Após Bolsonaro falar em “pólvora” em discurso polêmico, embaixador dos EUA exalta militares

Presidente brasileiro fez discurso com indireta a Biden, que havia dito que poderia impor barreiras se nada fosse feito para proteger a floresta amazônica

ANSA Brasil

Publicidade

Após o presidente da República, Jair Bolsonaro, falar em “pólvora” ao se referir ao candidato eleito à Casa Branca, Joe Biden, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, fez uma postagem exaltando o Corpo de Fuzileiros Navais de seu país nesta terça-feira (10).

“O Destacamento de Fuzileiros Navais na Embaixada e nos Consulados dos EUA compartilha [sic] uma longa história e uma relação importante e duradoura com a diplomacia que nos permite construir com segurança uma relação bilateral mais forte com o Brasil. Happy Birthday, @USMC!”, postou com um vídeo em que mostra que os “Marines” são os “maiores do mundo” e estão “sempre prontos” para agir.

A postagem veio cerca de três horas após mais uma polêmica fala de Bolsonaro. O mandatário ainda não reconheceu a vitória do democrata, sendo um dos únicos líderes do mundo a não se manifestar sobre o pleito norte-americano, mas se referiu a uma fala de Biden durante o período da campanha eleitoral. À época, o então candidato havia dito que poderia impor barreiras ao Brasil se nada continuasse a ser feito para proteger a floresta amazônica.

Continua depois da publicidade

“O Brasil é um país riquíssimo. Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizer que se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que nós podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, né, Ernesto [Araújo, chanceler]. Porque quando acabar a saliva, tem que ter pólvora, se não, não funciona. Precisa nem usar a pólvora, mas precisa saber que tem”, disse aos presentes.

Bolsonaro sempre foi um explícito apoiador do republicano Donald Trump e analistas brasileiros apontam que sua visão ideológica é o que não permite que ele parabenize o vencedor das eleições norte-americanas. Com isso, o país fica cada vez mais isolado no cenário internacional.

Outros países aliados de Trump já se manifestaram ou felicitando Biden – caso de Israel, Arábia Saudita, Reino Unido, Polônia e Hungria – ou dizendo que vão aguardar os resultados oficiais – caso do México e também dos “rivais” Rússia e China.

Continua depois da publicidade

Outras polêmicas

No mesmo discurso, Bolsonaro voltou a mostrar seu desprezo às orientações da ciência no combate à pandemia do coronavírus Sars-CoV-2 e voltou a se referir àqueles que estão cumprindo o distanciamento e o isolamento de maneira homofóbica e machista.

“Tudo agora é pandemia. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas. Olha que prato cheio para a imprensa. Prato cheio para a urubuzada que está ali atrás. Temos que enfrentar de peito aberto, lutar. Que geração é essa nossa?”, afirmou aos presentes.

Bolsonaro continuou falando que “tem que acabar com esse negócio, pô”, referindo-se às medidas restritivas para o funcionamento de diversos setores econômicos. “Lamento os mortos, lamento, mas todos nós vamos morrer um dia. Aqui, todo mundo vai morrer”, continuou.

Continua depois da publicidade

Apesar de um ataque hacker ter impedido o envio de dados de quatro estados, incluindo São Paulo, o mais afetado pela crise sanitária de Covid-19, para o Ministério da Saúde desde a última quarta-feira (4), o Brasil soma 162.802 óbitos pela doença e quase 5,7 milhões de infectados desde março. No entanto, com a atualização que deve ocorrer entre essa quarta e quinta-feira (12), o número deve ter uma alta expressiva.

O presidente ainda reclamou que sua vida “é uma desgraça” porque “é problema o tempo todo”. “Não posso nem ir comer um pastel e tomar um caldo de cana em paz, pô”, disse ainda.

Em postagem no Twitter, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, se manifestou sobre as falas do presidente.

Continua depois da publicidade

“Entre pólvora, maricas e o risco à hiperinflação, temos mais de 160 mil mortos no país, uma economia frágil e um estado às escuras. Em nome da Câmara dos Deputados, reafirmo o nosso compromisso com a vacina, a independência dos órgãos reguladores e com a responsabilidade fiscal. E a todos os parentes e amigos de vítimas da covid-19 a nossa solidariedade”, postou em suas redes sociais.