiário político brasileiro. No final do mês de novembro, mas precisamente no dia 25, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou a prisão de um senador da República em seu exercício no cargo pela primeira vez desde a redemocratização, em 1985.

Trata-se do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) que, inclusive, não figurava de forma ostensiva o noticiário político-policial da Operação Lava Jato, o que levou a uma dupla surpresa. Porém, tudo mudou após a gravação de uma conversa entre o político e o filho do ex-diretor internacional da Petrobras e delator da Lava Jato Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, em que Delcídio oferecia um plano de fuga mirabolante. Em troca, Cerveró não o delataria e nem citaria André Esteves, então presidente do BTG Pactual, e que também chegou a ser preso. Atualmente, o ex-banqueiro está em prisão domiciliar. 

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Além de Delcídio e Esteves, outras prisões foram bastante emblemáticas, dentre elas, a de presidentes e diretores de grandes empreiteiras no âmbito da Lava Jato. Em 19 de junho, a Polícia Federal deflagrou uma ação emblemática, que culminou na prisão dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, além de outros dez executivos. A Andrade Gutierrez fechou acordo de leniência.

2 – Impeachment logo no primeiro ano de governo 

Dilma Rousseff e Eduardo Cunha

Logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff naquela que foi a eleição mais disputada, já havia indicações de que o primeiro ano de seu segundo mandato seria bastante complicado, ainda mais por conta do cenário econômico bastante difícil que estava por vir, com alta da taxa de desemprego, aumento da inflação e queda da atividade.

Porém, além dos números surpreenderem para baixo, também poucos imaginariam que um pedido de impeachment contra a presidente poderia ser aceito logo no primeiro ano do mandato (pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha), unindo descontentamento popular e o descontentamento do próprio Cunha, alvo na Operação Lava Jato. Outro fator surpreendente foi o fato de que o pedido mais emblemático foi feito justamente por um fundador do PT, Hélio Bicudo.

Ele foi vice-prefeito de São Paulo durante a gestão de Marta Suplicy e desfiliou-se do partido em 2005 devido ao mensalão, virando um grande crítico da legenda. Além de Bicudo, a advogada Janaína Paschoal e o ex-ministro da Justiça no governo FHC Miguel Reale Jr. assinam o pedido que, em 2 de dezembro de 2015, Cunha acatou. 

3 – Ministra joga vinho na cara de senador

Kátia Abreu e José Serra

Os brios entre os políticos estiveram bem acirrados neste ano de 2015. E não houve uma representação tão perfeita dos ânimos exaltados do que a discussão entre a ministra da Agricultura Kátia Abreu (PMDB-TO) e o senador José Serra (PSDB-SP) em jantar em Brasília no início do mês. 

Kátia Abreu jogou uma taça de vinho na cara do senador após ele tê-la chamado de “namoradeira”. A ministra confirmou o fato pelo Twitter e afirmou: “reagi a altura de uma mulher que preza sua honra. Todas as mulheres conhecem bem o eufemismo da expressão ‘namoradeira'”. Ela disse pela rede social que o ato “foi infeliz, desrespeitoso, arrogante e machista” e que “a reclamação de vários colegas senadores sobre suas piadas ofensivas são recorrentes”. Serra alegou ter feito uma “brincadeira com intenção de elogio”. “Me desculpei. Sempre tive respeito pela Katia”. 

A notícia teve grande repercussão, até mesmo internacional. O jornal americano New York Times destacou os nervos exaltados dos políticos. 

4 – E ainda mais confusões na política…

Tumulto na Câmara

Além desta, mais agressões agitaram a vida política neste ano de 2015. Duas em especial chamaram a atenção, ocorrendo no último mês de 2015. No dia 8 de dezembro, durante votação para determinar a Comissão Especial do Impeachment (que foi anulada posteriormente pelo STF) deputados trocaram xingamentos e até agressões físicas. Empurra-empurra, troca de ofensas, cabeçadas, quebra-quebra de urnas no plenário da Câmara dos Deputados surpreenderam, no que foi definido por muitos como um dia para se esquecer na Casa. 

E não acabou por aí: no dia 10, deputados se exaltaram durante reunião no Conselho de Ética. Os  deputados Zé Geraldo (PT-PA) e Wellington Roberto (PR-PB) trocaram ofensas, tapas e tiveram que ser contidos por colegas e seguranças da Câmara. A discussão teve início quando Wellington afirmou que a votação no colegiado de um projeto de resolução pedindo a retirada do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do cargo era golpe.

