Após condenação, maior risco a Lula pode estar dentro do próprio PT

Com o ganho de celeridade do processo, partido terá que mostrar mais do que nunca coesão em torno da candidatura do ex-presidente

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Um dia após ter condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro confirmada por unanimidade pelos desembargadores da 8ª turma do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e pena aumentada para 12 anos e 1 mês de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT confirmaram sua pré-candidatura pelo partido ao Palácio do Planalto.

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O evento era largamente esperado. Contudo, o que chamou atenção foi a insistência com que o ex-presidente tratou a necessidade de apoio de todos os membros da legenda em torno da candidatura. “Espero que essa candidatura não dependa do Lula”, disse o ex-presidente. “Essa candidatura só tem sentido se vocês forem capazes de fazê-la mesmo que aconteça uma coisa indesejável”.

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Pela atual jurisprudência do STF (Supremo Tribunal Federal) e levando em consideração o que foi colocado pelos desembargadores do TRF-4 durante o julgamento da última quarta-feira, Lula poderia começar a cumprir a pena determinada logo após a avaliação de recurso da defesa, o que deverá ocorrer dentro de 1 ou 2 meses, caso o tempo médio usado pelo Tribunal na avaliação de embargos declaratórios seja respeitado nessa situação. Vale frisar, no entanto, que não há prazos para a conclusão de tal etapa do processo.

Além do maior risco de prisão com a condenação unânime no mérito e dosimetria da pena, o ex-presidente também tende a enfrentar maiores dificuldades para manter de pé sua candidatura à sucessão de Michel Temer. Por mais que hoje lidere com folga as pesquisas de intenção de voto, Lula corre crescentes riscos de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. As expectativas são de que o líder petista possa oficializar candidatura junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no limite do prazo, fixado em 15 de agosto, mas as chances de uma impugnação cresceram.

Ainda no discurso de quinta-feira, Lula disse que o Judiciário, a imprensa e a elite formaram um “cartel” para destruir o PT e impedi-lo de participar do jogo eleitoral. Por isso, ele insistiu: “Ou vocês percebem que o que está sendo julgado é a forma que governamos o País e se organizam, ou o próximo passo será a tentativa de criminalizarem o PT, porque estão tentando dizer que o PT é uma organização criminosa”.

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A inclusão deste ponto direto no discurso do ex-presidente mostra uma preocupação maior na coesão do partido. Trata-se de uma situação complexa: enquanto uma ala mais pragmática do partido pede um maior aceno ao mercado em busca de ganho de musculatura na candidatura presidencial (o que seria, em alguma medida a reedição da Carta ao Povo Brasileiro, embora seus efeitos práticos sejam contestados, com a menor disposição dos agentes financeiros em aderir ao projeto), outros movimentos internos do partido exigem um posicionamento mais à esquerda, mais vinculado às bandeiras históricas do PT.

“Uma nova nuance interessante, que demonstra certa preocupação de Lula em perder apoio interno no PT, foi um trecho de seu discurso em que ele diz que a condenação política contra ele acontecerá depois com o resto do PT”, observa a equipe de análise política da XP Investimentos. “É vital para Lula que não comece a vazar de integrantes do PT que o partido necessitará construir um plano B. Isso demonstraria falta de convicção dos seus companheitos em sua propalada inocência e candidatura”.

“Foi uma fala para sua base histórica, de defesa, de vitimização. A ordem no PT agora é resistir”, concluíram os especialistas em comentário escrito a clientes.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.