Após ganhar o Nobel, Shiller questiona: economia é realmente uma ciência?

Aos críticos da economia como uma ciência, prêmio Nobel de Economia avalia que os desafios que esta área de estudo não são tão diferentes de outras áreas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meados de outubro, o economista Robert Shiller, em conjunto com Eugene Fama e Lars Hansen, ganhou o prêmio Nobel de Economia. O trabalho envolve uma análise empírica sobre o preço dos ativos, conforme destacou a Real Academia de Ciências da Suécia na época da premiação. 

Porém, ainda há muitos que questionam se a economia realmente deveria ser “agraciada” com estas premiações, uma vez que muitas vezes ela é considerada uma área de estudos que leva em conta muitas questões subjetivas e, se levada em conta apenas questões objetivas, ela corre o risco de se tornar mais “tortuosa” e inconclusiva ainda.  

Consciente disso, em seu primeiro artigo na coluna do Project Syndicate após ganhar o prêmio, Shiller questionou alguns aspectos da economia e se ela realmente é uma ciência, destacando que está bem consciente das críticas ao prêmio por aqueles que negam que ela seja, ao contrário da física, química e medicina, entre outros. “Será que os críticos realmente estão certos?”, destacou.

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Shiller ressalta que um dos problemas da economia é de que ele serve mais como um guia para as atuações políticas, sendo que ninguém se importa muito com os dados exceto nestes casos. O economista ressalta que os fenômenos econômicos não exercem o mesmo fascínio como o funcionamento de vesículas e outras organelas de uma célula viva. “Julgamos economia com o que ele pode produzir. Como tal, a economia é um pouco mais parecida com engenharia do que física, mais prática do que espiritual.”, destacou.

E ressalta que, quando há política envolvida, muito do que não é considerado “ciência” acaba entrando no jogo e chamam muito mais a atenção do mercado. Porém, o Prêmio Nobel, avalia Shiller, “foi feito para recompensar aqueles que não usam truques para chamar a atenção e que, na sincera busca pela verdade, poderiam ser menosprezados”.

Por que “ciências econômicas”?
Shiller questiona ainda o porque do prêmio Nobel ser de “ciências econômicas” ao invés de ser apenas de economia, ao contrário de outras áreas laureadas. Campos de estudo com que usam “ciência” em seu título tendem a ser aqueles que há massas de pessoas emocionalmente envolvidas, nas quais os malucos parecem ter algum espaço na opinião pública, ressalta o economista.

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O termo ciência política se tornou popular no século XVIII para distinguir dos setores partidários e tentar aumentar a influência daqueles que tentavam fazer um trabalho “buscando a verdade”. E ciência astronômica era um termo comum no final do século XIX, para se distinguir da astrologia e do estudo dos mitos antigos sobre as constelações. Assim, os cientistas tiveram que se anunciar como tais. 

No mesmo sentido, até mesmo a ciência química era um campo usado para diferenciar o estudo sério da promoção de “charlatões”. Mas este uso estava desaparecendo mesmo antes da instituição do Prêmio Nobel, em 1901. E os termos ciências astronômicas e ciência hipnótica perderam força ao longo do tempo, “talvez porque a crença no oculto diminuiu à medida que a sociedade avançava”, destacou. “Ainda há horóscopos nos jornais, mas ele perdeu toda a sua moeda intelectual”, aponta.

Assim, os críticos da ciência econômica acreditam que há o desenvolvimento de uma “pseudociência” da economia, usando truques de ciência, como matemática densa, aponta Shiller. Porém, outras “ciências”, tidas como mais exatas que a economia, também sofrem do mesmo problema. 

“Minha crença é que a economia é um pouco mais vulnerável do que as ciências físicas para testar modelos cuja validade nunca será clara, pois a necessidade de aproximar os modelos é muito mais forte. Especialmente se levado em conta que os modelos descrevem as pessoas, em vez de ressonâncias magnéticas ou partículas fundamentais. As pessoas podem simplesmente mudar seus modos de pensar e agir completamente. Eles ainda têm neuroses e problemas de identidade, fenômenos complexos que o campo da economia comportamental tem sido relevante para a compreensão de resultados econômicos”, destaca.

Porém, aponta, nem toda matemática na economia é charlatanismo e há um importante lado quantitativo que não pode ser deixado de lado, aponta. Deste modo, o grande desafio é unir o lado matemático com os ajustes que devem ser feitos “no lado humano da economia”. E ressalta que a economia tem os seus próprios problemas metodológicos, mas não tem desafios fundamentalmente diferentes daqueles enfrentados por outros pesquisadores de outros campos.

“Com a economia se desenvolvendo, ela vai aumentar seu repertório e as suas evidências, e os charlatões serão expostos”, conclui Shiller. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.