“Você mete a mão em mim. Me respeite. O senhor chamou de moleque todo mundo aqui, de turma do Cunha. Quem tem turma é ladrão”, esbravejou Wellington. “Fale o que quiser. Aceito tudo, menos você me tocar”, gritou o petista. “Macho nenhum vai tocar em mim”, reagiu aos gritos Wellington Roberto. 

5 – 2015 foi o ano das cartas

Michel Temer (Dilma ao fundo)

Não é algo inédito um vice-presidente se indispor contra o titular do cargo. Mas, mesmo assim, não deixa de ser um fato-surpresa. No início de dezembro, Michel Temer enviou uma carta de três páginas à presidente Dilma Rousseff em tom de desabafo e mostrou a sua insatisfação com o seu papel exercido desde que assumiu o cargo de vice, em 2011, enumerando uma série de episódios em que se sentiu colocado de lado das decisões governamentais. A carta deu muito o que falar e deflagrou (ainda mais) a divisão interna no PMDB entre os pró e os anti-impeachment.

Neste cenário, outra carta (ou um rascunho dela) apareceu. Em meio a um embate político entre Temer e o presidente do Senado Renan Calheiros, o senador chegou a fazer um esboço de seus escritos e pediu a opinião de colegas no plenário. Ele disse que iria sugerir ao vice que, se perdesse o cargo, Temer poderia pensar em outros empregos, como “mordomo de filme de terror ou carteiro”. Mas não enviou nada. 

6 – Cunha e a Lava Jato

Eduardo Cunha

O ataque sempre foi a melhor defesa para Cunha. Mas, além das suas estratégias na Câmara dos Deputados, algumas curiosidades deflagradas este ano chamaram a atenção. Dentre elas, o parlamentar possui 288 domínios de sites registrados em seu CPF, a maioria deles com conotação religiosa. Das 288 páginas vinculadas a Cunha, 175 têm Jesus na URL. Cunha ainda tem um Porsche em nome de uma de suas empresas, a Jesus.com. Falando em carros, ao realizarem operação de buscas e apreensão na casa do presidente da Câmara dos Deputados, agentes da Polícia Federal avistaram estacionado na garagem um táxi branco, com placa de Nilópolis (cidade na Baixada Fluminense). O carro está registrado em nome de Altair Alves Pinto, cuja casa no Rio também foi visitada pelos policiais. Cunha confirmou que usa o táxi de Altair, acusado de receber propina. “Eventualmente o Presidente aluga o veículo para prestar serviços gerais”, afirmou.

Além disso, um dos delatores da Lava Jato, Fernando Baiano, afirmou que Cunha tratava de propina por e-mail através do endereço sacocheio@. “Que questionado qual e-mail Eduardo Cunha utilizou, o depoente afirma que chamava a atenção que o endereço de e-mail consistia na expressão “sacocheio@”, sendo algum provedor que não se recorda com certeza qual era: que acredita que fosse sacocheio@hotmail.com, sacocheio@yahoo.com.br ou sacocheio@yahoo.br”, registra trecho do depoimento do delator. 

7 – Rompimento de barragem

Desastre Mariana

Quem poderia imaginar que uma barragem de rejeitos seria rompida e levaria a um rastro de destruição numa cidade brasileira? Isso aconteceu em novembro, com o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana (MG). As causas e os impactos do derramamento de pelo menos 34 milhões de metros cúbicos de lama no meio ambiente, segundo o Ibama, ainda estão sendo levantadas. Além disso, o tamanho do estrago demorará a ser contabilizado, já que ele ainda não parou. 

A onda de lama, formada após o desastre em 5 de novembro, destruiu vilarejos da cidade histórica de Mariana e só no distrito de Bento Rodrigues deixou mais de 600 desabrigados. De acordo com o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, já foram confirmadas 12 mortes, três corpos aguardam identificação e sete pessoas ainda estão desaparecidas na região. Quatro dias após o rompimento da barragem, o Ministério Público enviou documento à Samarco, joint venture entre a Vale e a BHP, pedindo ações imediatas de garantia dos direitos das vítimas, entre elas o pagamento de um salário mínimo por família atingida, mais um adicional de 20% para cada um dos dependentes e cesta básica. Depois de destruir o Rio do Carmo, próximo a Mariana, a lama chegou ao Rio Doce e ainda causa transtorno na captação de água em muitas cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo. 

