Aprovação do plano ajuda, mas não resolve: ameaça de incertezas continua

Pacote anti-crise sozinho não é suficiente e cenário pede cautela com proximidade das eleições e possíveis mudanças políticas

Giulia Santos Camillo

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SÃO PAULO – Após a rejeição da versão inicial do pacote de resgate na última segunda-feira (29), tudo aconteceu muito mais rápido nos EUA. Foram quatro dias de tensão, nos quais os líderes do governo alteraram o plano, que em seguida foi aprovado pelo Senado e, enfim, colocado novamente à prova na Casa dos Representantes.

A ajuda – e todas as emendas acrescentadas a ela – foram aprovadas pelos congressistas nesta sexta-feira (3), com 263 votos a favor e 171 contra, sendo que grande parte da oposição partiu dos Republicanos, como visto na primeira votação. Dessa forma, o presidente George W. Bush se apressou a sancionar o projeto e transformá-lo em lei.

Agora que a aprovação do pacote é um obstáculo passado, os olhares se voltam para o futuro. “Eles vão implementar o pacote, o que é uma ação complexa porque terão que elaborar uma estratégia de compra desses papéis podres e estabelecer regras para como será feita essa transação”, explica o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro.

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Há dúvidas demais

Todas as incertezas relativas à implementação do pacote e à sua eficiência injetaram ainda mais prudência ao mercado, como pôde ser visto pelo movimento negativo das bolsas norte-americanas (e brasileira) após o resultado da votação. Embora ofereça alívio aos mercados e evite o pior, o consenso é de que a ajuda tardia não representa a solução única para a crise.

“A retomada da confiança, o retorno do crédito e a melhora dos mercados deve ser gradativa e não deve conseguir evitar uma desaceleração mais forte e prolongada das economias desenvolvidas, com impactos para as emergentes, uma vez que os recursos devem ficar escassos, caros e seletivos ainda por algum tempo”, avalia a diretora de câmbio da AGK Corretora, Miriam Tavares.

Para ela, a percepção de todas essas dificuldades fez com que os investidores e players recebessem a aprovação final do pacote sem grande empolgação. Apesar disso, o fato é sem dúvida uma referência positiva, já que a alternativa – a rejeição da ajuda – provavelmente levaria a um agravamento da crise e ao risco sistêmico.

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Republicanos contra

Ao analisar o resultado da votação, é possível ver novamente a forte rejeição do plano por parte dos Republicanos. Dos 171 votos contra, 63 vieram do lado do partido Democrata, de oposição ao governo, e 108 do lado do partido Republicano. Segundo Ribeiro, isso mostra que o partido deixou de apoiar efetivamente o governo Bush.

Mas o importante, de acordo com o analista, “é que a opinião pública norte-americana mudou de atitude em relação ao pacote e se convenceu de que, pior do que ajudar banqueiros, é não fazer nada. E que a essa altura, a situação exigiria que o pacote fosse aprovado. Não é garantia de que a crise será superada, mas enfim, dá uma trégua para toda a turbulência.”

Sem esquecer as eleições

Uma outra fonte de incertezas, até agora relegada a segundo plano diante das preocupações com a votação do Congresso, é o momento político dos EUA. Com a proximidade das eleições presidenciais, que acontecem no dia 4 de novembro, a percepção é de que, a rigor, a execução do pacote vai ficar a cargo do novo secretário do Tesouro.

“Obviamente o secretário do Tesouro em janeiro não será mais o Paulson. Não se sabe quem será, então também esse é um elemento que adiciona incerteza ao cenário. E aí tanto faz: ganhando Barack Obama, é impossível o Paulson ficar. E também acho difícil ele ficar se o John McCain ganhar… até pela forma como ele se afastou do governo Bush nas últimas semanas”, comenta o analista político da MCM Consultores.

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