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SÃO PAULO – Passados 100 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) sofre as consequências de um movimento acelerado de perda de popularidade e distanciamento, tanto entre eleitores que decidiram apoiá-lo tardiamente durante a campanha eleitoral quanto entre seus seguidores mais fiéis.
O tropeço em praticamente todos os segmentos da sociedade levou as avaliações positivas do presidente a níveis similares às intenções de voto que ele tinha dias antes do primeiro turno, em linhas gerais e por segmentos da população.
Na ocasião, início de outubro de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro recebeu 49.277.010 votos, 46,03% dos válidos e 33,45% de todo o eleitorado registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O percentual é levemente superior ao atual patamar de avaliações positivas atribuídas ao governo.
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Embora intenção de voto e avaliação de governo sejam questões distintas, o exercício da comparação oferece hipóteses interessantes sobre o comportamento do presidente e mostra como determinados segmentos da população percebem a atual gestão, de acordo com analistas políticos consultados pelo InfoMoney.
Segundo pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 2 e 3 de abril, o governo Bolsonaro é considerado “ótimo” ou “bom” por 36% dos eleitores e “ruim” ou “péssimo” por 19%. Outros 43% avaliam a gestão regular. Foi o primeiro levantamento feito pelo instituto desde que o pesselista tomou posse.
O Ibope, que fez um levantamento no primeiro mês de governo e outro em meados de março, mostrou que as classificações positivas de Bolsonaro recuaram de 49% para 34% no período. O nível de “ruim” ou “péssimo” saltou de 11% para 24%, enquanto o regular avançou 8 pontos percentuais, para 34%.
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Para fins de comparação, com três meses de mandato, em 2011, a então presidente Dilma Rousseff carregava 56% de avaliações positivas. Tal nível caiu para 48% no sexto mês de gestão, praticamente o mesmo patamar de Bolsonaro no início de seu governo. Também é verdade que o nível de ótimo e bom da petista em março de 2015 era de apenas 12%.
Já Lula tinha 51% de avaliações positivas em seu terceiro mês de mandato. O petista só foi alcançar os 34% registrados por Bolsonaro com um ano de gestão. Sua pior marca foi 29% de ótimo e bom no quarto trimestre de 2005. Naquele período, porém, as classificações negativas do governo eram maiores: 32% de ruim ou péssimo.
“Bolsonaro é hoje um presidente de 1/3. Isso é muita coisa, é o tamanho do PT, mas são 30%. Ele perdeu a maioria que havia conquistado[nas eleições]”, observa Thomas Traumann, consultor de comunicação e pesquisador do DAPP (Diretoria de Análise de Políticas Públicas), da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Um olhar mais detalhado sobre as recentes pesquisas mostra dois movimentos decisivos para a desidratação da popularidade de Bolsonaro. O primeiro desembarque naturalmente ocorreu entre os eleitores menos identificados com a pauta do presidente, que apoiaram em peso a candidatura pouco antes do segundo turno.
É o caso dos homens, grupo em que as avaliações positivas do atual governo caíram de 53% para 36%. Mergulho também se observou entre os eleitores da região Nordeste: de 42% para 23%. Nos recortes por escolaridade e renda, os maiores tombos ocorreram nos níveis mais baixos.
“Na eleição, houve muitos motivos de intenção de voto em Bolsonaro: a questão da segurança, o liberalismo de Paulo Guedes, a pauta de costumes, o antipetismo. Então, ele acabou ficando com apoio maior do que de fato teria”, pontua Carlos Eduardo Borenstein, analista político da Arko Advice.
Para o ele, tal grupo não necessariamente avaliaria positivamente o atual governo. Nesta faixa do eleitorado, o risco de descolamento seria mais elevado – movimento que se confirmou pelos números do Ibope.
Tabela 1: A popularidade de Bolsonaro entre janeiro e março
Fonte: Ibope
“O Ibope mostrou uma deterioração do apoio de Bolsonaro entre as mulheres, na faixa de renda de até 2 salários mínimos e no Nordeste. Tanto que ele anuncia o 13º do Bolsa Família visando uma recuperação destes públicos em que perdeu espaço”, pontua Borenstein.
Dados mais recentes do Datafolha mostram com maior precisão o impacto de uma segunda onda, que começa a atingir fileiras dos seguidores mais fiéis do presidente – caso de eleitores com níveis mais elevados de escolaridade (-19%) e renda (-21%) e de quem vive nas regiões Sudeste (-39%) e Sul (-32%).
A tabela abaixo compara o nível “ótimo” e “bom” atribuído ao presidente no levantamento mais recente por segmentos da população com as intenções de voto registradas em pesquisas feitas pelo mesmo instituto em três momentos da eleição: início da campanha; primeiro turno; e segundo turno.
Tabela 2: O desempenho de Bolsonaro por segmento da sociedade, da eleição aos 100 dias de governo
Fonte: Datafolha
* As regiões Norte e Centro-oeste foram excluídas do levantamento por aparecerem conjuntamente nas pesquisas de avaliação de governo (amostra menor) e separadamente nas pesquisas de intenção de voto.
“No primeiro turno, era um eleitorado mais bolsonarista de fato, e no segundo, os agregados que optaram por ele para não voltar o PT. Há uma diferença maior no segundo turno [em relação ao atual momento] do que no primeiro”, observa Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores.
Para ele, o presidente caminha para patamares próximos ao que tinha na primeira ida às urnas. “Bolsonaro encolheu. Mas é cedo dizer que ele não conseguirá reverter esse o encolhimento, ou, pior ainda, que continuará encolhendo”, pondera o especialista.
Já Leopoldo Vieira, analista político da consultoria Idealpolitik, acredita ser possível que a tendência de queda na popularidade de Bolsonaro continue nas próximas pesquisas.
O peso da economia que não decola
Na avaliação de Vieira, há uma série de elementos que justificam a desidratação de Bolsonaro. Um deles seria a intensa polarização política que marca o início da atual gestão, que deixa parte da sociedade mais pré-disposta a desaprovar o governo, apesar de demonstrações de boa vontade ao final do processo eleitoral.
A persistência de um quadro negativo para indicadores econômicos e sociais, diz Vieira, também produz impactos sobre a avaliação de Bolsonaro, sobretudo entre camadas de menor renda, que em parte passou por uma desilusão com o PT mas espera resultados práticos do novo governo.
Já do lado da base ideológica do presidente, que também erodiu, pode haver uma percepção de que a pauta dos costumes ainda não saiu do discurso para a prática. Além disso, casos envolvendo campanhas eleitorais de candidatos do PSL, partido de Bolsonaro, acusações contra ministros e investigações contra um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), potencializam o efeito.
“A maior parte dos eleitores de Bolsonaro votou contra a corrupção e, nem bem saiu o resultado das urnas, o futuro governo já fora atingido por denúncias. Eles não vão aderir imediatamente à oposição, mas nem por isso vão declarar às pesquisas que estão contentes. Um pouco como com Temer, em muito menor escala, porque a desidratação não foi tão grande e o governo se equilibra jogando no desgaste do Legislativo e no rechaço das práticas do presidencialismo de coalizão”, ressalta Vieira.
O cálculo político de Bolsonaro
Os números das pesquisas podem motivar uma estratégia defensiva de Bolsonaro.
“A tática 1 seria parar de sangrar”, diz Traumann. Para isso, ele acredita que o governo deve concentrar esforços em manter a base bolsonarista coesa.
“Mas não se consegue andar além disso com ela. É bom para manter o governo vivo, mas ele vai precisar de apoios extra-base para passar uma reforma da Previdência, por exemplo. Ele ainda está na fase de acentuar divergências, e não gerar convergência”, complementa.
A efetividade de tal estratégia não é consenso entre os analistas. “Seria um erro focar nos bolsonaristas, porque são minoritários. Essa turma são os 15% que aderiram logo no início da campanha. Podem fazer barulho, mas não sustentam”, contrapõe Ribeiro.
Mesmo com o atual tombo, Bolsonaro continua significativamente maior do que iniciou a campanha eleitoral. Em janeiro do ano passado, o então candidato tinha 19% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
Naquele momento, seus pilares de sustentação eram eleitores do sexo masculino (25%); jovens com idade entre 16 e 24 anos (29%) ou 25 a 34 anos (25%); Ensino Médio (24%) ou Superior (25%) completos; e das regiões Sudeste (22%) e Sul (21%).
Este pode ser um sinal de virtude ou uma indicação de que há mais espaço para perder nos próximos meses.
Tabela 3: Variação de Bolsonaro entre pré-campanha e início de governo
Fonte: Datafolha
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