8 – Buffett perdeu a áurea?

Warren Buffett

Oráculo de Omaha, o bilionário Warren Buffett enfrentou um ano bastante complicado. A relação entre ele e Wall Street se tornou abertamente mal-humorada: investidores alfinetam Buffett e, em suas últimas 25 cartas, ele alfinetou Wall Street em 17. “Ainda assim, muitas dessas mesmas pessoas também dizem que Buffett se esconde atrás da imagem de um homem de negócios camarada e benevolente enquanto busca os mesmos negócios para maximizar lucros que os alvos de alguns de seus ataques”, conforme destacou o Wall Street Journal em matéria de novembro.

Além disso, Buffett enfrenta o pior ano no mercado de ações desde 2009, conforme ressalta matéria do Financial Times. As ações de seu conglomerado Berkshire Hathaway mostravam queda de 11% a dois dias do último pregão anual. E isso justamente no 50º aniversário dele no comando da empresa. A queda ocorre em meio às avaliações negativas do mercado sobre a empresa e de como ela fará para superar a queda das commodities. 

9 – Bilionários “somem” na China

Guo Guangchang

Algo surpreendente aconteceu este ano na China: o desaparecimento de alguns bilionário. Nos últimos 12 meses, figuras importantes do China Minsheng Banking, da China Aircraft Leasing e das corretoras Founder Securities e Guotai Junan desapareceram sem qualquer explicação inicial. Ausências semelhantes atingiram a rede de lojas de departamentos Ningbo Zhongbai e a gestora de resíduos Dongjiang Environmental.

O último deles foi  Guo Guangchang, da Fosun, no início de dezembro, que reapareceu em um encontro de acionistas após o sumiço, durante o qual teria cooperado em uma investigação das autoridades. Nos últimos meses, as autoridades chinesas mantêm um verdadeiro escrutínio sobre o setor financeiro do país desde que, entre junho e o dia 09 de julho, a bolsa de Xangai desvalorizou 30%, depois de ter avançado 150% no período de um ano. No último dia 27 de novembro, foi revelado que as principais corretoras do país estavam sob investigações regulatórias: a repressão financeira tem se intensificado nas últimas semanas e envolveu uma destacada gestora de fundos hedge e o vice-presidente da comissão reguladora.

Porém, conforme informa o jornal Económico, de Portugal, essa campanha anti-corrupção tem sido vista por analistas como uma forma do presidente Xi Jinping reforçar o seu poder sobre o Partido Comunista e sobre os empresários. Isso porque, embora seja membro de um conselho consultivo do regime chinês, o bilionário não é militante do Partido Comunista Chinês, ao contrário do CEO da Fosun, Liang Xinjun, ou de outros nomes de alto escalão do grupo.

10 – WhatsApp paralisado

WhatsApp

Por doze horas, o aplicativo WhatsApp saiu do ar no Brasil em 17 de dezembro, o que gerou uma mobilização nacional e internacional (como de Mark Zuckerberg). A princípio,  as operadoras de celular foram intimadas a bloquear o Whatsapp em todo o território nacional por 48 horas. O processo envolvia o Primeiro Comando da Capital (PCC) e um integrante da facção chamado Ricardo Rissato Henrique, preso pela Polícia Civil paulista em 2013. Segundo policiais que atuam contra a organização criminosa, um dos objetivos foi obrigar que o “Estado Maior” da quadrilha – designação que se dá ao topo da hierarquia onde estão as lideranças presas como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola – a usar celulares para fazer ligações em vez de mandar mensagens instantâneas por meio de aplicativos.

Porém, a decisão foi revogada, e os que utilizaram o aplicativo comemoraram: de acordo com a decisão do desembargador Xavier de Souza, “em face dos princípios constitucionais, não se mostra razoável que milhões de usuários sejam afetados em decorrência da inércia da empresa” em fornecer informações à Justiça. Mas muita gente sentiu muita falta do aplicativo nas poucas horas em que ele ficou fora do ar. 

(Com Reuters, Agência Brasil e Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.