Armamento rural, creche 24h, laqueadura: o que defendem as candidatas à vice-presidência

Debate entre candidatas mulheres à vice-presidência bate nas teclas de salários mais baixos, responsabilidades domésticas e papel "decorativo" 

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Decorativas, as candidatas à vice-presidência não querem ser. Essa foi a conclusão principal do debate realizado nesta sexta-feira (28) com Ana Amélia, candidata a vice pela chapa de Geraldo Alckmin; Kátia Abreu, da chapa de Ciro Gomes; Manuela d’Ávila, da chapa de Fernando Haddad e Sonia Guajajara, da chapa de Guilherme Boulos.

Com temática voltada a direitos da mulher no Brasil, a discussão ocorreu no auditório do Ibmec em São Paulo, com organização do Instituto Locomotiva, ONU Mulheres e El País, aproveitando o fato de que 4 candidatas à vice-presidência são mulheres – um número inédito.

Ficou em evidência ao longo de todo o debate as questões trabalhistas, principalmente desigualdade salarial e jornada dupla (emprego e obrigações domésticas). Nesta frente, todas as candidatas se disseram dispostas a realizar ações para incentivar a lei, já existente, que exige que empresas equilibrem os salários internamente entre os gêneros masculino e feminino.

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Para além deste compromisso, confira algumas das propostas que ficaram em destaque para cada uma das candidatas. Também é possível assistir ao debate por completo no player acima.

Ana Amélia (Geraldo Alckmin)

A candidata do PP que compõe a chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) focou no fato de Alckmin ter assinado um documento da ONU Mulheres chamado “Brasil 5050”, iniciativa que busca igualdade de gênero até 2030. A resposta de Ana Amélia para grande parte das questões da plateia passou pelo compromisso com o documento.

Além desta agenda, a candidata citou também o fato de mulheres só poderem realizar o procedimento de laqueadura com autorização dos maridos, enquanto a vasectomia é liberada a qualquer homem. A mudança desta regra foi mencionada pela candidata como medida contraceptiva quando a pauta era descriminalização do aborto.

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Sobre a pauta salarial, abordou a ideia de equidade como uma forma de “marketing” para as empresas que tiverem boas práticas em inclusão. “Empresas que têm responsabilidade social já seguem esta cartilha”, disse.

Kátia Abreu (Ciro Gomes)

A vice do candidato do PDT foi surpreendida com um questionamento sobre declaração feita tempos atrás a respeito do desarmamento. Ela reiterou que apoia o armamento da população rural, mas é contra o porte de armas pela população urbana. “São casos diferenciados para o setor agropecuário”, disse, lembrando que já teve uma arma em casa como “autoproteção” quando morava sozinha na roça e não tinha “telefone para ligar para o 190”.

Na frente de segurança, a senadora disse que o governo de seu candidato tipificaria a segurança pública em três frentes: crime organizado; crime comum e crime contra a mulher. Também falou sobre a obrigatoriedade de comprovação contábil de empresas de grande porte para estimular o pagamento de salários iguais para homens e mulheres. “Criaremos um selo de reconhecimento, como existe hoje o selo ambiental”, disse.

Ao longo de todo o discurso, Abreu vendeu a candidatura de sua chapa como uma alternativa que supostamente seria capaz de terminar com a “polarização entre coxinhas e mortadelas”.

Manuela d’Ávila (Fernando Haddad)

Candidata a vice na chapa de Fernando Haddad (PT), Manuela d’Ávila citou indiretamente o candidato Bolsonaro mais de uma vez, acusando-o de ser antidemocrático, “inimigo das mulheres” e “não ter compromisso nenhum com a construção das bases para a igualdade”.

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Segundo ela, a candidatura de sua chapa prevê a retomada dos direitos de trabalhadoras e trabalhadores pela revogação da Reforma Trabalhista e a melhoria das condições das mulheres no mercado de trabalho pela ampliação da rede de creches e de seu horário de funcionamento. “Quando o estado falta, quem sofre são as mulheres. Se com a CLT nós já tínhamos o trabalho precarizado, sem ela, as mulheres são jogadas à miséria”, disse d’Ávila. E complementou: “é muito fácil para um candidato homem dizer que tem estado demais”.

Quanto à frente de violência, Manuela citou a estruturação da rede de proteção prevista na Lei Maria da Penha, além do enfrentamento à cultura do estupro. Para ela, é importante que crimes de feminicídio e estupro sejam tipificados, mas mudar a mentalidade da população é essencial para que estes tipos de crime de fato deixem de ocorrer.

Sonia Guajajara (Guilherme Boulos)

Representante indígena no debate, a candidata à vice-presidência pela chapa de Guilherme Boulos falou sobre genocídio de sua etnia e chegou a criticar nominalmente a pecuarista Katia Abreu ao mencionar um modelo de desenvolvimento que, segundo ela, “mata pessoas” ao desapropriá-las em conflitos fundiários. “A gente tem que enfrentar e romper com um modelo de desenvolvimento que se preocupa com o desenvolvimento econômico, Kátia, mas não se preocupa com pessoas que estão morrendo”, disse.

Guajajara disse que um governo Boulos puniria empresas que paguem menos às mulheres através de uma “lista suja do machismo”. Assim como Manuela d’Ávila, a candidata de Boulos disse que sua chapa tem intenção de revogar a Medida Constitucional 95, do teto dos gastos, para melhorar os serviços públicos – citando também creches 24h, “porque algumas mulheres precisam trabalhar à noite”, e investimento em escolas. Ainda em educação, falou em acabar com o programa Escola Sem Partido: “temos que estimular a discussão de diversidade de gênero nas escolas”, complementou.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney