Após mexer com a Bolsa, CVM monitora uso de pesquisas eleitorais por bancos e corretoras

Fortes oscilações às vésperas da divulgação de pesquisas de intenção de voto chamam a atenção do órgão regulador, que tem duas hipóteses sobre o tema

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As fortes oscilações da bolsa brasileira às vésperas da divulgação de pesquisas de intenção de voto, o que vem ocorrendo desde março, tem chamado a atenção da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão regulador do mercado de capitais no Brasil. 

A possibilidade é de que haja o vazamento de resultados dos levantamentos, já que o mercado vem reagindo antecipadamente, em meio aos rumores que circulam pelas mesas de operação a respeito dos números das pesquisas.

A CVM considera duas hipóteses: a primeira, é de que haja vazamento para a compra ou venda de ativos, o que é considerado passível de punição por ser considerado uso de informação privilegiada. A segunda hipótese é a contratação de pesquisas privadas por instituições financeiras para monitorar a situação dos candidatos às vésperas da divulgação de um levantamento público e, deste modo, antecipar os movimentos do mercado.

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A encomenda, conforme destaca reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, parte geralmente de grandes bancos e corretoras e tem um custo elevado, entre R$ 100 mil e R$ 200 mil.

A contratação privada é comum e não representa irregularidade, desde que não seja publicada sem registro. Mas o uso da informação para comprar ou vender ações antecipadamente é questionado pela CVM.

“O uso de informação de resultados de pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos, para conhecimento público, antes de divulgação ao público, pode caracterizar prática não equitativa”, alerta a CVM.

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As sanções previstas vão desde a advertência até a proibição de atuação no mercado, informou a CVM por e-mail.

Pesquisas eleitorais têm de ser registradas no Tribunal Superior Eleitoral com no mínimo cinco dias de antecedência da publicação. Os rumores e as movimentações nos mercados por vezes começam com base em informação sobre o registro de determinada pesquisa no TSE, publicada no site do tribunal. A divulgação de levantamentos sem registro está sujeita à multa de R$ 53,2 mil até R$ 106,4 mil. 

Cenário
A Bolsa, influenciada pelas ações de estatais, passou a reagir em alta com a perspectiva de queda na intenção de voto na presidente Dilma Rousseff. Na visão de investidores, uma eventual mudança de governo seria favorável aos negócios por significar menor intervenção na economia.

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Na eleição de 2002, a CVM decidiu estabelecer uma deliberação sobre o tema (n.º 443). “Havia muita volatilidade nos mercados e as pessoas aproveitavam para especular com as pesquisas”, afirmou o advogado Luiz Leonardo Cantidiano, ex-presidente da CVM, responsável pelo estabelecimento das normas na época.

A CVM determinou que analistas, consultores, gestores de carteiras e companhias abertas precisam informar caso contratem pesquisas que não sejam apenas para seu conhecimento exclusivo. A comunicação tem de ser feita à CVM no prazo de 24 horas da contratação da pesquisa, sob pena de multa de R$ 1 mil por dia de atraso.

Além disso, a norma estabelece que o uso de informações apuradas em pesquisas de opinião pública antes de sua divulgação pelos meios de comunicação pode configurar vantagem indevida, colocando os demais participantes do mercado em posição de desigualdade. Ou seja, pode cair na configuração de informação privilegiada.

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Casos desse tipo já chegaram a ser alvos de investigação pela CVM. Em dezembro de 2002, a CVM abriu processo contra o Bank of America relacionado ao uso de pesquisas eleitorais para a obtenção de lucros. O processo foi arquivado no mesmo ano. Procurado, o Bank of America não comentou o assunto.

“A CVM deve olhar tudo que pode representar tentativa de vantagem e caberia a ela tentar organizar para evitar o uso de informação privilegiada ou manipulação”, diz Cantidiano. As punições vão desde uma advertência simples ou a proibição de atuação no mercado para aqueles que se beneficiarem das informações. 

A influência das pesquisas nos mercados deve perdurar, conforme fontes, até as eleições. “Não me lembro desde a primeira disputa do Lula se falar tanto em política”, diz um executivo de banco. Conforme um gestor, existe correlação de praticamente 100% entre Bovespa e pesquisas nos últimos 40 dias. “O mercado está com pouquíssima liquidez, e oscilando ao sabor das pesquisas eleitorais”, afirmou. As oscilações mais fortes se iniciaram em meados de março, em meio a rumores de que a pesquisa Ibope traria uma queda nas intenções de voto da presidente Dilma. 

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(Com Agência Estado)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.